53 - Sálvame

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Pov's Richard

Hesitante, balanço a cabeça e aguardo pelo momento em que ela tira as mãos do rosto e encara o teto.

- Bulímica. - A palavra deixa sua boca como um sopro gelado que congela meu corpo e faz a temperatura do quarto abaixar. - Eu sou bulímica. Venho passando por isso desde que iniciei a carreira de modelo, venho tendo episódios há anos, mas nunca disse com todas as letras. Eu só... Não aguento mais fingir que está tudo bem.
Não está.

Embora todas as partes de mim estejam dizendo para eu me levantar e envolvê-la em meus braços até que consigamos fingir que tudo isso é um pesadelo que uma hora ou outra vai passar,permaneço imóvel com os olhos colados nela.

- Eu sou bulímica e anoréxica e eu me sinto um lixo em todas as vezes que preciso mentir ou que tomo algum comprimido ou laxante ou inibidor, Richard. Eu me sinto um lixo por ter aprendido a mentir para não comer, por ter desculpas decoradas para todo mundo em minha volta... até pra você. Me sinto um lixo por fingir que estou
tomando banho depois de ser forçado a comer alguma coisa quando, na verdade, estou vomitando até ver sangue e não sabendo como lidar com isso porque se por um lado, eu me sinto mais leve por tirar tudo no meu estômago, pelo outro, eu também
sei que estou me matando e eu não consigo parar. - eladispara, esfregando as mãos nos olhos e livrando-se das palavras com uma expiração que soa carregada demais para uma aparência tão frágil.

- Eu me sinto um lixo por ter te arrastado para dentro disso tudo
quando nem sequer consigo ver minhas próprias fotos porque tenho medo de enxergar algo que não é real. Eu tenho medo de continuar com isso porque sei que, uma hora ou outra, você vai me achar tão nojenta quanto eu me acho. - finaliza, sua voz falhando nas últimas palavras e fazendo o mesmo que meu coração.

- malu! Eu nunca-

- Meu pai começou a me tratar mal quando eu era uma criança. - me
interrompe e entrelaça os dedos em cima da barriga para brincar nervosamente com eles. - Ele me deixou sozinha com um filho novo para cuidar de mim. Depois disso, Fagner se casou com Bárbara, e teve as meninos. - Ela olha pela janela, por onde dá pra ver o sol se pondo no horizonte entre os prédios altos. - Nós passamos muita dificuldade porque minha mãe não podia mais trabalhar no hospital por causa do meu avô.

Malu ergue a mão, deixando-a ser encoberta pela luz do sol, e a
vira do outro lado, abrindo e fechando os dedos devagar.

- E então, com dezesseis anos, fui convidada a fazer um pequeno
comercial para uma revista teen. Depois disso, veio os outdoors para
lojas, anúncios e tudo mais. Consegui bastante dinheiro e abri uma
conta para depositar tudo o que sobrava para minha mãe e minha vó. E foi bom, entende? Vê-las felizes, almoçando e jantando todos os dias e
comprando roupas novas. Eu me senti bem e minha mãe não conseguia parar de sorrir. Aquilo me fascinou. A felicidade delas foi tudo o que me motivou a trabalhar mais para conseguir mais dinheiro. E eu
me acostumei a simplesmente...

Abaixa a cabeça e os nós de
seus dedos se tornam pálidos por causa do aperto. - pôr tudo pra fora toda vez que algo não dava certo ou que eles não me permitiam desfilar. Eu precisava achar alguma forma de manter o peso ou emagrecer mais. O medo de perder o que tinha conquistado e fazer eu mesma passar por tudo aquilo de novo me aterrorizava todas as noites.

- Você tem tudo, amor. - Não me atrevo a falar mais alto para minha voz não sair quebrada. - Dinheiro, estabilidade e uma família que te ama, certo? Você pode sair de tudo isso a qualquer
hora. Eu te ajudo com a quebra de contrato, com a mídia e o que for
preciso se você quiser parar de ser a grande modelo Maria Luiza Lemos.

Destino Reencontrado - Richard Ríos Onde histórias criam vida. Descubra agora