Capítulo 49

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-Rafael: Como assim não pensou nisso?
-Joelma: Eu... eu... eu não sei, tá? Não sei mesmo. [Respira fundo] É algo totalmente difícil, e eu não quero explicar.
-Rafael: Há quanto tempo sente esse enjoo?
-Joelma: Mês passado, eu passei mal, a minha pressão caiu e eu desmaiei, tive até tontura, porém foi só estresse... eu acho. Só que agora, estou assim novamente, está mais forte. Tô tendo fortes enjoos e vômitos... não disse antes pois não queria preocupar você.
-Rafael: Relaxa, aposto que é realmente um bebê, nada grave.
-Joelma: Será?
-Rafael: Vou comprar um teste na farmácia, aí sim teremos certeza, que tal?
-Joelma: Não, Rafa... eu tô com medo.
-Rafael: Medo? Medo de quê?
-Joelma: Eu não sei, tô nervosa.
-Rafael: Fica de boa, mamãe, vai dar certo.
¤Joelma
Rafael sai de casa para ir na farmácia, quando ele volta, faço o teste e fico esperando o resultado no quarto, andando de um lado para o outro.¤
-Rafael: A senhora vai furar o chão assim.
-Joelma: Desculpa, é que tô nervosa.
-Rafael: É porque a possibilidade é grande, não é?
-Joelma: Ai, Rafa...
-Rafael: Não tinha uma camisinha na casa do Miguel?
-Joelma: Rafael!
-Rafael: Eu acho que não, né? Isso explica o motivo dele ter tantos filhos.
-Joelma: Quer parar com isso?
-Rafael: Ok, desculpa. Olha, se der negativo, o que acho improvável, teremos que procurar um médico, porque pode ser um caso mais grave.
-Joelma: Sim, sim. Mas, por favor, não conte ao seu pai, não me sinto confortável com ele.
-Rafael: Não contarei, relaxa.
-Joelma: Que demora, né?
-Rafael: São só dois minutos, mamãe, calma. [Sorri] Respira que já já sai o resultado.
-Joelma: E se der positivo... o que faremos?
-Rafael: Não sei... mas, aí a sua recuperação de memória tem que ser mais rápida, porque acho que só a senhora mesmo para resolver isso.
-Joelma: Ai, meu Deus...
-Rafael: A senhora acha que será menino ou menina?
-Joelma: Rafael!
-Rafael: Eu acho que será menina, eu sempre quis uma irmãzinha.
-Joelma: Ô, céus... [Sorri] Rafa, por que você não tem irmãos?
-Rafael: Isso a senhora que tem que me dizer, né? E infelizmente não pode me dizer no momento.
-Joelma: Ah, verdade. [Sorri]
-Rafael: Já deu os dois minutos, eu vou ver o teste.
¤Joelma
Rafael vai até o banheiro e vê o teste. Quando ele volta, não parece feliz com o resultado.¤
-Joelma: O que foi?
-Rafael: O resultado deu inexato.
-Joelma: E o que isso quer dizer?
-Rafael: Que não temos um resultado exato. Acho que precisamos ir até o médico, um exame no hospital é mais confiável, vamos?
-Joelma: Sim, vamos.
¤Joelma
Saio com Rafael e vamos até o hospital, onde faço um exame de sangue e outro de urina. Fico longos minutos esperando o resultado com o meu filho, mas, no final da tarde, a médica nos chama.¤
-Joelma: Então, doutora... eu estou grávida?
-Rafael: Quantas semanas, doutora?
-Médica: Desculpa, mas não há bebê algum.
-Joelma: O quê?
-Médica: Você não está grávida, desculpa.
-Joelma: Ah...
¤Joelma
Perco o sorriso no rosto quando a médica diz isso... eu sinto um vazio tão grande dentro de mim, porque apesar do medo, eu gostaria de estar esperando um bebê.¤
-Rafael: E todos os enjoos que ela tá tendo? Que outra coisa seria?
-Médica: Ah, com certeza é uma bactéria, passarei outro exame para ela, para ter certeza e poder liberar o uso do antibiótico, não se preocupa.
-Joelma: Ok... obrigada, doutora.
¤Joelma
Saio da sala da médica e vou direto para o estacionamento, entro no carro e sigo viagem com Rafael, mas vou calada o tempo todo.
Já em casa, deito na cama e fico pensando em como seria se eu estivesse grávida... talvez eu quisesse muito isso. Fico tocando em minha barriga até o meu filho entrar no quarto com uma caixa de pizza.¤
-Rafael: Quer comer comigo?
-Joelma: Pizza, Rafa?
-Rafael: Vi que a senhora ficou triste com o resultado, então resolvi comprar uma pizza... quando tô triste, a pizza resolve os meus problemas, vai que...
-Joelma: Ah, Rafa... obrigada.
¤Joelma
Sento na cama e como pizza com Rafael, está uma delícia, não nego, meu filho teve uma boa ideia quando decidiu comprá-la.¤
-Rafael: A senhora gosta muito do Miguel, né?
-Joelma: Rafael...
-Rafael: Mãe, eu tô vendo a forma como a senhora está... se abre comigo, não estou aqui para te julgar.
-Joelma: Ai, Rafa... eu amo o Miguel... eu o amo tanto que chega a doer aqui dentro, mas... mas quando você descobre que a melhor coisa que aconteceu na sua vida começou com uma mentira é como construir uma casa na areia movediça, uma hora vai desmoronar. Eu não consigo pensar nem em vê-lo, porque apesar de todo amor que tenho... a mentira dele sempre estará explícita.
-Rafael: Mas a mentira dele fez a senhora viver a melhor coisa da sua vida... pense nisso.
-Joelma: Rafa, ele me odeia... tentou me matar.
-Rafael: Desculpa, mas eu não acredito nisso... nem mesmo a senhora acredita, mãe. A senhora finge que acredita para poder sentir raiva dele e substituir o amor por ódio, eu sei... eu sei que é isso.
-Joelma: Como você... como você me conhece tão bem?
-Rafael: Bem... eu sou o seu filho, né?
-Joelma: Fofinho. [Sorri]
-Rafael: E acredite, sempre é bom perdoar... quando a senhora perdoar, vai ver que a mentira é tão pequena perto do amor que a senhora sente.
-Joelma: Obrigada, filho... obrigada.
¤Joelma
Assim que a pizza acaba, me arrumo e vou dormir. Ao amanhecer, vou até a cozinha, fazer um bolo de chocolate, pois tô com tanta vontade de comer um.¤
-Rafael: Vai fazer um bolo? [Entra na cozinha] Bom dia.
-Joelma: Bom dia. Sim, bolo de chocolate. Você gosta?
-Rafael: Sim, muito.
-Joelma: Ah, ótimo. Não vai para a faculdade hoje?
-Rafael: Não, tranquei para viajar.
-Joelma: Hum, eu havia esquecido. Então teremos um dia de mãe e filho. [Sorri]
-Rafael: Pois é.
¤Joelma
Enquanto bato a massa do bolo, lembro de Gabriel me abraçando, dizendo que ama bolo de chocolate e que tudo que faço é bom... que saudade do meu menino.¤
-Rafael: Por que bate na mão? Tem a batedeira para isso.
-Joelma: Porque eu prefiro assim, Gabriel, o gosto é mais gostoso.
-Rafael: Opa! Acho que a senhora errou o meu nome. [Sorri]
-Joelma: O quê?
-Rafael: A senhora me chamou de Gabriel, eu sou Rafael, lembra?
¤Joelma
Olho para Rafael e fico sem jeito. Paro de bater a massa e sento na cadeira, começando a chorar.¤
-Rafael: Mãe, calma...
-Joelma: Desculpa, desculpa.
-Rafael: Mamãe, por favor, relaxa, está tudo bem.
-Joelma: Não, não está! [Levanta] Eu não aguento mais! Não aguento! Rafael, não se sinta culpado, pois não tem nada a ver com você, mas eu quero e preciso desabafar. Eu odeio esta casa! Eu odeio estar aqui, odeio tudo isso! Odeio! Rafa, eu amo você, de verdade! Mas eu não aguento mais fingir, não aguento mais dizer que está tudo bem, porque não está! NÃO ESTÁ!
-Rafael: Está infeliz aqui?
-Joelma: Totalmente! E isso está acabando comigo. Eu quero os meus outros filhos, a minha outra casa... eu quero o Miguel! [Engole em seco] Eu quero muito o Miguel...

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora