Capítulo 3

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A agente Park Chaeyoung ficou parada, assimilando o ambiente como um todo, memorizando os formatos, esperando que qualquer coisa que imediatamente parecesse fora de contexto chamasse sua atenção. Mas isso não aconteceu, exceto pela grande mancha escura no tapete. Mas já esperava isso. A mulher que havia morrido ali não teve uma experiência de morte pacífica.

Não, houve medo e sofrimento, e finalmente a morte, embora tenha sido silenciosa, já que a flecha havia atravessado sua garganta, privando-a de ar e do grito que ela tinha certeza de que havia ficado preso ali dentro. Vira as fotos da cena do crime. A mulher não estava usando nada além de uma camiseta e uma calcinha branca de algodão ― aquilo era presumivelmente o que usava para dormir ― e seus olhos estavam abertos em horror. Julgando pelo modo como as cobertas estavam jogadas, a vítima estava a meio caminho entre a cama e a janela ― tinha tentado fugir, mas não conseguiu ir muito longe.

Ela não teve muita chance, é claro. Matar com um arco e flecha não requeria uma proximidade. Esse era o objetivo, não era? O assassino não teve que ir muito além da porta, pela qual entrou ao quebrar a fechadura frágil enquanto a mulher dormia.

Chaeyoung abriu uma gaveta da cômoda. Nada. Ali havia uma mochila cheia de itens de vestuário, e havia pasta de dentes sobre a pia, mas, aparentemente, ela não planejara uma longa estadia. Isso, ou a mulher não tinha muitas posses. Havia uma pilha de livros sobre a mesa de cabeceira, e Chaeyoung pegou o que estava no topo. O Doador. Ela o colocou de lado e olhou para os três seguintes:

O Jogo do Exterminador, Correr ou Morrer e O Ladrão de Raios. Ela franziu as sobrancelhas. Chaeyoung não sabia nada sobre a vítima, mas os títulos pareciam escolhas estranhas para uma mulher adulta cujo exame do legista estimou ter entre trinta e cinco e quarenta anos. Chaeyoung os reconheceu como livros direcionados ao público jovem adulto.

Ela avistou algo na lombada do livro O Doador e, ao inspecioná-lo mais atentamente, viu que parecia que um adesivo amarelo havia sido arrancado dali recentemente. O pouco de cola restante ainda estava grudento. Uma etiqueta de preço? Se bem que… aqueles livros estavam bem usados. Talvez tivessem sido comprados em um sebo. Ela inspecionou os outros livros e também encontrou traços visíveis da cola neles, e pequenos pedaços de adesivo amarelo nas lombadas. Hum. Então, eles provavelmente tinham sido comprados no mesmo lugar. Em algum lugar da cidade onde alguém talvez se lembre dessa mulher?

Abriu as capas dos livros uma por uma e viu que a primeira página havia sido arrancada de todos eles. Estranho. Podiam muito bem serem livros que a mulher tinha há anos, antigos favoritos que ela havia trazido consigo para reler.
Ainda assim… pareciam estranhos ali, e isso a estava incomodando. Chaeyoung tirou algumas fotos da pilha de livros sobre a mesa de cabeceira.

— Senhora? Agente Park?

A mulher que apareceu no vão da porta torcendo um pano de prato nas mãos era pequena e magra, devia ter quase setenta anos e seus cabelos loiros eram curtos, na altura da mandíbula. Estava usando um avental, e havia uma mancha na cor vermelho-vivo na saia.

No meio de uma cena criminal sangrenta, a visão era bem perturbadora.

Ela sorriu.

— Sra. Wilcox?

A mulher que ela sabia que era a proprietária da Pousada e Restaurante Larkspur assentiu, olhando em volta nervosa e dando um passo para trás. Chaeyoung a seguiu até o corredor e fechou a porta atrás de si.

— O que aconteceu aqui foi terrível.

Ela balançou a cabeça de maneira afirmativa, engolindo em seco, suas mãos ainda torcendo o pano de prato.

— Oh, eu nem consigo dormir direito pensando nisso. Bem debaixo do meu teto. — Fez uma careta. — Já descobriram alguma coisa sobre a pobre mulher?

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora