Capítulo 11

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Jennie sentou-se abruptamente, um grito escapando por seus lábios, as cobertas emaranhadas em suas pernas. O sonho. É o sonho novamente. Estava no carro com os pais. Eles estavam conversando nos bancos da frente. Ela observava a floresta passando, seus olhos começando a fechar, e então, de repente, estava caindo, caindo, seu estômago afundando até os pés e vômito subindo à sua boca.

Frio. Tão miseravelmente frio. Água escorrendo por seu rosto. Ou era sangue? Passou uma mão por seus cabelos ensopados de suor e, por um momento, foi como se o sonho a tivesse seguido de seu sono até seu estado desperto. Mas não, era somente medo em forma pegajosa. Jogou as mechas para trás, engolindo o soluço que ameaçava surgir em sua garganta.

De alguma maneira, Jennie sabia que teria esse sonho quando foi para a cama na noite anterior. Eles sempre ocorriam quando estava mentalmente exausta ou emocionalmente angustiada, e ter presenciado a cena do crime de Driscoll dois dias antes e trabalhado no orfanato no dia anterior, no turno da noite, havia sido obviamente o catalisador.

Respirou fundo várias vezes, tentando se acalmar ao olhar para o relógio.
16:13. Havia conseguido dormir por seis horas, pelo menos.

O piso de madeira estava frio sob seus pés conforme seguiu para o banheiro, escovando os dentes e lavando o rosto com água fria, secando-o com a toalha pendurada no gancho perto da pia. Tirou alguns segundos para se olhar no espelho, seu peito ainda subindo e descendo rápido demais com a frequência cardíaca acelerada. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados em torno do rosto com nós suados, o lar dos sonhos de qualquer rato, e havia manchas escuras sob seus olhos castanhos, que já eram grandes demais em seu rosto, fazendo-a parecer uma coruja cansada. Adorável. Nenhuma quantidade de corretivo seria suficiente para disfarçá-las hoje.

O café a chamava. O banho ― e fatias de pepino nos olhos? ― podia esperar. De pé diante da pia da cozinha, com o aroma delicioso de café começando a preencher o ambiente e clarear seu cérebro enevoado, ela olhava pela janela, repassando mentalmente tudo que havia acontecido há dois dias.

Ainda não acreditava que havia sido chamada para ajudar em uma investigação criminal. Ou, mais especificamente, que lhe pediram para levar uma investigadora de carro até a cena do crime e guiá-la por algumas áreas da floresta selvagem.

Mas Chaeyoung pedira sua opinião em alguns aspectos do caso sem necessariamente precisar fazer isso, e ela ouvira o que Jennie dissera e ficara grata por sua contribuição, e aquilo a fizera sentir… útil. Bem.

Se perguntou se ela compartilharia as coisas que acabaria descobrindo sobre Lisa, se é que tinha algo para ser descoberto. Mas devia ter. Não é? A imagem de Lisa na cela, e a maneira como os olhos dela encontraram os dela logo antes de ela entrar no SUV do delegado Cho passaram por sua mente.

A cafeteira apitou, e ela serviu-se com uma xícara de café, adicionou um pouco de leite e tomou um gole, agradecida, enquanto sua mente viajava novamente para a mulher estranha, embora intrigante. E aquele medalhão em seu pescoço. Já o havia visto antes?

Suas lembranças sobre seus pais eram nubladas. Era tão nova quando eles morreram ― apenas sete anos de idade. Mas ali, de pé em sua cozinha, com a luz do sol da tarde entrando pela janela enquanto tomava a bebida que lhe dava vida, o maldito colar começou a incomodar sua mente novamente. Ou, pelo menos, algo muito parecido com ele. Sua mãe tivera algo que parecia com… corações, talvez? Três corações… as palavras estavam provocando sua mente.

Algo… entrelaçado. Soltou uma lufada de ar, massageando a têmpora direita.
Estava ali, mas longe demais para alcançar, escorregando de sua memória, provocando-a.

E se… colocou sua caneca vazia na pia e voltou para seu quarto, tirando uma caixa da prateleira alta do closet e sentando-se na cama para abri-la. Os pertences de seus pais ― itens de mobília e de uso doméstico ― foram colocados em um depósito, que acabou sendo invadido por delinquentes graças a um “advogado” irresponsável que cuidava de casos demais, e subsequentemente foram colocados em leilão. Mas Jennie guardava alguns álbuns de fotos e recordações que tivera permissão para recolher antes de ser alocada em seu primeiro lar adotivo.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora