Capítulo 33

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¤Miguel
Eu tenho muita vontade de contar toda a verdade para Joelma, pois a mentira tá acabando comigo e eu já odeio o fato de enganá-la. Mas, infelizmente tenho que inventar uma nova mentira, o que me corrói por dentro¤
-Miguel: Eu vou te contar a verdade.
-Joelma: Pois conte, estou esperando respostas da sua parte.
-Miguel: Por favor, só fique calma.
-Joelma: Eu tô calma, Miguel!
-Miguel: Ok. Estávamos separados quando você sofreu o acidente, eu já falei.
-Joelma: Sim, e eu já entendi. Mas e o resto?
-Miguel: Eu vou contar.
¤Miguel
Respiro fundo e invento mais uma mentira, porém, com o coração cheio de tristeza por eu estar fazendo isso com a mulher que eu amo.¤
-Miguel: Joelma, a gente só brigava, o tempo todo, por tudo, por qualquer coisa. Você era a pessoa mais arrogante da face da Terra, o que me deixava extremamente revoltado, o que me fez pedir o divórcio assim que a Isabel completou um aninho. Você foi embora...
-Joelma: Espera! Eu fui embora? Como assim eu fui embora? Não foi isso que me contou na última vez.
-Miguel: O quê?
-Joelma: Você disse pra mim que eu saí de casa naquele dia e sofri o acidente, foi isso que me disse.
-Miguel: É, mas agora... agora tô falando a verdade, a verdade completa.
-Joelma: Você tem certeza disso?
-Miguel: Tenho.
-Joelma: Miguel, é a última vez que te pergunto... [Olha nos olhos de Miguel] você tem certeza disso?
¤Miguel
Me sinto mal... muito mal. Eu tô mentindo, porém isso é para não perder a Joelma, porque no momento é o que mais tenho medo. Eu não sei como ficaremos quando ela descobrir a verdade, mas no momento, eu preciso sustentar a mentira.¤
-Miguel: Tenho, tenho certeza do que falo.
-Joelma: Ok... então fale.
-Miguel: Ok. Você nos deixou sem olhar pra trás. Vinha aqui em casa, às vezes, para ver os meninos, óbvio. Mas nós dois só brigávamos, sempre, não importava a ocasião, era algo cansativo. E naquela noite não foi diferente, você ligou, me provocando, a gente brigou e você estava no carro, e aí aconteceu o que aconteceu, você já sabe o resto da história.
-Joelma: Meu Deus!
-Miguel: Estou te falando de forma resumida, pois não gosto de lembrar disso. Você sem memória me encantou de forma diferente, mas... mas o que aconteceu no passado ainda me deixava pisando em ovos. Era por isso que queria que você lembra-se de tudo, porém, me apaixonei pela pessoa que você é agora e deixei acontecer. Na minha cabeça, ainda acho que errei, mas, a culpa é menor, pois fiz por amor.
-Joelma: Amor? [Encara Miguel] Ô, céus! Poderia simplesmente ter me contado desde o princípio toda essa história. [Começa a chorar] Eu me sinto um monstro agora, e você escolheu me enganar.
-Miguel: Você iria sentir da mesma forma se eu tivesse falado no começo.
-Joelma: É, mas agora eu estaria bem melhor, tenho certeza!
-Miguel: Joelma... [Se aproxima de Joelma]
-Joelma: Não, não toca em mim! [Se afasta] Agora eu que não quero que você me toque enquanto eu não lembrar de quem eu sou.
-Miguel: O quê?
-Joelma: Estou revoltada com isso, e não sei por qual motivo, acredito que você continua mentindo pra mim. Então não toca em mim, não fala comigo! E se dizia com tanta vontade que era viúvo, fique com a Dayana, pois tenho certeza de que os dois se desejam, se é que já não tiveram algo. Porém, se dizia que eu havia morrido, por que disse com toda certeza no hospital; "sou seu esposo"? Me passou segurança e agora acabou com ela!
-Miguel: ...
-Joelma: Só eu sei como me sinto agora, Miguel. Meus parabéns, você caprichou na forma de me magoar. [Bate palmas]
-Miguel: Joelma...
-Joelma: Não, não fala comigo!
¤Joelma
Subo a escada, indo para o meu quarto, onde bato a porta, me trancando. A vontade que tenho é de gritar, porém, deito na cama e choro baixinho, com o coração dilacerado.¤
¤Miguel
Sento no sofá e fico passando a mão em minha cabeça, cheio de ódio de mim mesmo. Eu não acredito que menti novamente... eu não acredito que magoei a Joelma com mais uma mentira. Tento ficar calmo, mas não consigo.
Não demora muito, Isabel, minha caçulinha, desce a escada.¤
-Isabel: Tá tudo bem, papai?
-Miguel: Oi, filha... acordei você?
-Isabel: Sim, mas a Clarita ainda dorme.
-Miguel: Que bom, meu amor. Vem aqui.
¤Miguel
Isabel se aproxima de mim e eu a abraço forte, me acalmando nos braços da minha pequena.¤
-Isabel: Papai...
-Miguel: Oi, meu amor.
-Isabel: A mamãe vai embora?
-Miguel: O quê? Não... ela não vai.
-Isabel: O senhor promete?
-Miguel: Filha, eu acho que isso tá fora do meu alcance. [Se emociona] Mas, eu vou rezar para ela ficar, ok? Eu errei, Bel, errei muito feio em ter feito a besteira de ir em frente com a minha vingança, e agora percebo que afetei muita coisa, o que não era preciso e...
-Isabel: Calma, papai, não tô entendendo o que o senhor está falando.
-Miguel: É... é verdade. [Respira fundo] É coisa de adulto, você é apenas uma criança. Porém, saiba que o papai fez algo errado, mas ele irá consertar, tá bom?
-Isabel: Tá bom, papai.
-Miguel: Agora eu vou te pôr na cama.
¤Miguel
Subo até o quarto de Bel, a colocando na cama e a fazendo dormir. Quando ela adormece, saio no corredor, me aproximando da porta do meu quarto. Penso em bater e chamar por Joelma, porém escuto ela choramingando, o que me parte o coração, não tenho coragem de ir em frente, então desço a escada, voltando para a sala.¤
¤Joelma
Escuto os passos de Miguel descendo a escada. Mas continuo encolhida na cama, abraçada no travesseiro. Meu coração está partido... e eu não quero ver Miguel tão cedo. Se dependesse de mim, eu iria sumir por uns três dias, mas jamais faria isso com os meus filhos, eu preciso ficar perto deles.¤
-Joelma: Ai, Deus... tira essa dor que eu sinto agora. Me faça lembrar, Senhor, me faça lembrar de tudo... eu preciso saber o que aconteceu, eu preciso saber se tem como essa relação ir pra frente... eu preciso de respostas.

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora