capítulo 40

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Mon já estava pronta para se deitar e tentar dormir, o que ela com certeza estaria longe de fazer já que mais uma vez não havia tido notícias sobre o estado de sua mãe.

Fitou Jim por um momento vendo que a mesma já estava em um sono profundo. Sabia que mesmo se tentasse, dormiria apenas por duas ou três horas, estava sendo assim nos últimos dias e Mon se odiava por cultivar sentimentos tão ruins. Se alguém da igreja soubesse a julgaria dizendo que ela não estava crendo no Deus que servia. No entanto, era dificil para Mon se manter com pensamentos positivos não sabendo do que se passava do lado de fora.

Após virar-se por tanto tempo na cama, desistiu de tentar dormir e levantou-se saindo do quarto para tomar um copo d'água e quem sabe rezar mais um pouco na igreja.

Assim que Mon saiu da cozinha, apertou o roupão branco no corpo e seguiu para a igreja, talvez alguma irmã estivesse por lá fazendo vigília, mas não se importava, mesmo que usando apenas pijama. Algumas mulheres do lugar estavam compadecida com a freira então uma simples roupa não iria atrair olhares maldosos.

Ao entrar no lugar Mon pode percebe que a única luz do ambiente era apenas na parte dos fundos, assim como a melodia quem inundava o templo vindo do piano ao qual a sua tortura constante de bloqueios sentimentais tocava. Sam estava totalmente concentrada nas notas que comandava e Mon mesmo sabendo que deveria dar dois passos e se retirar dali, continuou andando em direção da morena de traços angelicais.

Sam estava totalmente centrada no que fazia, que nem percebeu quando Mon se aproximou, apenas sentiu quanto alguém se sentou ao seu lado fazendo com que levasse um pequeno susto e parasse com o que fazia. Ao fitar a freira ali com um olhar caído olhando para as teclas do teclado, mordeu o lábio por dentro dando um suspirou baixinho.

- Esse louvor é lindo. - Mon disse baixinho com seu olhar no piano.

- Na verdade, é Avril Lavigne... Innocence. - Sam murmurou sem graça coçando o pescoço.

- Ah. Acho que não conheço. - a freira deu um pequeno sorriso e enfim olhou para Sam, sentindo o ar ameno assim como um reboliço no estômago.

Havia ficado tanto tempo longe da morena que a sensação de estar pertinho chegava a tremeluzir seu interior entre cócegas um frio gostoso.

- Por que ainda está acordada? - Sam perguntou desviando seus olhos do castanho. Era nítido para Mon que Sam estava com algum impassecom ela.

- Não é como se eu estivesse conseguindo dormir direito por esses dias. - a freira respondeu com um leve dar de ombros.

- Oh sim, sinto muito. Por tudo isso. - Sam tinha sua atenção nas teclas as tocando levemente sem realmente pressiona-las.

Mon suspirou, havia sentado no banco com uma perna de cada lado de frente para Sam, com um movimento se achegou para mais próximo da garota, e pegou uma mão livre da mesma olhando para ela ao fazer um pequeno carinho.

- Não sei o que padre Ramiro lhe falou, mas quero deixar claro aqui que nada disso é sua culpa, fui eu quem comecei tudo isso ao te beijar e...

- Espere. - Sam a parou, encarando a freira, mesmo que ela estivesse com sua cabeça baixa. - O padre não me contou nada e não é sua culpa, Mon. Por favor para de se sentir assim. - Sam levou uma mão ao queixo da freira levantando seu rosto. - Preciso te dizer uma coisa, você pode me odiar depois mas eu não quero carregar isso comigo. - disse ao fitar com atenção os olhos de Mon.

Mon juntou levemente suas sobrancelhas e deu um fraco aceno. Não sabia do que Sam estava falando mas com certeza não a odiaria. Jamais faria isso.

Com um suspiro pesado, Sam tirou a mão de seu rosto e voltou a encarar o piano um tanto receosa.

- Aquele dia no confessionário, não era o padre Ramiro quem estava lá. E sim eu. Eu quem a ouvi se confessar, Mon. - a morena mesmo apreensiva disse sem rodeios. - Jim. estava preocupada com você e se o padre soubesse seria pior, por mais que acredite que fez o certo e que as pessoas daqui lhe julgariam com compreensão, devo te dizer que não, Mon, elas não fariam isso.

Mon tinha seu cenho franzido, e rapidamente soltou a mão de Sam passando a lembrar-se de tudo que falou aquele dia.

- Então... então você sabia que eu queria me afastar, mas foi porque eu te falei e não porque o padre quem contou algo. - disse em voz alta, mas ainda estava pensando sobre o dia em questão. - E não foi ele ao concordar. Foi...

- Sim. - Sam soou com a voz fraca. - Sinto muito, eu só não queria vê-la se culpando dessa forma quando na verdade não é responsabilidade sua.

Mon respirou fundo, soltando o ar de forma lenta. Pensou nas palavras que Jim havia lhe dito e em tudo que estava acontecendo. Se não era culpa sua, o que era tudo aquilo? Não se conteve sentindo quando seus olhos marejaram e uma lágrima solitária lhe escapou.

- Desculpe Mon, eu só aceitei fazer aquilo porque não queria ver você em encrencas maiores. - Sam falou pesarosa acariciando o braço da freira, vendo a mesma com uma cara de choro.

Estava ligeiramente tensa, não sabia o que fazer e não queria ver Mon chorar.

- Eu entendo, está tudo bem. - Mon disse baixo limpando rapidamente a lágrima que escorreu. - É só que, eu tenho estado uma bagunça desde que descobri sobre minha mãe e fica pior ainda sem ter notícias dela, e a madre também não me deixa sair, e tem v... - a freira parou olhando Sam por alguns instantes, mas baixou a vista novamente. - Tem tantas coisas, eu só queria saber como ela está e eu não posso ir atrás disso. A madre nunca permitiria.

Sam se moveu no banco ficando com uma perna de cada lado também e de frente para Mon, logo a morena a puxou para um abraço protetor.

- Jim me disse sobre isso. Mas não concordo. - Sam murmurou sobre os cabelos de Mon, tendo a mesma a abraçando com tanta força e saudade, que chegou sentir seu corpo tremer levemente. - Mas não fique assim ela deve estar bem. E não se preocupe, logo toda essa bagunça vai acabar. As coisas vão se organizar, tá bom? - disse baixinho para Mon e a mesma assentiu. - Eu estou aqui com você, Mon. - disse ao beijar o topo da cabeça da freira.

Mon fechou seus olhos por um momento aspirando fundo.

- Me desculpe por querer me afastar de você, é só que... eu achei...achei que seria o ideal. - murmurou com a voz embargada.

- Tá tudo bem, Mon. - Sam disse de forma carinhosa.

Mon ergueu seu rosto dando um fraco sorriso, e Sam a olhou vendo seus olhinhos brilhantes. Acariciou o rosto da freira levemente, logo secando o cantinho de seus olhos e viu quando a mesma abriu um pouco mais do sorriso. Seus olhares então se prenderam em uma intensidade admirável.

Agarradas aquele frenesi, ambas foram se aproximando simultaneamente até estarem com suas testas coladas e respirações em desordem. Talvez o coração de Mon estivesse acelerado igual o de Sam, mas a morena julgava que o seu pudesse estar muito mais.

Como começou, juntas aproximaram as bocas até que os lábios estivessem em contato sentindo um ao outro. Como um próximo passo, Mon capturou os ombros de Sam juntando ainda mais os corpos. A morena então aprofundou o beijo dando um suave suspiro ao sentir Mon retribuir na mesma saudade.

Tudo parecia ser tão intenso e único quando estava com Mom que não sabia dizer qual das duas estava se entregando mais naquele beijo.

Quando separaram, Sam voltou a abraçá-la contra seu peito como se pudesse acabar com toda tristeza que a freira sentia com o simples gesto. Sabia que para Mon ter um pouco de paz interior precisaria dar um jeito de levá-la até a mãe para ver como ela estava. E isso era algo que Sam já maquinava em sua mente para fazer no dia seguinte.

Havia apenas uma coisa que Sam poderia fazer, por mais difícil e doído que fosse.

Pensar naquilo a fez engolir em seco, apertou Mon ainda mais em seus braços aproveitando do cheirinho da garota, tentado ao máximo guardar daquele momento em sua memória.

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