capítulo 5

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De volta ao convento, Inez liberou as garotas para que tossem descansar antes do almoço e a tarde também estariam livres para fazer o que quisessem. Sem demora Sam voltou para o quarto e se jogou em sua cama assim que entrou no cômodo. Tee vinha logo atrás e fechou a porta ao entrar.

- Não vou conseguir aguentar isso. Quero arrego. - a morena disse com a cara enterrada no travesseiro.

- Vai enfrentar sua avó então? - Tee respondeu enquanto caminhava em direção de sua cômoda, logo retirando o hábito que tanto odiava usar.

- Não sei o que é pior. - disse por fim.

- Então eu te digo o que é melhor. - falou sorrindo maliciosamente logo retirando algo de dentro do sutiā.

Sam virou seu rosto para fitar melhor a colega e então arregalou os olhos ao ver o que a mesma tinha em mãos.

- Como conseguiu isso? - falou ao se sentar e Tee sorriu esperta.

- Digamos que eu tenha achado uns trocados no bolso do meu jeans, e tenha um dom para esconder coisas. - a loira se gabou e Sam riu negando.

- Quando você comprou essa garrafa de tequila que eu não vi? - Sam ainda estava incrédula em ver a mais nova segurando uma garrafa de 500ml.

- Na volta, quando vocês estavam distraídas indo na frente. Vi a barraca de uns moleques e comprei. Não é dos melhores, mas pode ajudar a dar uma relaxada.

- Tô imaginando a cara que eles fizeram ao ver uma freira comprando bebida alcoólica.

- Ah foi impagável. - Tee riu e forçou a tapa da garrafa para abri-la, logo tomando um pequeno gole da bebida. - É, até que não é tão ruim quanto eu esperava.

- Deixa eu provar. - Sam se sentou na cama e Tee foi até ela entregando a garrafa. A morena a pegou, e virou a mesma em sua boca, quase engasgando no segundo seguinte. - Caralho, que porra é essa? - disse após engolir do líquido, passando a mão sobre a boca. - Isso aqui tá mais pra o quê? Gasolina pura?

- Ai fresca! Não viaja, já bebi coisa muito pior. - Tee falou tomando a garrafa das mãos de Sam, logo a fechando e guardando em sua gaveta.

- Olha, eu não duvido.

- Vamos deixar pra beber da tequila a noite.

- Beleza. Também trouxe algo de casa para me relaxar que talvez você curta. - a morena riu maliciosa e Tee a fitou semicerrando os olhos.

- Charutos?

- Algo melhor.

- Ah, sua maconheira safada! - a loira falou a encarando. - Essa noite no tédio a gente não fica. - sorriu animadamente.

- Não mesmo. - Sam riu, e voltou a ajeitar a cabeça no travesseiro afim de tirar um cochilo antes de irem almoçar. Tee logo se jogou em sua cama para também fazer o mesmo.

Na hora do almoço, Sam montou o seu prato e sentou-se com Tee na mesma mesa que Jim e Mon estavam, a convite das freiras. Enquanto comia em silêncio, Sam sentiu olhos sobre si e ao erguer o rosto viu que Nita a encarava, sentada numa mesa à frente da sua. Não deu muito lado para a freira enxerida e apenas a ignorou demonstrando não se importar com sua existência.

- Hoje à tarde teremos ensaio do coral. O que acham de participar? Seria bom para vocês estarem explorando até descobrirem do que gostam mais. - Jim disse olhando de Sam para Tee.

Sam logo pôs um sorriso amarelo em seu rosto e sem muitas escolhas concordou com a cabeça vendo Tee fazer o mesmo.

- É, pode ser... interessante. - Sam comentou, coçando o pescoço brevemente.

- É.. muito. - Tee comentou também, logo tomando do suco de laranja.

- Acho que irão gostar. Música é sempre bom para a alma. - dessa vez Mon se pronunciou erguendo os olhos de seu prato e as fitando de relance.

- Ah, sim. Com certeza. - Sam respondeu. - Você canta no coro? - perguntou puxando assunto, mas por dentro não tinha muito interesse em saber, apenas queria fingir simpatia.

- Sim. Eu sempre gostei de música, e gosto de louvar ao senhor. - Mon respondeu de forma alegre, os olhos quase brilhando.

- A voz da Mon é linda! Deus foi muito generoso ao dar uma voz de anjo para ela. - Jim falou fazendo Mon ficar sem graça e corar, Sam sorriu ao ver a reação da garota e assentiu.

- Sua voz também é linda, Jim. - Mon murmurou olhando para a amiga que ria de seu jeito sem graça.

Sam desviou a atenção das meninas para Tee, que parecia divagar olhando para as outras freiras ao redor. Sua cara ficava engraçada quando ela fazia isso e Sam sentiu vontade de rir.

Ao terminarem a refeição, Sam seguiu com as outras para a igreja que ficava acoplada ao convento. E por conta disso, sempre entravam por uma porta na lateral do templo. Algumas outras freiras já estavam lá dispostas em frente ao altar com alguns papéis em mãos. Sam e Tee sentaram-se para assistir o ensaio enquanto o grupo de mulheres começava a cantar animadamente com Inez ao canto tocando um piano.

- Será que se eu tirar um cochilo alguém vai perceber? - Tee cochichou para Sam que riu e lhe deu um tapinha no braço.

- Com certeza vão. Vamos aguentar isso juntas. - respondeu a vendo rolar os olhos.

As mulheres cantavam algum hino que Sam nunca se quer já havia ouvido na vida e Mon assim como Jim, pareciam ser as mais empolgadas de todas. A voz delas eram realmente agradáveis, no entanto Sam já soltava seu décimo sexto bocejo pois o tédio e o sono que sentia eram inevitáveis. E sim, ela havia começado a contar para tentar se distrair.

- Acho que vou tomar água. - Sam avisou logo se levantando e Tee segurou em seu braço.

- Ah eu vou contigo, nem a pau que eu vou ficar aqui sozinha. - a morena sorriu e as duas seguiram até o bebedouro próximo da porta de saída da igreja.

Após o ensaio do coral ter acabado, Sam tirou um tempo para ficar no pátio e observava o pôr do sol que começava a dissipar no horizonte, com alguns raios iluminando seus olhos. Estava sentada na pequena mureta que rodeava o pátio, e algumas freiras também estavam por ali em mesas jogando algum jogo de damas, outras liam algum livro e outras mais idosas ensinavam algumas jovens a fazer crochê.

E Mon era uma das jovens que estava ali querendo aprender. A freira estava totalmente focada nos ensinamentos de uma das senhoras. Sam semicerrou seus olhos por conta do sol, e parou para observar os traços da garota. Mon era jovem assim como ela, mas parecia saber tão pouco sobre a vida. Era bonita sua fé e a forma como ela rezava e se empenhava em dar o seu melhor naquilo que fazia. No entanto, nem mesmo a freira Jim demonstrava ser tão ingênua como ela.

Como se sentisse que estava sendo observada, Mon ergueu seus olhos olhando diretamente para Sam. Mesmo notando aquilo, a morena não fez questão de desviar o olhar e continuou seu devaneio sobre a vida dela.

Mon por outro lado sentiu-se um pouco intimidada. Os olhos da morena estavam mais claros com a luz e o constraste do sol de fim de tarde, deixando seu rosto de alguma forma ainda mais lindo.

A senhora ao seu lado disse algo e então Mon piscou saindo do pequeno transe logo quebrando o contato para dar atenção ao que ela dizia. Moveu as agulhas em sua mão, enlaçando as linhas fazendo o que a freira pedia e quando ergueu seu rosto novamente para fitar a noviça de olhos castanhos, a mesma não estava mais.

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