Capítulo 61

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-Joelma: Não... claro que não lembro. Porém, me deixa ler isso. [Pega o tablet da mão de Leonardo] Bateu o carro e morreu? Meu Deus!
-Leonardo: Isso poderia ter acontecido contigo, né? Ainda bem que saiu viva do acidente.
-Joelma: Pois é. [Devolve o tablet para Leonardo] A família dele deve estar arrasada.
-Leonardo: Sim, ele deixou uma viúva e dois filhos.
-Joelma: A viúva dele se chama Dani, diz aí na entrevista. Depois mande flores para lá, acho que seria bom para ela, né?
-Leonardo: Mando já.
-Joelma: Obrigada.
-Leonardo: Miguel diz aqui na entrevista também que Dênis era o melhor amigo dele e que seria o padrinho do casamento de vocês.
-Joelma: Há! Casar com aquele mecânico? Me poupe, Leonardo! Eu jamais pegaria aquele homem, jamais! [Pega o suco de laranja e coloca numa garrafinha] Tô indo pro clube, vou pegar o seu carro.
-Leonardo: O meu carro?
-Joelma: Sim, qual o problema?
-Leonardo: Eu vou trabalhar, dá de pegar o do Rafa?
-Joelma: Não, eu quero o seu.
-Leonardo: Ok, tá bom. Na semana, te compro um novo.
-Joelma: Aguardo.
¤Joelma
Saio no carro de Leonardo, porém, no meio do caminho, vejo no celular toda a entrevista, inclusive onde é o velório... não consigo ficar bem com essa situação, então passo numa loja, compro uma roupa social e vou até o local.
Ao chegar, vejo muitas viaturas na frente e eu estaciono o carro na esquina. Coloco um óculos escuro e faço um coque no cabelo, indo para mais perto, porém, não atravesso a avenida, o que não é nada ruim, pois consigo olhar Miguel e Dani.¤
¤Miguel
No velório, fico ao lado de Dani o tempo todo. Sinto tanta pena da minha amiga que tenho que me manter forte para poder consolá-la pela perda do meu amigo. Dênis era ex policial, aposentado porque sofreu um acidente enquanto estava na polícia e foi obrigado a renunciar o cargo. Me sinto numa delegacia com o tanto de policial presente, o que me deixa desconfortável por o que fiz com Joelma e também por já ter sido preso.
Dayana se aproxima e me abraça forte, chorando em meu ombro... era só o que me faltava.¤
-Dayana: Eu gostava tanto dele.
-Miguel: Eu sei, Dayana... eu sei.
-Dayana: Desculpa te abraçar assim, é que... é que preciso de consolo.
-Miguel: Entendo, vai ficar tudo bem, relaxa.
¤Joelma
Penso em entrar e falar com Dani, mas Miguel me olha e eu fico parada, imóvel, encostada num carro, sem jeito.¤
¤Miguel
Olho Joelma do outro lado da avenida, o que me deixa bastante confuso, pois não esperava vê-la. Largo Dayana e vou até lá, atravessando a avenida.¤
-Miguel: O que faz aqui?
-Joelma: Eu olhei a entrevista, algo em mim pediu que eu viesse. [Tira o óculos]
-Miguel: Hum. É só por isso mesmo que está aqui?
-Joelma: E por que mais seria, Miguel? [Encara Miguel]
-Dani: Joelma!
¤Joelma
Dani corre, atravessa a avenida e me abraça muito forte, se acabando de chorar. Fico sem jeito, mas correspondo o abraço.¤
-Joelma: Eu... eu sinto muito, Dani.
-Dani: Ele dizia que seria o padrinho do seu casamento com o Miguel. Amiga, eu sei que não lembra de nada, mas você é importante na minha vida... você foi a minha melhor amiga nos últimos meses.
-Joelma: Ah, Dani... entendo, meu bem... sinto muito mesmo. Mas, o que houve de verdade?
-Dani: Ele bateu o carro... bateu numa caçamba e foi fatal... ele quebrou o pescoço e morreu na hora.
-Joelma: Ai, Dani... que horror! Eu sinto muitíssimo por isso.
¤Miguel
Joelma parece entender o que Dani fala, até trata ela bem, porém, é uma mulher que não consegue demonstrar sentimento algum em seu olhar. Totalmente fria... não vejo a pessoa que eu amo nela.¤
-Dayana: O que essa mulher faz aqui? [Se aproxima]
-Joelma: Desculpa, tá falando comigo?
-Dayana: Com você mesma, não é bem-vinda aqui! Vá embora!
-Miguel: Dayana!
-Dani: Dayana, por favor...
-Dayana: Não, não, não... ela não deveria estar aqui. Essa mulher é sonsa e sem caráter! Vá embora, sua desgraçada!
¤Joelma
Olho nos olhos de Dayana e respiro fundo. Acho que ela tem que ouvir poucas e boas antes d'eu ir embora.¤
-Joelma: Escuta aqui, minha querida, não tenho saco para escândalos, ainda mais vindo de uma mulher como você que com certeza é baixa. Então, me poupe!
-Dayana: Eu sou baixa? [Sorri] A gente sabe que você está aqui pelo Miguel. Mas ele não quer mais você, entende isso? Corre para o seu marido milionário.
-Miguel: Dayana, por favor, a Joelma nem sequer lembra de mim, ela está aqui prestando solidariedade para a sua irmã, a respeite!
-Joelma: Não preciso que me defenda, Miguel. Enfim, minha querida... [Olha nos olhos de Dayana] eu estou aqui dando apoio para a sua irmã que com certeza é uma mulher incrível, diferente de você. Não sei como é perder um marido, não perdi o meu e nem quero. Ah, e outra coisa: "marido milionário"? Não, eu sou a milionária aqui, entende isso? Desculpa, Dani, mas eu não mereço isso, vou precisar ir. Enfim, recebeu as flores?
-Dani: Sim, obrigada.
-Joelma: Nada.
-Dayana: Quero saber se vai continuar nessa marra toda quando eu pegar o Miguel. [Sorri] Já que não lembra dele, não tem problema ele ser meu agora, né?
-Miguel: Dayana!
¤Joelma
Vejo Dayana se aproximando mais de Miguel, lhe abraçando e lhe acariciando. Ele fica sem jeito e me encara, porém, eu coloco o meu óculos escuro de volta no rosto e respiro fundo para dar uma resposta.¤
-Joelma: Controle o seu cachorrinho, Miguel, ele é raivoso. [Sorri]
¤Miguel
Joelma sai andando e eu puxo Dayana pelo braço, fazendo com que ela me largue.¤
-Miguel: O que você está fazendo? Dayana, eu não quero você, entenda isso!
-Dayana: Estou tentando te ajudar, pois a Joelma também não te quer!
-Miguel: Isso não é problema seu!
-Dani: Dayana, você é ridícula às vezes. Pelo amor de Deus! Meus gêmeos dão menos trabalho que você. Que cena patética acabou de fazer, e isso tudo pra quê? Só pelo prazer de ser baixa?
-Dayana: Ah, então me desculpa vocês por eu tentar ajudar. [Volta para o velório]
-Miguel: E aí, Dani? Acha que a Joelma está fingindo?
-Dani: Não, não mesmo. Apesar de tudo, acho ela fria. Sinto muito, Miguel.
-Miguel: É, eu também.
¤Clarita
Saio cedo do colégio e vou até o local do velório, mas na esquina, sem querer, topo com uma pessoa...¤
-Clarita: Ai, desculpa, eu...
-Joelma: Ah, tudo bem, garota.
-Clarita: Joelma?
-Joelma: Eu.
-Clarita: Oi, oi. [Sorri sem jeito]
-Joelma: Oi, tudo bem com você? Posso ajudar em algo? [Tira o óculos]
-Clarita: Ah... você não lembra de mim, né?
-Joelma: Eu deveria?
-Clarita: É... não, não. Enfim, tenha um bom dia.
-Joelma: Você também.
-Clarita: Obrigada.
¤Clarita
Olho nos olhos de Joelma e sinto medo. Não a vejo mais como minha mãe, sim como uma pessoa má, como a Joelma do sonho que tive há um tempo. Meu coração gela e eu engulo em seco.¤
-Joelma: Você está bem?
-Clarita: Eu? Sim...
-Joelma: Tem certeza?
-Clarita: Sim, por quê?
-Joelma: Fica me olhando com uma cara de assustada... é bem estranho isso.
-Clarita: Desculpa, eu sinto muito, não foi a intenção.
-Joelma: Você é filha do mecânico, né?
-Clarita: Sim, sou eu... sou a Clarira, filha do Miguel. É Miguel o nome dele, tá?
-Joelma: Hum. [Coloca o óculos de volta]
-Clarita: Se cuida... [Sorri sem jeito]
-Joelma: Tá bom, ok. [Entra no carro] Tchau pra você.
-Clarita: Tchau.
¤Clarita
Vejo o carro de Joelma saindo e fico parada por alguns segundos.¤
-Clarita: "Filha do mecânico"? Se ela tá fingindo, tá fingindo muito bem.

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora