Capítulo 33

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O carro branco que ela vira estacionado perto da casa de Driscoll não estava ali, o que significava que Driscoll também não estava. Lisa ficou observando a casa escondida na luz fraca da floresta por alguns minutos, certificando-se de que não havia movimentos dentro da cabana através de uma das janelas empoeiradas.

Seu olhar desviou para as árvores, estreitando-o ao observá-las com atenção, procurando por aquela luzinha de algo que não pertencia ali. Ela não viu, mas o dia estava nublado, e ela não tinha certeza se tinha visto uma câmera ali, ou se ao menos havia uma.

Teria que arriscar.

Havia passado os últimos dias pensando nas coisas que a mulher ruiva havia lhe dito, como ela a fizera sentir, as perguntas que fizera brotar em sua mente.

Sentiu que ela estava mentindo, e Lisa não tinha conhecimento suficiente sobre o mundo para saber se estava certa. Mas tinha a sensação de que aquilo tinha a ver com Driscoll.

Isaac Driscoll foi a única pessoa a dar informações para Lisa. Isaac Driscoll foi a única pessoa que explicou o que acontecia no mundo fora da floresta ― o que era seguro, o que não era e do que e de quem manter distância. Ele deu abrigo, fogo para Lisa, para que assim não precisasse ir embora.

Mas e se Isaac Driscoll fosse louco? E se ele estivesse mentindo?

Mas por que mentiria? Lisa não conseguia encontrar um motivo, então se perguntou se ter essa dúvida fazia dela a louca da história. Mas achava que não.

Pensou em tentar ir andando até a cidade, não importava quantos dias ou semanas isso fosse demorar. Seu medo antigo dos inimigos matando as crianças podia ficar para trás agora.

Não era mais uma criança. Era uma mulher. Seu corpo era firme e musculoso. Sabia como usar uma arma.

Podia lutar. Podia matar, se quisesse.

Sempre que pensava sobre isso antes, se convencia do contrário. Mesmo que fosse solitária, havia encontrado um pouco de paz em sua vida, e não parecia existir um bom motivo para deixar tudo para trás para entrar em uma guerra.

Ainda lutava e passava dificuldades porque não dava para contar sempre com a natureza, mas havia aprendido a se preparar para os invernos o melhor que podia, e era a mestre de seu pequeno mundo. Por que arriscá-lo?
Mas agora…

Agora as coisas tinham mudado, e Lisa precisava saber.

Deslocou-se rapidamente de uma árvore para outra, um lobo nas sombras, enquanto continuava a procurar por câmeras ou qualquer outra coisa estranha ao ambiente, algo que nunca procurara antes ao visitar Driscoll.

Depois de observar a casa por um tempo, calçou seus sapatos achatados e saiu pela neve como se estivesse indo fazer alguma troca. Não achava que Driscoll estava em casa, mas preferia ter certeza antes de invadi-la.

Na bolsa em suas costas, tinha um chapéu feito de pele de coelho que trocaria por fósforos com Driscoll se o homem estivesse em casa.

Subiu os degraus da varanda de lado, sem tirar seus sapatos para não deixar pegadas. Bateu à porta, sua mão coberta por uma luva suavizando o som, mas não o suficiente para que Driscoll não ouvisse se estivesse lá dentro. Lisa esperou um minuto antes de bater novamente para ter certeza. Quando continuou sem resposta, tentou girar a maçaneta, mas estava trancada. Ficou ali por um instante, tentando descobrir uma maneira de abrir a porta que não fosse derrubando-a. Incerta, ela desceu os degraus com cuidado e deu a volta pela lateral da casa, tentando cada uma das janelas conforme passava por elas.

A segunda janela lateral deslizou para cima quando a forçou.

— Isso — murmurou. Desamarrou seus sapatos de neve e os deixou no chão. Em um minuto, Lisa estava na sala de estar de Driscoll.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora