Capítulo 51

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¤Rafael
Não falo mais nada, só levo a mamãe pra casa. Ao chegarmos, ela senta no sofá e começa a chorar... não sei o que aconteceu, mas me sinto culpado.¤
-Rafael: Mãe, desculpa...
-Joelma: Rafa, isso não tem nada a ver com você.
-Rafael: Eu acho que tem sim.
-Joelma: O quê? [Encara Rafael]
-Rafael: Desculpa.
-Joelma: Você sabia... [Levanta do sofá] Você sabia que ele estaria sozinho na casa!
-Rafael: ...
-Joelma: Sabia, né?
-Rafael: Sim, eu sabia... eu olhei sobre o passeio nas redes sociais de Clarita.
-Joelma: Rafael, como pôde fazer isso comigo?
-Rafael: Desculpa, mãe... eu pensei que a sua reconciliação com o Miguel poderia dar certo.
-Joelma: Pois pensou errado! Pensou muito errado.
-Rafael: Mãe, a senhora o ama.
-Joelma: Sim, eu o amo... mas como te falei, a mentira sempre estará exposta na cara dele... e eu sinceramente não sei se irei conseguir perdoar.
-Rafael: E eu não sei se irei conseguir entender, pois por conta dessa mentira, a senhora viveu a melhor coisa da sua vida!
-Joelma: Foi maravilhoso sim, Rafael... mas só eu sei o quanto isso está a me destruir, pois eu não consigo aceitar a verdadeira vida que eu tinha antes do acidente.
-Rafael: E não precisa disso! A senhora pode conciliar as duas, basta querer! Mas, pelo visto, a senhora prefere sentir ódio e remorso, o que é uma pena, pois essas coisas só destroem a si mesma. Com licença.
¤Joelma
Rafael sobe a escada e eu sento no sofá novamente, pensando em Miguel... talvez o Rafa não esteja errado, mas eu não quero aceitar isso, parece que a mágoa quer me destruir.¤
¤Miguel
À noite, quando os meninos chegam do passeio, eles tomam banho e vamos jantar todos juntos.¤
-Miguel: Vocês não sabem quem esteve hoje aqui.
-Clarita: Quem?
-Miguel: A Joelma.
-Enzo: A mamãe esteve aqui?
-Miguel: Sim, ela esteve... deixou um bolo pra vocês.
-Gabriel: De chocolate? [Fica animado]
-Miguel: Sim, isso mesmo.
-Gabriel: Nossa, que maneiro!
¤Miguel
Depois do jantar, os meus filhos comem o bolo, ainda sentados a mesa. Não demora muito, a minha caçula levanta e se aproxima de mim, coçando os olhinhos.¤
-Miguel: Tá com sono, pequenina?
-Isabel: Eu quero a mamãe.
-Miguel: Filha...
¤Miguel
Toco em Isabel e a pego no colo, mas logo o desespero toma conta de mim, pois a minha menina está queimando de febre.¤
-Miguel: Isa... Isa, você está sentindo alguma coisa?
-Isabel: Saudade da mamãe.
-Miguel: Isa...
-Clarita: O que foi, papai?
-Miguel: Sua irmã... sua irmã está queimando de febre. [Levanta da mesa] Rápido, Clarita, chama a Dani para ver a Isa, por favor.
-Clarita: Sim, já estou indo.
¤Miguel
Subo a escada com Isabel no colo até o quarto dela, a deitando na cama, totalmente preocupado com ela.¤
-Miguel: Isa, se você estiver sentindo alguma coisa, me fala, por favor, me fala.
-Isabel: Tá bom, papai.
-Dani: O que houve? [Entra no quarto]
-Miguel: A Isa está com febre... por favor, Dani, examina ela, se for alguma coisa grave, me fale, irei levá-la ao hospital.
-Dani: Tá, vou ver.
¤Dani
Miguel e os meninos ficam me encarando, todos nervosos, o que me deixa um pouco desconfortável e nervosa também.¤
-Dani: Gente, vocês podem me dar espaço? Por favor, é que assim não dá pra eu me concentrar.
-Miguel: Quer que a gente saia do quarto?
-Dani: Sim, só me deixem aqui com a Isa.
-Miguel: Tá bom.
¤Miguel
Saio do quarto com os meninos e ficamos na sala, esperando a Dani descer e nos dizer algo. Passam alguns minutos e ela desce.¤
-Miguel: Então, Dani, o que foi com a minha menina? É algo grave?
-Dani: Não tem nada de grave com a Bel, Miguel...
-Miguel: E por qual motivo ela está queimando de febre?
-Dani: Olha, não sei se vocês irão aceitar de boa o que irei dizer, mas, é esse o diagnóstico que vou dar. A Bel está com o emocional abalado, ou seja, ela está "doente de saudade", entendem?
-Miguel: O quê?
-Clarita: Ela está com saudades da Joelma, né?
-Dani: Sim, exatamente.
-Clarita: Ah, tadinha...
-Dani: Conversei com ela, tenho certeza que é apenas isso.
-Miguel: Isso quer dizer então que o único remédio que pode curar a Bel é...
-Dani: A própria Joelma.
-Miguel: Ah, entendi...
-Dani: Pode dar um jeito nisso?
-Miguel: Seria mais fácil comprar um remédio na farmácia.
¤Joelma
Passo a noite toda inquieta... não consigo dormir. Ao amanhecer, levanto e vou até o jardim na frente de casa, onde aproveito para molhar as plantas. Perdida em meus pensamentos bobos, não vejo uma pessoa se aproximar.¤
-Miguel: Bom dia.
-Joelma: Ai, que susto! [Coloca a mão no coração]
-Miguel: Desculpa, eu não queria te assustar.
¤Joelma
Encaro Miguel e eu sinto uma corrente de emoções passando por todo o meu corpo. Eu olho em seus olhos e minha boca fica seca e ao mesmo tempo saliva bastante.¤
-Joelma: O que você quer aqui, Miguel?
-Miguel: Antes de você vestir sua armadura contra mim, escuta o que vim falar.
-Joelma: O que é?
-Miguel: Eu juro que não vim por mim.
-Joelma: E veio por quem então?
-Miguel: Joelma, a nossa filha, a Bel... ela passou a noite com febre...
-Joelma: O quê? E você a levou ao hospital? O que falaram? É algo grave?
-Miguel: Não... eu não a levei ao hospital.
-Joelma: Por que não?
-Miguel: Porque... porque o remédio dela é você.
-Joelma: O quê?
-Miguel: A Dani examinou ela... o emocional dela está abalado, ela precisa te ver. Por favor, Joelma, pense com carinho e vem comigo, a Bel precisa de você. [Segura a mão de Joelma]
¤Joelma
Meu coração se parte ao meio quando escuto essas palavras de Miguel, fico sem jeito, sem graça. Mas a minha decisão é rápida.¤
-Joelma: Ok... eu vou só me arrumar e vou com você.
-Miguel: Obrigado, Joelma, obrigado.
¤Joelma
Entro em casa, me arrumo e falo para Rafael para onde estou indo, que me pede para avisar qualquer coisa. Saio no carro com Miguel e, no caminho, vamos calados, nem sequer nos encaramos. O meu coração fica numa velocidade que não sei explicar, só sentir... é meio que estranho isso.
Ao chegar na casa, subo até o quarto e vejo Clarita tentando dar mingau para Isabel.¤
-Clarita: Você precisa comer, Bel.
-Isabel: Mas eu já disse que não quero.
-Clarita: Bel...
-Isabel: Não, eu não quero!
-Joelma: E se eu der pra você, você come?
-Isabel: Mamãe!
¤Joelma
Isabel levanta da cama e corre para os meus braços. Eu a abraço forte... muito forte, sentindo os meus olhos encherem de lágrimas... é, eu não posso negar o quanto amo essa menina e todos os irmãos dela também.¤
-Isabel: Eu sabia que viria, sabia!
-Joelma: Ah, filha... desculpa a minha ausência... a vida ficou de cabeça pra baixo.
-Isabel: Tá tudo bem, mamãe, pelo menos a senhora voltou... voltou pra mim. [Acaricia o rosto de Joelma] Senti muita saudade.
-Joelma: É, eu sei.
-Isabel: Pensei que tinha me abandonado, mas lembrei da senhora dizendo que jamais faria isso, fiquei a te esperar. A senhora não quebrou a promessa.
-Joelma: Ah, Bel...
-Isabel: Promete pra mim que nunca mais vai embora? Promete, por favor!
¤Joelma
Quando Isabel diz isso, olho para Clarita e Miguel... eu não sei como responder isso.¤

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora