Capítulo 50

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¤Rafael
Mamãe limpa as lágrimas e respira fundo, ela está tão péssima, não dá mais para disfarçar.¤
-Rafael: Eu entendo a senhora. [Abraça Joelma] Quer ir visitar os meninos?
-Joelma: O quê?
-Rafael: Se quiser, eu levo a senhora até lá.
-Joelma: É tudo que mais quero.
-Rafael: Então termina de fazer o bolo, assim a senhora pode levá-lo para eles, que tal?
-Joelma: Boa ideia. Obrigada, filho.
¤Joelma
Volto a bater o bolo e uma senhora entra na cozinha pela porta de trás, me dano um leve susto.¤
-Joelma: Ah, meu Deus!
-Rafael: O que faz aqui?
-Joelma: Quem é ela, Rafa?
-Karen: Joelma, eu soube que foi encontrada, por favor, precisamos conversar.
-Rafael: Ela foi encontrada há mais de uma semana, hoje que a senhora veio conversar? Fala sério!
-Karen: Rafael, eu tive que me preparar para estar aqui, tá? Não foi fácil pra mim... estamos falando da sua mãe, eu...
-Rafael: É perda de tempo falar com a mamãe agora, pois ela não lembra de nada, está sem memória.
-Karen: O quê?
-Rafael: Isso mesmo que a senhora ouviu. Agora sai e bate a porta.
-Karen: Não, eu preciso falar com ela.
-Rafael: Karen...
-Karen: Joelma, eu vim aqui dizer que sei que errei, eu sei. [Se emociona] Mas não aguento mais o seu desprezo... me perdoa! Me perdoa por tudo que fiz à sua família. Sei que não lembra de mim, mas quando lembrar, por favor, me perdoe!
-Joelma: A senhora é quem? Desculpa, eu...
-Rafael: Ela é a sua madrasta... tinha um caso com o vovô quando a vovó estava grávida da sua irmã e descobriu sobre eles. Por culpa dessa mulher, a vovó morreu... sua irmã também. Ela é a causadora da sua amargura, por isso a senhora é uma megera! É por conta do ódio que sente por ela!
-Joelma: Meu Deus!
-Karen: Rafa, eu sei que também não me suporta, mas... pode ter certeza que lamento muito por tudo, acredite em mim. Eu sei que não fui uma boa pessoa no passado, porém, estou tentando consertar o meu erro. Não tenho ninguém neste mundo... e quero me reconciliar com vocês dois, pois são as duas pessoas que mais devo.
-Joelma: Qual é o seu nome?
-Karen: Sou a Karen.
-Joelma: Então, dona Karen... não sei o quanto te odeio, é uma história complicada, mas, guardarei o seu pedido de perdão.
-Rafael: Mamãe!
-Karen: Ah, Joelma... obrigada. Desculpa por tudo que te fiz passar, desculpa. Quanto a você, Rafael...
-Rafael: Olha, não quero falar com a senhora, poderia nos dar licença? Estamos de saída, a senhora está atrapalhando.
-Karen: Ah... tudo bem, meu querido. Porém, saibam que já tiraram um peso das minhas costas... me sinto leve agora.
¤Joelma
Karen vai embora e eu abraço Rafael, pensando no que ele disse.¤
-Joelma: Você acha que ela foi sincera?
-Rafael: Não sei... talvez sim, porém, ainda é cedo para tomar uma decisão, a mamãe com memória nunca a perdoou, duvido muito que faria isso agora. Enfim, vamos nos organizar? Temos que ir para a casa de Miguel. E a senhora ainda não terminou o bolo.
-Joelma: Verdade.
-Rafael: Tá ansiosa para vê-lo?
-Joelma: Estou indo para ver os meus filhos, né? Não esqueça disso!
-Rafael: Mas a senhora disse...
-Joelma: Eu não disse nada, eu só quero ver os meus filhos!
-Rafael: É, claro que é. [Sorri]
-Joelma: Rafael, você não está aprontando nada, né?
-Rafael: Eu? Jamais, mamãe. Jamais!
-Joelma: Aham... espero que esteja certo disso.
¤Joelma
Depois que termino de fazer o bolo, Rafael me leva de carro para fazer o exame que a médica mandou, e depois vamos até a casa de Miguel. Ficamos parados na frente da casa, tento criar coragem para ir até lá.¤
-Joelma: Pelo horário as crianças já chegaram da escola.
-Rafael: Sim, já sim.
-Joelma: Pois é, vou lá. [Respira fundo]
-Rafael: Vou dar uma volta na praia, qualquer coisa, me liga, ok?
-Joelma: Tudo bem.
¤Joelma
Desço do carro e vou até a porta da casa, a abro e entro, então vejo Miguel no sofá da sala, sozinho, assistindo TV.¤
-Miguel: Joelma?
¤Joelma
É a primeira vez que vejo Miguel pessoalmente desde a vez da delegacia. Fico nervosa, mas tento disfarçar, não quero que ele me veja como uma fraca.¤
-Joelma: Vim ver os meninos, Miguel. Estou com saudade deles.
-Miguel: Viagem perdida, pois eles saíram para um passeio da escola.
-Joelma: O quê?
-Miguel: Hoje teve um passeio na escola e eu paguei para eles irem, pois estão bem tristes, precisam se distrair... só voltam à noite.
-Joelma: Ah... tudo bem. Enfim, eu trouxe este bolo, se puder entregar para eles. [Vai até a cozinha e coloca o bolo na mesa]
-Miguel: Joelma... [Se aproxima de Joelma]
-Joelma: É só isso, Miguel. Preciso ir.
-Miguel: Por favor, não. Me deixa falar com você, te explicar.
-Joelma: Não quero saber de explicações... eu... eu só quero ir embora.
¤Joelma
Caminho até a porta principal, porém, Miguel vem atrás de mim e não me deixa a abrir, mantendo fechada com a mão.¤
-Joelma: Miguel, por favor...
-Miguel: Joelma, eu sei que está com raiva de mim, eu sei. Mas precisa me ouvir. Eu errei, eu menti, te enganei... porém, quando disse que te amava, quando toquei em seu corpo, quando cuidei de você... foi tudo real, eu não menti em nada. Não estou feliz com a sua ausência, pois preciso de ti, eu te amo de verdade!
-Joelma: Miguel, não, não! [Se segura para não chorar]
-Miguel: Eu odiei você sim, quando me mandou embora da sua casa sem pagar pelo meu serviço, mas o amor surgiu com o tempo e até hoje ele mora em mim. Eu sei que você também me ama, Joelma, eu sei! Então coloca esse sentimento pra fora, assume que sente o mesmo por mim e me perdoa. Olha, me bate, me humilha, me xinga... faz o que quiser comigo, mas não me maltrata mais ficando longe de mim e me ignorando assim. E se ainda não é o suficiente... [Se ajoelha aos pés de Joelma] estou aqui de joelhos, clamando pelo seu perdão. Me perdoa, meu amor, me perdoa!
¤Joelma
Não consigo me segurar e começo a chorar. Nunca imaginei que Miguel estaria sozinho em casa, e que me falaria isso tudo. Que ódio!¤
-Joelma: Imbecil! Meu Deus! [Limpa as lágrimas] Por que está fazendo isso comigo, Miguel? Por quê?
-Miguel: Porquê eu amo você e eu preciso do seu perdão. [Abraça as pernas de Joelma] Se se sente melhor... pode descontar a sua raiva em mim.
-Joelma: Não, Miguel, não! Isso é loucura, isso é doentio. Levanta daí!
-Miguel: Então diz que me perdoa!
-Joelma: Levanta!
-Miguel: Joelma...
-Joelma: Eu nunca, nunca irei perdoar você! Eu odeio lembrar que todo o meu conto de fadas foi jogado no lixo por sua mentira! Você foi a minha maior decepção, Miguel, eu odeio você!
-Miguel: Não, não me odeia! Eu sei que não me odeia! [Levanta]
-Joelma: Não, você não sabe de nada, nada! Agora me dê licença, eu preciso ir.
-Miguel: Joelma...
¤Joelma
Eu consigo abrir a porta e saio correndo pela praia, chorando muito. Depois de alguns minutos, vou para o calçadão e encontro Rafael no carro.¤
-Rafael: Mãe... tá tudo bem?
-Joelma: Só me leva pra casa. [Entra no carro]
-Rafael: Mãe...
-Joelma: Rafael, por favor, só me leva pra casa!

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora