Capítulo 48

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— Olá? Jennie? — Jisoo empurrou a porta que já estava levemente entreaberta quando ela chegou ao apartamento de Jennie. Entrou devagar, com cuidado, sentindo a preocupação percorrer sua espinha. — Jennie? — chamou novamente. — É Park Jisoo.

O pequeno estúdio estava limpo e arrumado, a cama, feita e os sapatos, alinhados perto da porta. Apesar da preocupação que Jisoo sentiu ao encontrar a porta aberta e a casa vazia, sorriu diante do óbvio esforço que Jennie tinha feito para transformar seu pequeno apartamento em um lar. Era fofo, adorável e discreto, assim como a garota com quem Jisoo sentiu uma conexão imediata.

Entrou na cozinha minúscula, colocando a sacola de compras sobre a bancada junto com o bolo de banana caseiro.

Quem tem tempo para fazer compras ou cozinhar?, pensara, quando se estava lidando com algo tão transformador como Lisa estava. E, por consequência, Jennie também. Sabia que Jennie a amava, e que as lutas de Lisa seriam delas também. Lisa ficaria na delegacia por algumas horas, então ela comprou algumas coisas no mercado para elas e foi entregar. Quando ficou sabendo sobre o poço de mina, sobre as coisas impensáveis que foram encontradas lá… precisou fazer alguma coisa. E acima de tudo, queria que elas soubessem que não estavam sozinhas.

Tirou as compras da sacola, sua preocupação aumentando quando não ouviu Jennie voltar para casa. Será que tinha ido falar com algum vizinho, talvez? Ou ido a um lugar próximo sem se dar ao trabalho de se certificar de que sua porta estava adequadamente trancada?

— Você está sendo intrometida, Jisoo — repreendeu-se. Talvez fosse seu lado materno, que havia amado e perdido e sempre tiraria as piores conclusões precipitadas quando se tratava de pessoas com as quais ela se importava.

Havia um bloco de papéis na beira da bancada, e ela se aproximou, com a intenção de deixar um recado sobre a comida. Mas já havia um bilhete escrito no topo. Leu a primeira linha, sua preocupação aumentando ao pegá-lo, lendo rapidamente.

Dobrou o bilhete lentamente, colocando-o no bolso antes de sair apressada do apartamento de Jennie.

Quarenta e cinco minutos depois, estava estacionando em frente à sua casa, e vinte segundos depois disso, entrou correndo.

— Rosé? — gritou, jogando sua bolsa e as chaves na mesa ao lado da porta.

— Rosé?

— Oi — ela disse, surgindo da cozinha. — O que houve?

— Eu estava tentando te ligar — falou quando ela se aproximou.

— Desculpe. Eu estava no hospital.
Somchai Manobal teve um ataque cardíaco. Droga, devo ter esquecido de ligar meu celular.

Jisoo parou, arregalando os olhos.

— Somchai Manobal teve um ataque cardíaco? Ai, meu Deus. — Sacudiu a cabeça, incrédula. Isso podia esperar um pouco. Tirou o bilhete do bolso e o entregou para Chaeyoung. — Isso estava no apartamento de Jennie. Ela o deixou para Lisa. Não… não faz sentido. — Pausou. — Faz?

Chaeyoung leu rapidamente, franzindo a testa.

— Matou Driscoll? Amity Falls? Elas… vão fugir juntas?

— Você falou mais cedo com Lisa. Isso faz algum sentido? — O coração dela estava acelerado.

Será que apenas queria que não fizesse sentido? Seriam apenas suas próprias emoções delicadas tentando insistir em dizer que duas pessoas às quais ela havia se apegado não iriam simplesmente embora?

Chaeyoung sacudiu a cabeça.

— Não. Eu peguei o depoimento completo dela sobre a morte de Driscoll mais cedo. — Franziu as sobrancelhas, como se estivesse ponderando se Lisa havia mentido, de alguma forma. Mas logo suavizou a expressão. — Não. Mas Jennie não está atendendo ao celular, então não sei onde Lisa está. Talvez ela tenha se sentido… não sei, responsável pelo ataque cardíaco do avô? Aparentemente, ela o encontrou e alertou a família. Mas isto? — Ergueu o bilhete. — Não. E o quê? Conseguiu uma carona até a cachoeira? — Olhou para o lado, pressionando os lábios. — Aquela garota poderia ter ido até lá correndo, se quisesse.

Jisoo a encarou por um momento.

— Estou com um mau pressentimento, Rosé.

As duas ficaram ali paradas por um instante, tantas coisas flutuando entre elas. A lembrança do momento em que Jisoo mencionou sua preocupação com os hematomas que surgiam em Haewon ― hematomas que eram justificáveis pelos esportes nos quais ela estava envolvida, mas que seus instintos maternais pediram que fosse a uma consulta no médico. O diagnóstico. A briga. A pior perda de todas. O luto inimaginável. Elas se afastando aos poucos…

Contudo, Chaeyoung sempre ouvia a intuição dela. Nunca a fizera sentir boba ou irracional.

— Você precisa ir até lá. Até a cachoeira. Elas precisam de você — ela disse.

Ela a olhou com atenção por mais um instante, assentindo.

— Vou pegar o meu casaco.

Alcançou as chaves dela enquanto sua esposa vestia o casaco e calçava as botas.

— Elas são guerreiras — declarou, mais para acalmar a si mesma, para convencer a si mesma de que estavam bem.

Chaeyoung abriu a porta, hesitando.

Virou para ela, fechou a distância entre elas e segurou seus braços com firmeza.

— A nossa garota era uma guerreira, assim como você, Jisoo. Ela lutou até o fim. Ela ia querer que lutássemos também. Nós paramos de lutar. Por nós. Precisamos começar de novo. Eu não vou perder você.

A voz de Chaeyoung estava tão cheia de emoção que um bolo se formou no peito de Jisoo, tão grande que não conseguia respirar. Uma alegria faiscou dentro dela.

Sentiu a vida delas reascendendo.

Jisoo assentiu, com lágrimas deslizando por suas bochechas.

— Volte para mim — ela engasgou. — E traga aquelas duas com você.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora