Capítulo 5

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¤Miguel
Penso em ligar para o esposo de Joelma, mas, sei lá... talvez ele coloque a culpa em mim, afinal, eu que estava arrumando o carro... sem contar que eu menti o nome dela, com medo dela morrer, e agora?
Ligo para Dênis novamente e peço que ele venha o mais rápido possível.
O mais rápido possível de Dênis é chegar no hospital quando o sol já nasceu. Explico tudo para ele e busco uma salvação.¤
-Miguel: Então é isso...
-Dênis: Marido? Porra, aí você me quebra. Marido, Miguel?
-Miguel: Não pensei direito, fiquei nervoso na hora, isso foi o que consegui falar. Eu nem sei o que posso fazer agora. Você é um ex policial, poderia me ajudar nessa, né?
-Dênis: Se eu fosse policial ainda, você seria preso, pois parece até que você sabotou o carro dela, porque ela não quis te pagar. Fora as outras coisas que fez, cometeu uns três crimes de uma vez só, cara. Puta que pariu!
-Miguel: Por favor, não me fale esse tipo de coisa, o peso na minha consciência já é o bastante, acredite.
-Dênis: Ela vai acordar sem saber de nada... huumm... leva ela pra sua casa.
-Miguel: O quê?
-Dênis: Já mentiu que é esposo dela, então leva ela para a sua casa, até ela recuperar a memória.
-Miguel: Tá ouvindo o que está dizendo? Isso será sequestro... não basta eu quase tentar matá-la? Mesmo sem querer, óbvio.
-Dênis: Talvez ela recupere a memória logo... não sei. Faz dela sua empregada e tal, quando a memória dela voltar, você diz que ela te devia e é isso. Os dois estão errados nisso, ela por não ter te pagado e você por sabotar o carro dela.
-Miguel: Eu não fiz isso!
-Dênis: Tanto faz. Só leva ela para a sua casa e cuide dela até ela recuperar a memória, talvez ela poupe a sua vida, sabe? Seja caridosa.
-Miguel: Você não sabe o quão cruel ela é. A Joelma é o tipo de pessoa que não é caridosa com ninguém, eu sei, eu senti na pele.
-Dênis: Ninguém é cruel quando está vulnerável.
-Miguel: Isso é o que você pensa.
-Dênis: Qual é, cara? Leva ela pra sua casa, cuida bem dela, afinal, ela é a sua esposa.
-Miguel: Dênis, por nossa amizade, cala a sua boca!
-Dênis: Ué? Eu só falei a verdade.
-Miguel: Você é um bosta, isso sim.
¤Miguel
Por volta das 08:15 da manhã, vou ao quarto onde Joelma está... a culpa está quase acabando comigo. Seguro a mão dela, e em silêncio, peço que ela acorde, é a única coisa que quero no momento.
Fico olhando o seu rosto... sua mãozinha... ela é tão pequenina, como pode? Como pode uma pessoa tão pequenina ser tão má, tão amarga? Penso nisso, acreditando muito que ela irá ferrar a minha vida quando lembrar de tudo.
Do nada, sinto um aperto na minha mão, parece que sou atendido, Joelma acorda.¤
-Miguel: Oi... oi. [Fica sem jeito]
-Joelma: ...
-Miguel: Não sei se vai... se vai lembrar de mim, o médico disse que não, mas... ah, deixa pra lá. Oi... como se sente? Tá bem? Quer alguma coisa?
-Joelma: Oi.
-Miguel: Joelma?! Meu Deus! Você... você falou. Tá sentindo algo? Quer água? Ah, não, não pode beber água agora... mas, assim, eu...
-Joelma: O quê? Não... por favor, para de falar. [Olha nos olhos de Miguel] Quem é você? Onde estamos? O que aconteceu? [Puxa a mão] Me solta!
-Miguel: Calma... você sofreu um acidente...
-Joelma: O quê? [Senta na maca]
-Miguel: Ei, acho que você ainda não pode sentar.
-Joelma: Não, não, me deixa! A minha cabeça... a minha cabeça está doendo. Eu não lembro de nada... nada mesmo. É como se a minha memória tivesse sido apagada. Lembro de vultos e vozes... mas é apenas isso. Ué? O que tá acontecendo?
-Miguel: Fica calma, respira! Eu tô aqui com você.
-Joelma: E quem é você?
-Miguel: Eu?
-Joelma: É, quem é você? Você é o único rosto que está na minha cabeça agora.
-Miguel: Eu... eu sou o seu esposo.
-Joelma: O quê?
-Miguel: Sou o seu esposo.
-Joelma: Isso quer dizer que somos casados? É isso?
-Miguel: É... sim, é isso.
-Joelma: Ah.
-Miguel: Temos quatro filhos, duas meninas e dois meninos.
-Joelma: Filhos? Tenho filhos?
-Miguel: Pois é... nós temos, nós dois... nós dois somos pais, então nós dois que temos, juntos.
-Joelma: A minha cabeça... tá doendo tanto. [Passa a mão no rosto]
-Miguel: Vou chamar a enfermeira.
-Joelma: Não! [Segura a mão de Miguel] Não me deixe sozinha aqui, por favor.
-Miguel: Eu só vou chamar a enfermeira, calma.
-Joelma: Por favor, não me deixa aqui, eu tô pedindo; por favor. Eu tô com medo de ficar sozinha.
¤Miguel
Sério isso? Nossa, nunca imaginei que Joelma sabia falar "por favor", como assim? Fico besta com a fragilidade dela, o que quaaaaaase me deixa ter compaixão.¤
-Miguel: Você está com muita dor de cabeça, melhor chamar a enfermeira para resolver. Vou só na porta, ok? Não vou sair.
-Joelma: Ok.
¤Miguel
Chamo a enfermeira e ela vem o mais rápido possível, atendendo Joelma.¤
-Enfermeira: Nossa, eu não esperava que ela acordasse hoje... me surpreendeu. Vou trazer um remédio para a dor de cabeça, calma.
¤Miguel
A enfermeira sai novamente e quando volta, dá um medicamento para Joelma.¤
-Enfermeira: Pronto, Fernanda. Deseja mais alguma coisa?
-Joelma: Fernanda?
-Miguel: Aaah... enfim, obrigado, enfermeira.
-Enfermeira: Deseja mais alguma coisa?
-Joelma: Sim, ir pra casa com o meu marido, posso? [Segura a mão de Miguel]
¤Miguel
Fico sem jeito com Joelma segurando a minha mão. Não, sério, não pode ser a mesma pessoa. Como a mulher arrogante de ontem é a mesma doce de hoje?¤
-Enfermeira: Preciso que fique por mais 24 horas, aí sim libero você, pois a pancada foi na cabeça, é um pouco preocupante, ainda tem alguns exames para fazer.
-Joelma: Ok, tudo bem.
¤Miguel
A enfermeira sai e eu fico calado por alguns minutos com Joelma. Não sei nem o que falar pra ela, porém, sei que preciso o mais rápido possível sair daqui.¤

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