capítulo 39

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Era inquietante a turbulência que Mon vinha vivendo nos últimos dois dias dentro de sua própria cabeça. Estava dificil lidar com assuntos a sua volta por conta da preocupação que sentia em relação a mãe.

Seu pai nem havia voltado a dar notícias.

E com as rédeas curtas de Consuelo, não tinha como ir procurar saber o que havia acontecido. Estava a mercê, esperando que Aon entrasse em contato. Ajoelhada em frente ao altar voltada para a cruz, fazia uma prece para que recebesse logo alguma noticia. Uma boa noticia, de preferência.

Assim que encerrou por aquela hora uma de suas rezas, a freira saiu da igreja e logo deu de cara com Tee e Sam no pátio, as garotas pareciam dispersas jogando algum jogo em uma mesinha. Mas no momento em que viu Sam, acabou estabilizando seus pés ao chão.

Queria poder conversar com a morena de olhos castanhos e lhe dizer o que sentia em relação a ela. E que por mais que gostasse absurdamente da mesma, tinha que se afastar por um bem maior. Sam com certeza a entenderia. No entanto, o que estava de fato sendo o mais estranho, era o afastamento autônomo da garota.

Mon nem chegou a dizer nada, naqueles dois últimos dias em que esteve próxima de Sam e das as garotas devido às tarefas, sentia vontade de chamá-la para terem uma conversar, mas só em ter o simples pensamento já sentia seus olhos marejarem e um bolo enorme se formar em sua garganta. Só com o maldito pensamento.

Evitava até olhar para Sam. O que era absurdo pois não deveria se sentir dessa maneira. No fundo podia identificar algo a mais, era como se com aquilo estivesse perdendo Sam para sempre e não só com breve afastamento.

Com um respirar fundo, começou a duvidar de que padre Ramiro havia dito algo a Sam sobre as duas precisarem se distanciar. Talvez o homem tivesse ficado tão irritado ao ponto de contar a garota sobre seus sentimentos pecaminosos. No entanto ainda era tudo muito vago. Um ponto não se ligava ao outro.

Sam chegou a participar de uma missa que fizeram a favor de Sinu, mas em nenhum momento chegou a vim até a freira e lhe acalentar. Mesmo sentindo-se pior ainda sem os braços da garota, sabia que era melhor assim.

Quando os olhos castanhos ergueram-se encontrando com o seus, sentiu o corpo tremer, assim como o bolo na garganta surgir instantaneamente. Antes que demonstrasse qualquer tipo de emoção, deu meia volta e fez seu caminho direto para o quarto. Por mais que desejasse que tudo fosse diferente em sua vida, tinha que aceitar que nem tudo eram como esperava.

Sam tinha seus olhos presos em uma única direção já fazia um tempo, Tee curiosa olhou para trás enxergando a porta lateral da igreja. Franziu seu cenho não entendendo e teve que estalar seus dedos na frente do rosto da amiga para que a mesma acordasse de seu transe. Sam piscou algumas vezes e encarou a expressão de Tee em dúvida.

- O que tanto olha? Por acaso viu algum espirito? - Tee rapidamente teve sua postura ereta. - Se for isso não me diga, ou teremos que juntar a cama essa noite!! Credo. Morro de medo dessas coisas e esse lugar é meio antigo Sam... Olha só aqui, chega me arrepiei toda. - a loira ergueu seu braço mostrando a pele eriçada.

Sam franziu o cenho e riu levemente.

- Só estava pensando. - soltou com um suspiro.

- No que? É Mon, né? - a maior murmurou, voltando a encarar o jogo na mesa a sua frente. - Vai Sam sua vez de jogar. - disse tendo seus olhos no jogo de damas.

A loira queria poder jogar xadrez e mexer naquelas peças chiques com um requinte intelectual, mas era muito dificil para ela entender como tudo funcionava, talvez nunca conseguisse aprender jogar aquilo. Mesmo que Sam tivesse toda paciência para ensiná-la, jogar damas era bem mais fácil.

- É que depois de ouvir sua confissão me sinto mal de me aproximar. Não quero causar mais transtorno na vida dela, já basta o que ela vem sentindo por conta da mãe e do próprio julgamento que está pondo em si mesma. - comentou enquanto movia qualquer peça do tabuleiro.

Não era como se quisesse ignorar ou estar longe da freira, mas de uma hora para outra tudo havia se transformado em uma tremenda bola de neve, vindo com força total para cima da latina. E Sam não queria aumentar aquilo, mesmo que sentisse muito por ter que ficar longe.

Tee levou uma mão ao queixo semicerrando seus olhos enquanto olhava de Sam para o jogo.

- Sabe, entendo que o que Mon está passando agora é pesado, afinal é a mãe dela, e ela tem esse lance de se sentir culpada e querer se afastar de você por achar que estará fazendo algum mal mas; - fez uma pausa dramática olhando no fundo dos olhos da amiga. - Acho que você deveria conversar com ela e esclarecer tudo isso que está rolando entre vocês, e depois chamar Mon para fugir com a gente. - disse de forma prática e simples, movendo uma das peças do jogo comendo duas da de Sam.

A maior deu um sorrisinho esperto enquanto Sam tinha uma expressão fechada, mas não pelo jogo e sim por estar com seus pensamentos em disparada, analisando as palavras que a amiga acabara de dizer.

- Não é tão simples assim, Tee. - a morena disse com um olhar desanimado.

- E onde está a dificuldade? - a loira soltou a encarando. Não entendia o empecilho que prendia Sam de correr até a freira e lhe contar o que estava pretendendo fazer.

- Tee, eu não posso simplesmente pegar Mon e fugir com ela daqui. - disse de forma óbvia e Tee a encarou cruzando os braços. - Tá, eu posso sim. - a morena admitiu se rendendo. - Mas e depois? E se não der certo? Mon ainda tem tantas coisas para descobrir e experimentar. Eu não posso simplesmente roubar isso dela. E se ela se arrepender de ficar comigo? E se eu fizer alguma merda? - Sam soltou ligeiramente assustada.

Havia pensado sobre isso desde que Tee havia the sugerido aquilo em outra ocasião. Mas sentia tantos receios que preferia não pensar tanto sobre.

- E deixá-la aqui é a melhor opção? - a maior perguntou de forma cética. - Está na cara que ela gosta de você Sam, o que acontecer depois, fica para depois. Vocês saberão lidar com isso. O que não pode é você adiar de contar que estamos quase indo embora daqui. E outra, eu quero poder me despedir de forma correta, caso ela não queira ir junto. - justificou, vendo Sam jogar sem muito ânimo.

- Eu até queria, mas não consigo. Não ainda... - murmurou respirando fundo logo em seguida. Estava em uma situação muito difícil, tudo aquilo lhe apertava o peito de uma forma esmagadora.

- Bom você sabe minha opinião quanto a isso, não vou ultrapassar suas barreiras mas espero que tome a decisão certa. - informou movendo uma de suas peças, conseguindo assim, ganhar de Sam mais uma vez.

A loira adorava ganhar em tudo, mas Sam nem estava se esforçando para ter o privilégio de jogar em sua cara. Mal tinha a garota presente no corpo para conversarem e assim ganhar não se tornava tão divertido.

Tee então decidiu encerrar o jogo e a chamou para irem molhar as plantinhas, talvez aquilo animasse um pouquinho a amiga.

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