Capítulo 32

28 4 7
                                    


¤Joelma
Na sexta-feira, é aniversário de Dani e ela chama alguns amigos íntimos para uma festinha noturna na casa dela. Eu até penso em não ir por conta da irmã dela, mas não quero ser chata com Miguel, nem com a aniversariante, né? Afinal, ela é uma grande amiga pra mim, eu faria de tudo por ela.
Na festa, fico sentada no sofá, ao lado do meu marido, o tempo todo, pois isso me traz segurança. Ele bebe à vontade, cerveja, já eu... eu só enrolo.¤
-Miguel: Prefere vinho?
-Joelma: Pode ser, mas tô sem vontade de beber hoje.
-Miguel: Ainda bem.
-Joelma: Por que diz isso? [Encara o olhar de Miguel]
-Miguel: Porque toda mulher que se rende ao vinho fica com muito tesão depois.
-Joelma: E será que é possível sentir mais tesão do que já sinto?
-Miguel: Nunca se sabe...
¤Joelma
Miguel passa a mão em minha coxa e eu sinto um pequeno arrepio, mas tento disfarçar, lambuzando os lábios e bebendo um pouco de água.¤
▪︎ Na cozinha, Dayana e Dani arrumam uma bandeja de salgadinhos. ▪︎
-Dayana: Essa mulher de Miguel não desgruda, né? Affs!
-Dani: Deixa a Jô em paz, Dayana! Essa sua obsessão por Miguel ainda vai acabar com você. Coloca na sua cabecinha que ele não te quer. Entende isso? Olha como ele olha para a mulher dele, acha mesmo que ele terá olhos para você?
-Dayana: Não vou dar meu braço a torcer assim. Não mesmo!
-Dani: Acho melhor você parar com isso! Porque se você estragar a minha festa, eu juro por Deus que te expulso da minha casa, você vai ter que ficar com o nosso pai, e eu tenho certeza que não é isso que você quer, é?
-Dayana: ...
-Dani: É, Dayana?
-Dayana: Não, não é. Eu gosto daqui e você tá sendo uma boa irmã. Até que eu encontre um trabalho, prefiro ficar aqui. Odeio a casa do papai, eu o amo, mas tenho ódio do fato dele ser um velho bêbado.
-Dani: Day, você nem pode falar assim do papai, também já está quase bêbada.
-Dayana: Não estou quase bêbada, estou normal.
-Dani: Eu não acho isso. Mas, por favor, seja boazinha comigo, ok? Não se meta num relacionamento que está bem. Eu não irei te perdoar se você fizer besteira esta noite, nem irá adiantar colocar a culpa na bebida.
¤Joelma
Dani serve salgadinhos para mim e para Miguel, então se ajoelha entre nós dois, falando baixinho conosco.¤
-Dani: Não quero me meter no relacionamento de vocês, só quero dizer uma coisa.
-Joelma: O quê?
-Dani: Eu adoro vocês!
-Joelma: Ah, Dani, já está bêbada? [Sorri]
-Dani: Não, eu estou normal. [Sorri] Nossa, vocês são gostosos, dá tesão só de ver. Me convidem para um trisal.
-Joelma: Daniela!
-Dani: Desculpa, é que o desejo toma conta de mim ao lado de vocês. Vocês são uma delícia... não são, Miguel?
-Miguel: Não sei de nada. [Fica sem jeito]
-Dani: Eu fico perto de vocês e sinto a boca salivar, entendem? Vocês liberam a endorfina, serotonina, dopamina e ocitocina em mim, o que me dá muito prazer e tesão. Aaahh... que delícia.
-Joelma: Maluca, você está maluca! [Sorri]
-Dani: Maluca... maluca por vocês. [Levanta] Por favor, não se separem nunca!
-Miguel: Jamais, não se preocupa.
-Joelma: Ela tá doidinha, amor.
-Miguel: Sim, está.
¤Miguel
Olho Joelma ao meu lado e sorrio. Dani tem razão, somos um ótimo casal, eu sei e sinto. Agora tudo que quero é ir pra casa e deitar com ela na nossa cama, não para transar, sim para ter a companhia dela em particular. Conversar, abraçar, sorrir... ela me traz uma paz inexplicável e é tudo que preciso além dos meus filhos.¤
-Joelma: Tá tudo bem, amor? [Acaricia o rosto de Miguel]
-Miguel: Sim, só estou pensando no quanto é bom ter você como esposa.
-Joelma: Ai, que bobo. [Dá um selinho em Miguel] Vou ao banheiro, já volto.
-Miguel: Não demora, quero ir pra casa.
-Joelma: Pode deixar.
¤Joelma
Beijo o rosto de Miguel e vou até o banheiro, que está ocupado. Fico esperando a pessoa sair e tenho o azar de ver que é Dayana.¤
-Dayana: Desculpa, querida, demorei no banheiro?
-Joelma: Não, não se preocupa, eu não estou tão apertada assim.
-Dayana: Ah, que bom.
-Joelma: Pois é.
¤Joelma
Tento entrar no banheiro, mas Dayana coloca o braço para eu não passar.¤
-Joelma: Desculpa, tem algo a me dizer? Sei lá, uma introdução de como usar o banheiro?
-Dayana: Não seja idiota, Joelma.
-Joelma: Acho que não sou eu a idiota aqui.
-Dayana: Você se acha superior, né? Mas você não é e nunca será. Eu não costumo perder nas guerras.
-Joelma: Guerras? Que guerras?
-Dayana: Não banque a sonsa.
-Joelma: Ok, então eu não vou bancar. Você quer o quê? O meu marido? É isso que você quer? [Dá um leve sorriso] Eu já saquei a sua, garota, e lamento que você tenha tido esse tipo de escolha. Imagina gostar de um homem CASADO e que nem te quer... nossa, acho que eu cortaria os pulsos, mas como o assunto não é comigo, eu te desejo sorte. Nessa situação eu fico feliz em ser a mulher dele, porque muito mais vale ser a esposa amada do que a frustrada mal comida.
-Dayana: Olha aqui, sua...
-Dani: Posso saber o que está acontecendo aqui? [Aparece na porta do banheiro]
-Joelma: Nada, Dani. Eu só preciso usar o banheiro. Posso, Dayana?
-Dayana: Sim, claro que pode.
¤Joelma
Dayana tira o braço e eu entro no banheiro. Faço xixi, lavo as mãos, me olho no espelho e passo um pouco de batom. Porém, assim que tento sair, a porta está trancada por fora.¤
-Joelma: Meu Deus! [Fica nervosa] Oi! [Bate na porta] Por favor, alguém abre essa porta! Por favor! Ah, era só o que me faltava...
¤Miguel
Estranho a demora de Joelma e levanto para ir atrás dela, mas no caminho até o banheiro, encontro Dayana, que já está um pouco bêbada.¤
-Dayana: Tá indo aonde?
-Miguel: Vou atrás da minha esposa.
-Dayana: Esposa? [Sorri em tom de deboche] A mulher que te abandonou, te deixando pra trás com quatro filhos? Meu Deus!
-Miguel: Dayana, eu não quero ser grosso com você, pois sei que está bêbada, mas isso não é problema seu.
-Dayana: É meu sim, pois eu te amo de verdade.
-Miguel: O quê? Você tá maluca?
¤Joelma
Sinto a minha respiração travando, odeio a ideia de estar trancada num espaço tão pequeno. Me desespero e começo a tremer, porém, antes que a respiração pare, Dani abre a porta do banheiro.¤
-Dani: Joelma? Tá tudo bem?
-Joelma: Alguém me trancou. Eu... eu... eu fiquei nervosa. [Sai do banheiro]
-Dani: Você está bem? [Segura Joelma]
-Joelma: Irei ficar. Com licença.
¤Joelma
Quando chego ao pátio, vejo Dayana perto de Miguel, o que me deixa com muita raiva, já sei que foi ela que me trancou no banheiro. Me aproximo mais, cheia de vontade de dar dois tapas na cara dela, porém, ela diz algo que me deixa abismada.¤
-Dayana: Fica comigo, Miguel, me dá uma chance!
-Miguel: Dayana, eu já tenho uma mulher!
-Dayana: Você dizia para todos que ela tinha morrido, que você era viúvo. Acha mesmo que ela te merece? Não, não merece!
¤Miguel
Dayana toca os lábios dela nos meus, mas eu a empurro, não a quero de forma alguma.¤
-Miguel: Você está louca? [Olha Joelma] Joelma... eu posso explicar.
-Joelma: Pois então explica... pode explicar. Que história é essa que eu fui dada como morta?
-Dayana: Ah, você não sabia? [Sorri] Ouçam todos, todos! [Grita] Essa mulher aqui... [Aponta para Joelma] abandonou o esposo e os quatro filhos... e agora... agora ela acha que é uma boa pessoa. [Sorri] Ridícula! Você merecia ser menosprezada, pena que o Miguel seja tão babaca.
-Joelma: Meu Deus...
-Miguel: Joelma...
¤Joelma
Eu não tenho força ou coragem para responder Dayana, apenas saio da casa de Dani e vou para a minha casa, já me desmanchando em lágrimas.
Assim que entro na sala, Miguel entra mais atrás.¤
-Miguel: Joelma...
-Joelma: Foi bom o beijo? Foi, Miguel? [Engole em seco e encara Miguel]
-Miguel: Eu não esperava aquilo, eu juro! Ela me beijou, e nem foi um beijo, foi apenas um...
-Joelma: E foi bom pra você? Foi? [Grita] Meu Deus, e isso nem é o pior. [Passa a mão no rosto]
-Miguel: Olha, eu levantei para ir atrás de você e...
-Joelma: Viúvo? Era isso que dizia para ela? Aliás, para todos, né? Porque acho que ela falou no plural.
-Miguel: Ela está bêbada, Joelma!
-Joelma: Não, mas eu tenho certeza de que ela não iria inventar essas coisas, não mesmo! Então, por qual motivo você dizia que era viúvo se estou viva? Hein?! Aliás, quem éramos antes do acidente? O que foi que aconteceu no passado? O que você está escondendo de mim?
-Miguel: ...
-Joelma: Fala! [Grita]
-Miguel: Eu já falei a você que estávamos nos separando quando...
-Joelma: Não, mas tem muito mais que isso... muito mais. Miguel, eu tô te dando a chance, me fala o que aconteceu, me fala a verdade!

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora