Capítulo 42

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Lisa subiu na varanda de Driscoll, seu coração batendo rapidamente, como o bater de asas de um beija-flor. Ajustou seu arco e flecha melhor no ombro. Eu vou matá-lo. Sua batida ecoou no ar nevado, o vento agarrando o som e o levando embora. Mas o carro de Driscoll estava ali, e havia pegadas nos degraus da varanda. Tentou abrir a maçaneta, que girou em sua mão enluvada.

A surpresa a fez hesitar.

Sim, ia matar Driscoll. Mas, primeiro, precisava de respostas. Precisava saber por que Driscoll havia mentido sobre a guerra. Por que lhe dera uma casa e a mantivera ali na floresta distante, sozinha durante toda a sua vida.

Por que matara Pup. Por que havia lhe tirado seu único amigo. Lisa sentiu um aperto na garganta e respirou fundo rapidamente.

Se Driscoll não estivesse em casa, o esperaria. A porta rangeu ao abrir e os sussurros vibraram dentro dela. Tirou seus sapatos de neve e os deixou perto da porta. Seus pelos se eriçaram, e sabia que algo estava errado… diferente.

Fungou o ar e sentiu o cheiro de… sangue. Medo. Morte iminente. E, por baixo disso, o cheiro de uma fogueira estranha, o cheiro de algo que Driscoll havia queimado usando madeira que Lisa nunca sentiu antes. Forte. Cinzento.

Suas orelhas ficaram em alerta, e ela ouviu em volta por um instante antes de dar um passo à frente, entrando na sala quase escura.

O cheiro de sangue ficou mais forte, e Lisa encostou-se à parede, seguindo-o, agachando-se, andando nas pontas dos pés, sem fazer barulho.

Ouviu um grunhido vindo do quarto e seguiu o som. Devagar. Devagar.

Silencioso. Do jeito que fazia quando se movia pela floresta, com um cervo à vista, a flecha pronta em sua mão.

Espiou pelo canto da parede, seu coração martelando nas costelas, seus olhos tentando entender o que viam.

Driscoll estava preso à parede, com uma flecha atravessada em seu peito, e uma poça de sangue aos seus pés. Lisa surgiu no vão da porta, e a cabeça de Driscoll se ergueu.

— Lisa — grunhiu. — Me ajude.

Deu mais um passo para dentro do quarto, olhando em volta à procura de um inimigo.

— Quem fez isso?

— Não sei. Eu não o conhecia… homem… alto. — A respiração dele fez um som esganiçado, e seu rosto se retorceu.

— Você mentiu para mim — Lisa disse. — Você me traiu.

Driscoll a ignorou.

— Por favor. Me ajude. Você não pode me tirar dessa parede… isso vai ser… pior para mim. Só… meu celular. — Lisa olhou para a cômoda, onde viu o pequeno aparelho preto que Driscoll queria que ela entregasse. Hesitou. Por que eu deveria ajudar esse homem?

Olhou novamente para Driscoll, que a observava. Uma raiva tomou conta de seus olhos, que se arregalaram como os de um sapo verde pegajoso.

— Se você não me ajudar, vão te prender em uma cela! Em uma jaula, como um animal! Você matou, Lisa. Eles não vão compreender. E se me deixar morrer, será ainda pior para você.

A cabeça de Lisa latejou, sentindo o ódio por aquele homem queimando dentro de si. Deveria ir embora. Deveria deixá-lo morrer. Estava planejando matá-lo. Ele era um mentiroso e traidor. Ele era um dos inimigos. Matou Pup, e Lisa queria vingança.

O ombro de Driscoll caiu. Fez um movimento espasmado estranho, e jorrou sangue de sua boca.

— Por favor… meu celular. Sinto muito por você ter sofrido, mas só… me dê o meu celular.

Lisa hesitou por mais um instante, os sussurros ficando mais altos, afogando seu ódio, mesmo que tentasse agarrar-se a ele. A voz da mulher aumentou, ficou acima dos sussurros. Deixe para lá. Ela a conhecia… as palavras dela… as coisas que diria. Lisa a ouviu em sua mente.

Deixe para lá.

Sobre pernas que nem pareciam ser suas, caminhou até a cômoda, pegou o objeto e aproximou-se devagar de Driscoll, tomando cuidado para não pisar no sangue e entregando o celular a ele.

Driscoll o pegou, pressionando a tela por um segundo. Lisa afastou-se, e Driscoll ergueu o olhar, encontrando o de Lisa.

Mais sangue saiu da boca de Driscoll. Os olhos dele suavizaram.

— Ver você… — sussurrou. — Com um lobo sobre o ombro e… arrastando um cervo atrás de você, o corpo do seu inimigo deitado morto no chão… — Mais sangue. Um gorgolejar como se um riacho corresse em seu peito, regurgitando, borbulhando. — Foi uma maravilha. E só doze anos de idade… — Riu e espirrou mais sangue. Uma chuva vermelha em sua camisa. — Eu soube… ali. Naquele momento… que você era uma guerreira de outra era, valiosa como… os espartanos. Você… superou… todos…

Esticou o pescoço, parecendo usar toda a força que lhe restava. Levou a mão à testa e saudou Lisa. E então, um assobio saiu de sua boca, sua respiração parou e sua cabeça caiu para frente, o celular deslizando de sua mão na poça de sangue no chão.

Lisa ficou ali por um minuto, ouvindo os sussurros se aquietarem, desaparecerem. Lisa estava sozinha.

Virou, saindo do quarto e da casa, fechando a porta da frente atrás dela.
Estava nevando. Flocos macios e fofos.

Calçou seus sapatos achatados e caminhou em direção às árvores do outro lado da casa de Driscoll.

Havia mais pegadas na neve, que seguiam até a janela lateral e então desapareciam. O coração de Lisa acelerou. A neve já as estava preenchendo. Logo, elas sumiriam.

Lisa ergueu a cabeça e cheirou o ar. A neve pararia em breve, mas depois cairia mais. Seguiu em frente, com os olhos fixos no horizonte cinzento, lembrando a si mesma de que, em algum momento, não muito distante, das profundezas da terra congelada, a primavera começaria a brotar.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora