capítulo 7

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Na manhã seguinte, Sam levantou cedo. Na verdade, levantou no horário que teria que estar de pé todas as manhãs. Enquanto fazia sua higiene pessoal deixou Tee com seu celular no quarto para que a mesma ligasse para seus parentes e avisasse que estava bem.

Por sorte, não sentia nenhum mal estar por conta da noite anterior, muito pelo contrário se sentia bem relaxada.

Às sete e meia foi para o refeitório com Tee e as outras feiras para tomarem o café da manhã e após terminarem, madre Consuelo veio até Sam para dizer que tanto ela como Tee ajudariam na aula bíblica para as crianças que iam todas as quartas-feiras até o convento aprender mais sobre as histórias da bíblia.

A madre também deu um papel para elas com uma lista de seus afazeres cotidianos ali no convento. Sam pegou o mesmo e o analisou rapidamente para então se despedir de Consuelo que precisou ir pois tinha outras coisas para fazer aquela manhã.

- Escola dominical? Não acredito que vou ter que lidar com pirralho logo cedo. - Tee resmungou ao seu lado enquanto seguiam para uma das salas próximo do pátio, perto da entrada do convento.

Ao chegarem na sala a mesma estava aberta e para sua surpresa - ou não - Mon estava lá organizando alguns papéis sobre uma grande mesa de madeira. Atrás da mesa tinha uma lousa verde de giz, e à frente dela algumas mesas com quatro cadeiras pequenas voltada para as crianças. A sala era toda decorada e havia brinquedos também. Parecia com uma sala de aula comum do primário.

A pequenos passos as duas entraram e analisaram o lugar, Mon sorriu ao vê-las e detrás de um painel preto Jim surgiu com dois fantoches na mão.

- Então vocês irão ser nossas ajudantes? Que maravilha! Tome, você vai fazer a peça com os fantoches hoje. - a mais baixa entregou um dos fantoches a Tee, que a encarou com uma sobrancelha arqueada.

Mon riu baixinho, e Sam se aproximou dela com um sorriso fraco.

- Eu não sei mexer nisso. - Tee rebateu fitando Jim, que negou brevemente.

- Não tem segredo vou te explicar. - e com isso puxou a garota levando-a atrás do painel onde tinham outros fantoches.

- Gosta de crianças? Por que recebemos muitas. - Mon disse voltando a arrumar alguns papéis com desenhos impressos nas folhas.

- Pra ser sincera, não muito. - Sam respondeu e deu de ombros. Mon a lançou um olhar com um pequeno sorriso.

Sam ao notar, olhou de volta encarando-a até Mon quebrar o contato e passar sua mão pela túnica preta a ajeitando. Mon então lembrou-se da noite passada e do cheiro vindo do quarto das noviças. Quando voltou a fitar Sam para perguntar baixinho se havia acontecido algo, algumas crianças começaram a entrar na sala e uma veio correndo direto a ela abraçando sua cintura.

Sam se assustou com o barulho e os gritos das crianças entrando em completa animação, mas sorriu ao ver a cena de Mon abraçada com uma garotinha. Se afastou da mesa e foi até a porta vendo que mais crianças chegavam e logo Tee estava ao seu lado.

- Deus tenha piedade. - a mais alta murmurou e Sam riu.

- Boa sorte pra gente. - comentou e logo uma menina que vinha correndo pelo corredor parou de frente a Sam totalmente eufórica.

- Oiiii. - a menina de cabelo liso na altura dos ombros sorriu largo e Sam pode ver que ela estava sem um dos dentes da frente. - Quando eu crescer eu quero ser uma freira igual a vocês!!! - a garota que devia ter seus seis anos começou a pular animada na frente de Sam e a mesma ficou sem reação vendo aquilo.

Tee franziu seu cenho e fez uma pequena careta ao ouvir o que a garotinha disse, Sam a fitou pedindo ajuda e Tee apenas indicou a menina para que ela fizesse qualquer coisa. A morena suspirou baixinho e se inclinou próximo da garotinha com um pequeno sorriso.

- Que o senhor te abençoe, criança.- disse e fez um pequeno sinal de cruz tocando a cabeça da menina. Ela então sorriu largo novamente e em seguida correu entrando na sala.

Tee prendeu uma gargalhada e puxou Sam para dentro da sala.

- Tá, exagerou. a loira comentou e Sam revirou seus olhos rindo baixo.

Dentro da sala, Mon começou a conversar com as crianças e Sam podia jurar ter umas 20 delas ali, a maioria meninas e todos numa faixa de cinco a oito anos. Mon então pegou um livro infantil e começou a contar uma história biblica.

Sam e Tee haviam ficado encarregadas de distribuir o lanche para as crianças ao final da aula, mas Sam estava com medo de não ter o suficiente até lá, pois toda hora Tee beliscava dos sanduíches e a morena tinha que repreendê-la por isso.

Quando todos foram embora, Jim saiu para resolver uns assuntos e Tee alegou precisar ir urgentemente ao banheiro, ficando assim apenas Sam para ajudar Mon com toda aquela bagunça para arrumar. Sam fuzilou Tee com os olhos quando a mesma saiu de fininho e então começou a recolher os fantoches largados ao chão que as crianças haviam brincado, os arrumando em seu lugar.

- Alguns são umas bênçãos, né? - a freira comentou olhando para Sam de relance enquanto arrumava os lápis de cor dentro dos potes novamente.

Sam riu com a palavra que ela usou, pois na cabeça da morena ela descrevia facilmente algumas daquelas crianças como demônios, diabinhos, pestes. Mas apenas concordou com um aceno de cabeça.

- É. São bem elétricos. - terminou de organizar os fantoches e foi ajudar Mon com os lápis de cor pois haviam vários espalhados pelo chão.

- Pelo menos é apenas uma vez na semana. - Mon disse e Sam murmurou assentindo mais uma vez.

Mon então pensou em perguntar sobre ontem, mas mordeu seu lábio inferior meio receosa. Sam no mesmo momento ergueu-se e se aproximou colocando os lápis de cor no pote que estava na mão da freira. A morena fitou seu rosto e franziu levemente seu cenho com o olhar intenso da garota sobre si.

- Sabe, ontem eu... - Mon começou, mas olhou para o lado pensando em como falar aquilo. - Ontem de madruga eu passei em frente ao quarto de vocês, estava indo beber um copo de água, e senti um cheiro estranho vindo de lá. Pensei em ir verificar se estava tudo bem mas, não quis incomodar. - terminou de dizer e voltou fitar o rosto de Sam. A mesma tinha seus olhos um tanto arregalados.

- Ah, eu... nós. Eu e Tee, bem, estávamos com insônia. - Mon sorriu amarelo e se afastou de  Sam passando a ajeitar as cadeiras em volta das mesas.

- Por causa daquele cheiro? - Mon perguntou colocando o pote com os lápis de cor na prateleira.

- Não! - Sam respondeu rápido demais. - Quer dizer, não foi exatamente isso.

Mon a encarou claramente confusa e Sam suspirou. Mesmo contrariada ao que ia dizer, olhou envolta observando o corredor do lado de fora silencioso e se aproximou de Mon.

- Se eu te contar, promete não dizer nada a ninguém? - a morena fixou seus olhos no castanho de Mon e a mesma ainda confusa assentiu.

- Não direi.

- Eu meio que... tenho maus hábitos. - murmurou vendo que Mon assentia arqueando suas sobrancelhas com a informação.

- Isso tem haver com aquele cheiro? - Mon disse no mesmo tom que Sam usava.

- Nunca sentiu cheiro de maconha antes? - a morena juntou levemente suas sobrancelhas a fitando e Mon negou.

- Não...

- Ah, bom, eu fumo maconha para relaxar às vezes. - disse simples e deu de ombros. - Mas estou tentando parar com isso. Creio que vivendo aqui logo irei largar. - mentiu, e Mon concordou ainda processando a informação.

- Eu... posso ajudá-la se quiser. Podemos rezar mais e pedir para que o senhor tire seu vício. - a menina disse com sua ingenuidade, segurando a mão de Sam.

A morena fitou o lindo sorriso que Mon dava, com seus lábios tão perfeitos moldando o mesmo. Engoliu em seco e puxou sua mão sentindo algo frio atingir a boca de seu estômago.

- Obrigada, mas acho que consigo me virar. - disse calma, sorrindo ao final para mostrar que estava tudo bem.

- Não seria incômodo para mim, se acha isso. - Mon tentou novamente, olhando para Sam que seguiu recolhendo os copos descartáveis sujos de suco.

- Só peço que não conte a ninguém. Já vai estar me ajudando assim. - Sam a fitou nervosa, Mon assentiu mesmo contrariada, passando a recolher dos copos também.

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