Capítulo 7

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A Agente Park abriu a porta e sorriu.

— Estou pronta.

Jennie assentiu, levantando-se da cadeira onde esteve sentada enquanto resistia à vontade de ligar o monitor novamente, e seguiu a agente para fora da sala. Parou de repente quando viu a mulher ― Lisa ― sendo conduzida para fora da cela por Doo Hyun.

— Desculpe pela espera — Hyun estava dizendo. — Obrigado por responder às nossas perguntas. Você está livre para ir.

Doo Hyun virou, e Lisa o seguiu, pegando uma revista de um suporte na parede que ficava ao lado da porta do banheiro e deslizando-a rapidamente debaixo do casaco. Jennie piscou. Ela havia acabado de roubar uma revista bem ali atrás do xerife?

Doo Hyun deu um passo para o lado, e Lisa encontrou o olhar de Jennie. Por um segundo, seus olhares se prenderam, e Jennie sentiu-se presa sob a mira dela. Enfeitiçada. Quis sacudir a cabeça, maravilhada por vê-la em carne e osso. Como se pudesse ter existido somente dentro daquela tela na sala da qual ela havia acabado de sair, e a realidade de sua presença tridimensional diante dela fosse quase… chocante.

E, Deus, o jeito que ela olhava para Jennie ― a animosidade que viu quando Lisa olhou para a câmera havia sumido, substituída somente por… curiosidade profunda e a mesma inteligência inconfundível. Nunca havia se sentido tão completamente capturada pelo olhar de alguém. Engoliu em seco. Ela era grande. Maior do que parecia ser naquela pequena tela. Pelo menos um metro e setenta e três de altura e musculosa. Completamente arrebatadora.

— Jennie vai me dar uma carona até a casa de Driscoll — a Agente Park disse quando Hyun se aproximou delas, com Lisa logo atrás. As palavras da agente, felizmente, a arrancaram de seu transe antes que os duas percebessem.

Hyun pareceu satisfeito, lançando um sorriso para Jennie.

— Excelente. Que bom que vocês se entenderam.

Lisa parou alguns passos atrás de Doo Hyun, sem desviar o olhar de Jennie. A encarava, seus olhos se movendo sobre ela como se estivesse tentando compreender alguma coisa. Jennie a encarou de volta, e após um instante, Lisa desviou, redirecionando seu olhar para o ambiente à sua volta, parando rapidamente em uma coisa aqui e outra ali. Estava analisando tudo como se tivesse acabado de pousar em um planeta alienígena. Ou saído de uma máquina do tempo. Talvez tivesse mesmo. Talvez tivesse vindo do período cretáceo e estava vivenciando a civilização pela primeira vez. No entanto, a calça jeans Levi’s que ela estava usando meio que descartava a teoria.

— Vou para casa agora — Lisa murmurou, e mesmo naquele tom baixo, sua voz era surpreendentemente suave e, como esperado, profunda. Olhou para Jennie de novo, e Jennie viu que seus olhos eram azuis com um tom dourado rodeando as íris. Olhos de pôr do sol, pensou. Eram especialmente extraordinários em meio aos traços ásperos de seu rosto.

Lisa virou-se em direção à porta, e a agente Park deu um passo à frente, interrompendo-a.

— O delegado Cho vai te dar uma carona. É uma longa caminhada, e já te incomodamos ao te trazer até aqui.

Lisa olhou pela janela, onde grandes flocos de neve deslizavam pelo vidro, o sol já baixo no céu. Pausou por um segundo e, então, falou de maneira vazia:

— Obrigado. — Olhou novamente para Jennie, e ela ficou mudando o peso do corpo de uma perna para outra.

Por um instante, imaginou se eles pediriam que ela também levasse Lisa para casa, já que a mulher morava perto de Driscoll. Talvez estivessem sendo cautelosos em relação à sua segurança, ou talvez tivessem outra razão relacionada ao protocolo que pedia que Jaesung a transportasse. Seja lá qual tenha sido o motivo, se sentiu um pouco aliviada e um pouco… decepcionada.

— Jennie Kim — disse, estendendo a mão.

— Jennie Kim — Lisa repetiu, com o olhar firme no rosto dela. Sua atenção desceu para a mão da mulher estendida por um momento antes de erguer sua própria mão e a envolver na dela. A mão de Lisa era grande, quente e macia, e a sensação fez com que Jennie perdesse um pouco o fôlego, tanto de empolgação quanto de medo. Era toda mulher, cada pequena parte dela, e nunca em sua vida ela sentira a presença de outra pessoa de maneira tão vigorosa. Nunca fora encarada com tanta intensidade. Aquilo a perturbou. E a intrigou.

Mais a perturbou do que a intrigou.

Talvez.

O delegado Cho apareceu na frente do escritório, olhando para Lisa.

— Tudo pronto? — perguntou. Mas parecia que era ele que estava incerto.

Lisa assentiu, e saíram juntos, um golpe de neve os atingindo diretamente no rosto, fazendo a agente Park se afastar e puxar seu capuz para cima.

— Caramba, que frio.

— Bem-vinda ao inverno em Boseong.

A agente Park abriu um sorriso pesaroso para Jennie, estreitando os olhos diante da rajada de neve.

— Isso foi um desejo de boas-vindas ou um alerta?

Apesar de estar completamente ciente de Lisa passando bem ao seu lado, conseguiu dar uma risada.

— Talvez um pouco dos dois.

Jennie olhou para Lisa e viu que ela estava olhando em volta, seu olhar se movendo da loja de jardinagem do outro lado da rua ― fechada durante a estação ― para além, onde algumas casas podiam ser vistas entre árvores sem folhagem, com fumaça saindo preguiçosamente das chaminés. Lisa olhou para Jennie e, por um momento efêmero, jurou ter visto luto no rosto de Lisa. Mas por quê? Livrou-se do pensamento, focando em suas botas pisando na neve pelo estacionamento. Precisava parar de tentar ler aquele mulher. Ela fazia sua mente girar.

E podia ser perigoso.

Até mesmo o delegado Cho estava olhando para Lisa de maneira suspeita, como se tivesse sido encarregado de transportar um animal selvagem. Mas ele queria o quê? Que Lisa caminhasse por mais de trinta quilômetros para chegar em casa em uma tempestade de neve só porque teve a má sorte de surgir diante do veículo de um xerife e conhecia a vítima do assassinato? Tudo bem, também havia o arco e flecha ― mas eles eram diferentes, e já que uma pessoa caçava daquela maneira, outras também o faziam, não é?

Jennie não fazia ideia por que estava tentando justificar alguma coisa em nome dela.

Eles chegaram à caminhonete dela que estava ao lado do SUV do delegado Cho, com as palavras Departamento do Xerife de Boesang gravadas na lateral, e Jennie virou-se no mesmo instante que Lisa.
Assim como alguns minutos antes, no recinto, os olhos de Lisa prenderam-se aos de Jennie.

— Adeus.

O casaco de Lisa havia aberto levemente com o vento, e Jennie notou uma camisa escura por baixo da peça, que parecia ser de algodão normal. Uma camiseta? Algo que Driscoll havia dado a ela por alguns peixes, ou frutas, ou sabe-se lá o que mais? O que ela havia oferecido em troca de ficar na propriedade de Driscoll? Um arrepio percorreu sua espinha.

— Adeus — ela murmurou.

Assim que Lisa se virou para ir embora, algo em volta do pescoço de Lisa caiu para frente, sobre o tecido escuro da camiseta, chamando a atenção de Jennie. Um medalhão arredondado e prateado em uma corrente de couro. Uma joia estranha para uma mulher. Havia algo nela… algo nela… Jennie percebeu que estava prendendo a respiração ao inclinar-se para frente, sua mão começando a estender inconscientemente para pegar aquele medalhão, para poder olhá-lo melhor…

Lisa virou-se e abriu a porta de trás do veículo do delegado, fechando-a entre elas. Seus olhares se encontraram uma última vez através do vidro da janela e, então, o SUV saiu dali, desaparecendo pela neve que caía.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora