Capítulo 21

27 3 14
                                    


¤Joelma
Depois da minha oração, eu fico cantarolando... até que um homem se aproxima de mim, um salva-vidas.¤
-Vicente: Tudo bem, senhora?
-Joelma: Ai, oi. [Limpa as lágrimas e levanta] Estou bem sim, só estava observando o sol nascer.
-Vicente: É, mas já faz alguns minutos que ele nasceu.
-Joelma: Sim, é verdade. [Sorri]
-Vicente: Fiquei preocupado, é que você parece triste, fiquei com medo de estar pensando besteira.
-Joelma: Besteira?
-Vicente: Sim... você sabe...
-Joelma: Ah... você pensou que eu iria me matar? [Sorri] Não, não, eu só tava observando o mar mesmo.
-Vicente: Sim, entendo. É que nunca sabemos como a mente do próximo está.
-Joelma: É, é verdade. Mas tô indo pra casa já, não se preocupa. Inclusive, acho que estou atrasada, preciso ir.
-Vicente: Quer companhia?
-Joelma: Não precisa, eu posso ir sozinha.
-Vicente: Imagina, eu insisto.
¤Joelma
Aceito a companhia do salva-vidas e vamos andando para a minha casa. Enquanto caminhamos, ele puxa assunto comigo.¤
-Vicente: Você está passando por um momento difícil? Quer conversar?
-Joelma: Não, não... tudo bem. [Respira fundo] Vai passar, eu sei que vai.
-Vicente: Hum.
-Joelma: Escuta, qual é o seu nome?
-Vicente: Vicente. Sou salva-vidas, cheguei cedo hoje para dar uma corrida antes de iniciar a atividade.
-Joelma: Ah, sim.
-Vicente: E qual é o seu nome?
-Joelma: Joelma... me chamo Joelma.
-Vicente: Casada?
-Joelma: Uooouhhh... [Sorri] estou passando por um processo de separação.
-Vicente: Ah, entendi.
-Joelma: É, tá sendo difícil. Fico pensando nos meus quatro filhos quando a gente se separar.
-Vicente: Espera aí, você ainda mora com ele?
-Joelma: Sim, moro. Mas estamos apenas morando mesmo, não temos mais nada.
-Vicente: Isso parece papo de homem cafajeste, eles sempre usam essa desculpa.
-Joelma: É, mas eu não estou mentindo.
-Vicente: Ok, acredito em você.
-Joelma: Enfim, essa é a minha casa.
¤Joelma
Paro em frente a minha casa, e encaro Vicente. Olhando direito para ele, percebo o quanto ele é bonito... nossa, ele é muito bonito! Grande, forte, simpático e bonito... um pouco tentador eu diria.¤
-Vicente: Tá entregue, ok?
-Joelma: Obrigada.
-Vicente: Olha, sei que acabamos de nos conhecer... mas, eu gostaria de saber se você não quer dar uma volta comigo qualquer dia desses, tomar um sorvete...
-Joelma: Ah, eu...
-Miguel: Posso saber o que está acontecendo aqui? [Aparece na porta]
-Joelma: Miguel...
-Miguel: Onde você estava, Joelma?
-Joelma: Fui apenas dar uma volta, eu estava precisando.
-Miguel: Deveria ter avisado, eu fiquei preocupado.
-Joelma: Rum, tá bom. Enfim, Vicente, foi um prazer. [Abraça Vicente] Quanto ao sorvete, podemos sim.
-Vicente: Que tal amanhã à noite? Aliás, umas 17:30. Podemos ver o pôr do sol e passear pela praia.
-Joelma: É uma bela ideia.
-Vicente: Ok, então passo aqui amanhã.
-Joelma: Fico no aguardo.
¤Joelma
Vicente sai e eu fico observando ele indo embora. Depois, encaro o olhar de Miguel, porém ele não ousa falar nada, nem eu. Entro em casa, dou bom dia aos meus filhos e subo até o meu quarto, onde tiro a roupa e me enrolo numa toalha, preciso de um banho.¤
-Miguel: Quem era o cara que veio te deixar aqui? [Entra no quarto]
-Joelma: Um salva-vidas, não viu a farda dele?
-Miguel: Um salva-vidas? E por qual motivo um salva-vidas veio deixar a minha mulher em casa?
-Joelma: Então de repente sou a sua mulher? [Encara Miguel]
-Miguel: É, claro que é. Estamos passando por um momento difícil, mas...
-Joelma: Não, estamos passando por uma separação. Você mesmo disse ontem que sou teimosa e difícil de lidar, eu lembro de cada palavra. Você não me deu esperança de que vamos ficar juntos quando eu recuperar a memória, não tô entendendo o seu descontrole por conta do Vicente.
-Miguel: Não é descontrole, é preocupação.
-Joelma: Não, não é preocupação, é descontrole mesmo. Olha, vou te dizer uma coisa, posso até estar sem memória, mas sei cuidar de mim, ok? Não se meta na minha vida, se estamos nos separando, eu te proíbo de dar palpite no que quer que seja da minha vida, estamos entendidos?
¤Miguel
Encaro o olhar de Joelma, e ela parece falar sério. De alguma forma, já consigo sentir a amarga Joelma de antes. Pelo visto, não vai demorar muito para ela recuperar a memória, então deixa acontecer.¤
-Miguel: Ok, que assim seja. [Sai e bate a porta]
-Joelma: Uau. [Senta na cama] O que foi isso? Um ataque de ciúmes? [Dá um leve sorriso]

             *****************

¤Rafael
Pela manhã, antes de ir para a faculdade, desço a escada para ir tomar o meu café na cozinha, porém, vejo o advogado da minha mãe na sala, junto com Karen, a viúva do meu avô... isso pra mim não é nada normal.¤
-Rafael: O que vocês fazem aqui? Alguma novidade no caso da minha mãe?
-Advogado: Não, nenhuma. Mas, eu vim ler o testamento.
-Rafael: O quê? Por quê? A minha mãe não morreu!
-Leonardo: Sabemos, filho. [Desce a escada] Mas, não custa nada saber o que está escrito, né?
-Rafael: Não sei por qual motivo, mas desconfio que o senhor não está procurando a minha mãe, nem nada, é tudo mentira!
-Karen: O que é isso, Rafael? Não acuse o seu pai assim.
-Rafael: E a senhora cala a boca, que nem da senhora a minha mãe gosta!
-Karen: Menino, cadê a sua educação?
-Leonardo: Filho, estou procurando a sua mãe sim, preciso de uma resposta, não posso simplesmente viver a vida sem ter uma resposta para o que aconteceu.
-Rafael: Aham, sei.
-Advogado: Posso ler?
-Rafael: Não é o certo, mas já que está aqui...
¤Rafael
Me sento à mesa com os outros e o advogado começa a ler o testamento... acho interessante algumas coisas, porém, eu não esperava pelo final.¤
-Advogado: "...e por fim, quero deixar aqui registrado que toda a minha fortuna fica com o meu filho Rafael, deixando claro que absolutamente TUDO é para ele".
-Leonardo: O quê?
-Advogado: Ainda não terminei de ler.
-Karen: Como assim tudo para o Rafael? Isso não é possível!
-Advogado: Continuando... "porém, meu pequeno garoto só vai poder ter tudo quando se formar ou completar 21 anos, então, as coisas ficarão na mão do PAI BIOLÓGICO do meu menino".
-Leonardo: Isso só pode ser palhaçada com a minha cara! [Levanta da mesa]
-Rafael: Por quê? Só porque ela não deixou nada para o senhor?
-Leonardo: Garoto, não me irrita!
-Karen: Eu vou atrás dos meus direitos. Eu...
-Rafael: Que direitos? A senhora era amante do meu avô, fez a minha avó morrer grávida da irmã da minha mãe, então se tornou esposa, acha que tem algum direito nessa família? Pelo amor de Deus, só temos nojo de você!
-Karen: Rafael, preste bem atenção como fala comigo, não sou uma imbecil.
-Rafael: Mas parece uma! E por fim, papai, só quero que saiba que agora tenho determinação para terminar a faculdade. [Levanta da mesa]
-Leonardo: Para quem estava preocupado com a mãe e agora está bem animado com o testamento... posso chamar de hipocrisia?
-Rafael: Não, não é hipocrisia... só estou feliz em ver que os dois paspalhos caíram do cavalo.
-Leonardo: Garoto insolente! [Dá um tapa na cara de Rafael] Ouviu tudo? Eu cuido de todas as coisas até você fazer 21 anos, eu! [Sorri]
-Advogado: Acho que o meu trabalho acabou por aqui. [Arruma a pasta]
-Rafael: O senhor vai se arrepender por esse tapa, eu lhe juro!
-Leonardo: Isso é uma ameaça?
-Rafael: Eu odeio o senhor! Odeio! [Se segura para não chorar] E pela forma como a mamãe destacou "pai biológico", eu duvido muito que seja o senhor o meu pai de verdade. [Sai andando]
-Leonardo: Infelizmente sou eu sim!
-Rafael: "Infelizmente" digo eu, mas, enfim, vou atrás da minha mãe, nem que seja no cemitério, mas lhe garanto que irei achá-la.
-Leonardo: Boa sorte!
-Rafael: Quem vai precisar de sorte é o senhor quando eu contar para todos que a mamãe desapareceu e ninguém fez nada até agora! [Sai de casa]
-Leonardo: Filho da puta!
-Karen: Ele só disse isso porque está com raiva, Leonardo.
-Leonardo: E quem te perguntou, sua velha idiota? Nem sei por qual motivo você está aqui... pois deveria estar com a Joelma: no inferno!

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora