Joelma - Sem Memória

Capítulo 56

-Miguel: Ainda conversarei com a Joelma, pra tirar a culpa do coração dela e a fazer tomar uma decisão. Entre outras coisas, o Leonardo joga baixo, tenho certeza de que ele ainda vem atrás de mim para zombar da minha cara, vou esperar por isso.
-Clarita: Se eu fosse o senhor, eu tinha quebrado a cara dele assim que o olhasse na cama.
-Miguel: Tenho essa vontade no corpo todo. Porém, não pude fazer isso, eu estava na casa dele e isso não me convém pelo fato d'eu já ter saído da cadeia.
-Clarita: É, é verdade.
-Miguel: E quem me garante que ele não queria que eu realmente quebrasse a cara dele? Ele quer ferrar com a minha vida, Clarita, mas como eu dei o silêncio como resposta, ele vem atrás de mim, disso eu tenho certeza.
-Clarita: E se isso realmente acontecer, o que o senhor vai fazer?
-Miguel: Ele que me aguarde.
¤Joelma
À noite, fico no quarto, refletindo. Por que tudo tem que ser tão difícil pra mim? Só espero do fundo do meu coração que Miguel me perdoe. Mesmo que eu não tenha feito nada, eu só preciso do perdão dele, da nossa reconciliação.
Falo com Rafael pelo notebook, porém não conto nada do que está acontecendo, pois o meu menino parece feliz no intercâmbio, e sei que só tem câmera no quarto dele, então ele não saberá do resto da história. E graças a Deus, na noite passada, ele não viu nada, pois estava cansado, então não chegou a ver Miguel entrando no quarto.
Dois dias se passam e eu não resolvo nada sobre a minha vida, a única coisa que tenho vontade de fazer é sumir, porém, isso é impossível. Para piorar, se não bastasse o ranço de Leonardo, crio nojo até do perfume dele, nem sequer consigo ficar por perto.
Numa quinta-feira, pela manhã, desço para tomar café, porém, estão os dois na cozinha: Leonardo e Maria... só pego um pouco de suco e vou para o quintal, sentar perto da piscina. A empregada não fala comigo desde que eu disse para o patrão dela que sabia do caso dos dois... mereço! Ah, eu mereço! Entretanto, me sinto ótima com a distância deles, pois tenho nojo igual.
Enquanto me perco nos pensamentos, Karen senta ao meu lado.¤
-Karen: Tá tudo bem?
-Joelma: Está sim. [Sorri]
-Karen: Cheguei na cozinha agora e vi o Leonardo falando de ti para a Maria.
-Joelma: Eles são amantes, eu descobri tudo.
-Karen: É, eu já desconfiava. Como se sente com isso?
-Joelma: Normal, pois apenas tenho nojo dele.
-Karen: Sério?
-Joelma: Sim, sério. [Sorri]
-Karen: Então você tem isso em comum com a outra Joelma. Aliás, com você mesma, mas a com memória.
-Joelma: O quê? Eu tenho nojo do Leonardo até com memória?
-Karen: Sim, muito.
-Joelma: Eu não entendo isso, sabe? Como? Como eu pude me casar com um homem igual a ele? Me dá nojo só de saber que estou casada há mais de 20 anos. Ele é bonito, não posso negar, parece até inteligente... é cheiro e... e tá ficando calvo, mas isso não tira o charme dele, porém, não se encaixa, não se encaixa de forma alguma. Até tentei ser amiga dele, mas ele é nojento demais, me causa enjoos!
-Karen: Sei bem como é.
-Joelma: Eu só queria entender esse casamento.
-Karen: Bem... quando a sua mãe morreu, não demorou muito para que eu fosse morar com o seu pai. Você tinha raiva de mim... do seu pai, enfim, nunca aceitou o que aconteceu. Anos depois, o Leonardo foi contratado e era o melhor funcionário da empresa, ele só vivia lá em casa, então acho que foi isso que fez você investir nele, pois o seu pai aprovaria o casamento e você poderia sair de casa o mais cedo possível.
-Joelma: Quanto tempo demorou para isso?
-Karen: Uns 10 anos.
-Joelma: 10 anos que odeio você?
-Karen: Não, 10 anos que demorou para você sair de casa... já tem 30 anos que você me odeia. Isso daqui de estar sentada ao seu lado, foi o mais próximo que chegamos uma da outra, Joelma. E para te falar a verdade, eu nem sei quem você odeia mais... se sou eu ou o Leonardo.
-Joelma: Ainda não me disse o motivo d'eu ter casado com ele.
-Karen: Eu disse sim, o motivo era movido pela sua vontade de sair de casa. Tanto que logo que vocês anunciaram o noivado, seu pai te deu esta casa.
-Joelma: Isso tem mais de 20 anos, mas, como eu consegui suportar por tanto tempo ele aqui?
-Karen: Isso eu não sei, Joelma... mas, acho que isso te convém, você nunca quis cuidar das empresas do seu pai. Já o Leonardo fazia isso com prazer... até hoje faz.
-Joelma: Hum... até que faz sentido.
-Karen: Sim, muita. Quando você recuperar a memória, a primeira coisa que deve fazer é mandá-lo embora.
-Joelma: Sim, com certeza. Karen, não posso responder pela outra Joelma, mas espero que um dia ela te perdoe.
-Karen: Eu também espero.
¤Joelma
Dou um leve sorriso para Karen e antes que eu possa falar qualquer outra coisa, sinto a minha vista embaçar, então a mente viaja, me fazendo sentir uma forte dor de cabeça. Eu lembro do dia do acidente, exatamente do jeito que aconteceu.¤
-Joelma: Ai, meu Deus! [Segura a perna de Karen]
-Karen: Joelma, tá tudo bem? Joelma!
-Joelma: Eu lembrei do acidente... eu lembrei do acidente!
-Karen: O quê?
-Joelma: O acidente, Karen, o acidente...
-Karen: Calma, respira! Calma!
¤Joelma
Karen me senta na espreguiçadeira ao lado da piscina, então sai para pegar água pra mim.¤
-Karen: Pega, bebe água. [Entrega um copo d'água para Joelma]
-Joelma: O acidente...
-Karen: Joelma, eu acho que a sua memória está voltando.
-Joelma: Isso é ótimo. [Sorri]
-Karen: Não, não é. É agora que você corre mais risco de vida... você precisa de um plano.
-Joelma: O quê?
-Karen: Vai por mim, escuta o que estou te falando... você não voltará a mesma, então precisa de um plano.
¤Joelma
Não compreendo o que Karen diz, mas, isso é sem saber o que vem pela frente...¤
¤Miguel
Sinto saudade de Joelma, porém, no dia que penso em mandar mensagem para ela, Leonardo aparece na minha oficina, do jeito que eu imaginei. Ele simplesmente sobe até o meu escritório, nem sequer anuncia.¤
-Leonardo: Bom dia, senhor Miguel. Como se sente hoje? [Entra no escritório]
-Miguel: Ah, era o que me faltava!
-Leonardo: Miguel, calma... eu vim em paz.
-Miguel: Ok, acredito. Bem... eu estou muito bem.
-Leonardo: Ah, é? E como está o seu romance com a Joelma?
-Miguel: Olha... não vai muito bem, mas, com você aqui, tudo faz com que eu conclua que a teoria de que tudo que vi naquele quarto foi armação seja realmente verdade. Não houve nada entre você e ela, né? Você armou pra mim.
-Leonardo: Bingo!
-Miguel: É, eu já sabia. Demorou pra vir, hein?! O que foi? Estava criando coragem para falar comigo? Você sempre é tão frouxo para tudo que faz? Ou é só quando a assunto é referente a mim?