capítulo 13

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A movimentação no convento era menor naquele momento, não havia ninguém na igreja e Sam pode notar isso assim que pôs seus pés no local. Deu um grande bocejo que fez seus olhos lacrimejarem e em seguida bufou irritada indo até próximo do altar, se sentando em um dos primeiros bancos.

Estava zangada e com sono. E Sam sabia bem quem era a maior culpada disso. Nita. A freira enxerida com certeza havia contado a madre sobre o cigarro que compartilhou com Heng na noite passada. Pois, graças a isso Sam tinha sido vetada de ir à feira aquele dia por Consuelo, como punição. Antes que a morena entrasse na van a madre a chamou para terem uma pequena conversa. E agora além de ter acordado cedo à-toa, nem poderia voltar a dormir já que Consuelo havia a aconselhado entrar em um jejum com rezas constantes para se purificar.

Sam sentiu vontade de rir, mas também não contrariou a senhora, apenas iria tentar ficar fora de sua visão. Então logo se sentou no banco de madeira, mas o achou desconfortável, olhou ao redor e avistou o confessionário do padre Ramiro. Vagarosamente andou até ele e viu que o mesmo tinha um assento mais confortável, não pensou duas vezes antes de entrar e se acomodar ali. Juntou suas pernas perto do corpo e em seguida cruzou os braços apoiando a cabeça na parede de madeira para assim tirar um bom cochilo.

Com um barulho de vozes e risadas, Sam se assustou dando um pequeno sobressalto. Por sorte estava dentro do cubículo e ninguém poderia a ver. Passou a mão pelo rosto sentindo o mesmo marcado e observou pelas frestas quem estava ali.

Duas freiras conversavam animadas, mas logo se retiraram alegando irem buscar vassouras para dar uma limpada no local. Sam aproveitou o momento para sair ligeiramente do confessionário e da igreja. Do lado de fora o dia já estava claro, tendo um sol quente. Quando havia entrado na igreja o céu ainda estava cinzento.

Suspirou baixinho enquanto caminhava pelos corredores e logo avistou uma das freiras que fora apresentada, Teresa. A mesma sorriu ao vê-la, Sam notou que a mulher estava com um ramo de cheiro verde nas mãos, começando a vir em sua direção.

- Oi criança, estava te procurando. - a mulher de meia-idade e bochechas redondas sorria amigável, Sam apenas semicerrou seus olhos a fitando. - Madre disse que ficaria por aqui hoje e que eu poderia contar com sua ajuda no refeitório. - a mulher disse e Sam quis revirar seus olhos, mas apenas assentiu.

Ambas caminharam em direção ao refeitório e Teresa pediu para que Sam organizasse os talheres e copos perto da extensa cuba metálica de self service. Olhar para toda aquela comida fez o estômago de Sam roncar e a mesma exibiu uma pequena careta voltando até a cozinha onde Teresa estava, após ter feito o que lhe fora pedido.

- Já coloquei os talheres. - Sam a informou, a mesma deu um sorriso secando suas mãos num pano de prato.

- Obrigada querida, agora venha aqui e me diga se esses biscoitos de chocolate ficaram bons. - a freira lhe empurrou uma assadeira grande com vários biscoitos dentro.

A boca de Sam automaticamente salivou. O cheiro estava maravilhoso.

- Só tenha cuidado, pois estão quentes. - Teresa avisou e Sam assentiu, pegando um dos biscoitos e provando do mesmo.

- Hmmm... estão muito bons. - Sam comentou enquanto comia. - Mas acho que vou precisar comer mais um para ter certeza. - disse esperta e Teresa riu voltando a arrumar a cozinha.

- Se comer muitos biscoitos vai acabar não almoçando. - advertiu. Sam sorriu dando de ombros e pegou outro biscoito.

Estava encostada na parede próximo da mesa de madeira enquanto Teresa mexia com uma colher de pau, uma das panelas que estava no fogão, quando ouviu alguém entrar a passos apressados na cozinha. Sam curiosamente se virou para trás logo vendo uma Mon entrar afobada com seu olhar em desespero.

- Sam! - Mon andou até ela e tomou um grande fôlego antes de continuar. - Eu não contei nada. Eu juro. Não sei como madre Consuelo descobriu, eu prometo pela virginzinha que não disse nada. - a garota respirou fundo outra vez.

Sam tinha suas sobrancelhas levemente franzidas, mas se suavizaram assim que ouviu Mon. A morena então olhou para Teresa vendo que a mesma as olhava interessada, rapidamente segurou o pulso de Mon a levando para fora dali.

- Obrigada pelos biscoitos Terê, eles estavam perfeitos. - agradeceu a mulher já saindo e a mesma sorriu com o elogio. - Vem comigo. - falou olhando rapidamente para Mon.

Caminhavam pelos corredores até que Sam lembrou-se da biblioteca, então seguiu com Mon para lá, entraram e contestou a mesma vazia.

- Eu sei que não foi você. - Sam disse ao parar e encarar a garota que deu um suspiro aliviada. - Foi a vac... - parou de dizer se corrigindo e pigarreou disfarçando. - Foi Nita. - disse por fim, emburrada. Mon arqueou suas sobrancelhas surpresas.

- Ela a viu fumando? - perguntou fitando os olhos da morena a vendo assentir.

- Sim, com Heng. - deu de ombros.

- Nita não é muito confiável. - Mon comentou lembrando-se que ela era uma das poucas freiras que conversava e tinha contato ali dentro.

- É uma freira espertinha. Mas outra hora eu dou o troco. - Sam disse cruzando seus braços e Mon a olhou apreensiva. - Como foi na feira hoje? - tentou mudar de assunto, pois sabia que a garota não aprovaria aquilo.

- Foi bom. Na verdade, normal. - deu um pequeno sorriso. - No entanto, Tee não parava de resmungar.

- Então realmente seguiu tudo normal. - Sam respondeu fazendo a freira rir. - Vem, vamos almoçar.

Sam sorriu e jogou uma piscadela para Mon. A mesma sentiu o ar em seus pulmões falharem por aqueles segundos. Lembrou-se do que havia feito na noite passada em um ato impulsivo e corou desviando seu olhar para outro lado. Assentiu brevemente e acompanhou a morena para fora da biblioteca.

Estava mais tranquila por Sam entender que não havia sido sua culpa, mas se perguntava o todo tempo o que diabos estava acontecendo consigo.

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