Capítulo 20

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Pequenos cristais de gelo. Cintilando. Brilhando contra o vidro no último momento de luz do dia que ia embora.

Lisa jogou mais uma lenha no fogo, erguendo as mãos diante dela por um minuto, grata pelo milagre do calor. Às vezes, as chamas ainda pareciam… sagradas, como na primeira vez em que as sentiu após ter vivido tantos dias e noites miseráveis de inverno com nada além de frio. Gelo. Sofrimento. Solidão.

Um retumbar a fez pausar, inclinando a cabeça para ouvir melhor. Um veículo? Choque e medo a transpassaram. Foi rapidamente até a janela frontal, arregalando os olhos ao ver a mesma caminhonete grande que Jennie dirigia, movendo-se devagar ― com cuidado ― pela floresta em direção à casa dela.

Lisa ficou observando o carro até parar e, um minuto depois, Jennie desceu dele, com uma bolsa que parecia estar pesada em seu ombro, caminhando até o local onde estava a toca das raposas e olhando lá dentro.

Quando ela virou na direção da casa dela, estava com um sorriso no rosto.

Lisa deu um passo para trás rapidamente, ficando paralisada ao ouvir os passos dela subindo os degraus da varanda. Não deveria abrir a porta. Por que ela está aqui? O que ela quer?

Jennie bateu à porta, e Lisa permaneceu parada, tentando não atender, mas, no fim, uma parte diferente dela venceu. A parte que despertou para a vida ao ver o rosto dela, ver que ela havia voltado. A parte que sabia que Jennie era dela, mesmo que vivesse uma vida em que isso não podia ser verdade.

Quando abriu a porta, ela sorriu, balançando-se de um pé para o outro.

Lisa esperou que ela dissesse por que estava ali, sem saber o que dizer. Oi? Olá? Por que você está aqui? O que você quer? Achou que essas perguntas podiam soar como se não a quisesse ali, e talvez não quisesse ― não deveria querer ―, mesmo que soubesse que queria.

— Fui aconselhada a não fazer isso — Jennie disse finalmente.

Aconselhada. Me… disseram. Alguém disse para ela não fazer isso. Lisa franziu a testa.

— Não fazer o quê?

Desviou o olhar e, então, voltou a fitá-la.

— Hã, vir aqui. — As bochechas ficaram rosadas, como se flores tivessem desabrochado de repente sob sua pele, e ela transferiu a bolsa de um ombro para o outro.

Lisa encostou-se contra o batente da porta e os olhos de Jennie desviaram para seus braços, que Lisa cruzou contra o peito. Os braços dela estavam desnudos, e Lisa pensou que ela devia estar olhando para as cicatrizes que cobriam sua pele aqui e ali. Em toda parte. Aquilo a fez sentir… pelada, mesmo que somente seus braços estivessem à mostra. Aquelas cicatrizes carregavam péssimas histórias sobre o jeito como vivia. Histórias que não queria contar. Nunca.

— Por que você não obedeceu?

— Transtorno desafiador de oposição? — Soltou uma risada pequena e desconfortável.

Eram três palavras que não conhecia, e nada que Lisa tentasse a ajudaria a compreendê-las. Ela inclinou a cabeça para o lado.

— Não sei o que é isso — admitiu.

Jennie sorriu.

— Acho que é outra maneira de chamar uma pessoa de cabeça-dura.

Estreitou os olhos para Jennie. Estava acontecendo de novo: três minutos de conversa, e já estava perdida. Uma rajada de vento soprou com força, e Jennie segurou a bolsa com mais firmeza, erguendo os ombros para tentar proteger a cabeça do frio.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora