Capítulo 4

27 3 5
                                    


📲Onde você está, Joelma?
📲Estou no meio do nada... eu... eu estou nervosa, Miguel. Por que não me disse nada?
📲Você nem sequer me deu a chance.
📲Ah, meu Deus... ah, meu Deus! Eu não acredito que irei morrer por conta da sua incompetência!
📲Ei, calma, eu posso ajudar!
📲Como? Me diz! Como?
📲Joelma, escuta, liga o seu GPS do celular, eu vou te achar.
📲Promete?
📲Prometo!
¤Miguel
Desligo o celular e me arrumo correndo, desesperado, preocupado. Antes de sair, minha filha mais velha vem falar comigo.¤
-Clarita: O que foi, papai? Aconteceu alguma coisa?
-Miguel: Cuide de seus irmãos, eu irei resolver um problema, já volto.
-Clarita: Pai...
¤Miguel
Saio de casa e encontro o meu vizinho na porta, por eu estar desesperado, peço para ele dirigir para mim. Com o GPS do meu celular ligado, vou atrás de Joelma.¤
¤Joelma
Começo a ficar ainda mais desesperada, tanto que choro, lembrando do quão cruel fui com o meu filho pela manhã. Por estar nervosa, acabo não vendo um carro que vem em minha direção, desviando dele e me jogando do penhasco.¤
▪︎Joelma cai do penhasco e o outro carro sai, sem prestar socorro para ela.▪︎
¤Miguel
Perco o sinal do GPS quando faltam alguns minutos para chegar perto. Desço do meu carro e fico indignado. Eu sei que Joelma é uma péssima pessoa, mas se ela morrer, me sentirei culpado pelo resto da vida. Dênis, meu vizinho, desce do carro também, se aproximando de mim.¤
-Miguel: Droga! Droga!
-Dênis: Calma, meu amigo... vamos encontrá-la.
-Miguel: Se essa mulher morrer... se ela morrer, eu nunca irei me perdoar.
-Dênis: Ela não vai, calma.
-Miguel: Tô tentando... o penhasco... ela caiu do penhasco. [Sai correndo]
-Dênis: Miguel!
¤Miguel
Corro até perto do penhasco e vejo o carro lá embaixo, mas não está pegando fogo, o que é um milagre. Desço num desespero e vejo Joelma com a cabeça no volante, toda suja de sangue. Tudo falhou... nem sequer o air-bag funcionou, a pancada foi grande, e a chance dela continuar viva é mínima das mínimas. Fico desesperado, nem sequer tenho forças para tocá-la. Alguns segundos se passam, e Dênis se aproxima de mim.¤
-Miguel: Ai, meu Deus! [Respira fundo] Acabei com a vida da desgraçada! Eu... eu... meu Deus!
-Dênis: Calma, Miguel, fica calmo, porra! Caralho, o seu nervosismo não vai adiantar de nada!
-Miguel: E a minha calma vai? Olha pra ela... ela... ela morreu, não tem como sair viva dessa queda!
-Dênis: Temos que ver isso.
¤Miguel
Dênis abre a porta do carro, então toca em Joelma, com cuidado.¤
-Miguel: Ela está morta?
-Dênis: Calma, porra!
-Miguel: Fala alguma coisa, Dênis, por favor!
-Dênis: Não, ela está viva.
-Miguel: Ai, graças a Deus!
-Dênis: Temos uma esperança. Por favor, me ajuda a tirá-la daqui, temos que levá-la ao hospital.
¤Miguel
Tiro o cinto de segurança da cintura de Joelma, e mesmo toda suja de sangue, o seu perfume ainda predomina o seu corpo. É um cheiro bom, não posso negar. Penso em um milhão de coisas confusas, mas logo me atento para tirá-la do carro.
Com a ajuda de Dênis, levo a mulher mais arrogante do mundo para um hospital público, rezando para darem um jeito nos ferimentos dela.
Na recepção, eu ando de um lado para o outro, sem saber o que fazer.¤
-Dênis: Vamos embora?
-Miguel: Não, eu preciso saber se ela vai sair viva dessa.
-Dênis: Miguel, se ela sair viva, é melhor não estarmos aqui quando ela acordar.
-Miguel: Não, eu... eu vou assumir o risco.
-Dênis: Miguel...
-Miguel: Eu sei o que estou fazendo, Dênis.
-Dênis: Ok, tudo bem, eu não falo mais nada
-Miguel: Se quiser ir, tudo bem, qualquer coisa, te ligo.
-Dênis: Mas, qualquer coisa, me liga mesmo, por favor.
-Miguel: Pode deixar.
¤Miguel
Dênis vai embora e eu me sento na recepção, mandando mensagem para Clarita sobre o que está acontecendo.
Odeio hospital, odeio! Nem entendo por qual motivo fiquei aqui, ainda mais por uma mulher que não vale a pena, eu poderia acompanhar de longe, mas ter o coração bom acaba com um homem que quer fazer tudo certinho sempre.
Sento numa cadeira da recepção e encosto a minha cabeça no vidro da janela, pegando um cochilo, porém, o sono acaba quando um paciente chega gritando no hospital, dizendo que tem um bicho dentro do ouvido dele, fico tenso, é o tipo de coisa que odeio ver, por isso não suporto estar em hospital... sem dizer que eu lembro de Adriana... minha falecida esposa, eu a vi gritando, chorando... e eu não pude fazer nada, apenas deixá-la partir. São tantos pensamentos ruins, a única vontade que tenho é de sair correndo, mas eu não... não, não posso.
Vou até o banheiro e lavo o rosto, quero me manter acordado até saber como Joelma está.
Por volta de 03:00 horas da manhã, a enfermeira vem até mim.¤
-Enfermeira: O senhor é acompanhante de... Fernanda Silva?
¤Miguel
Claro que menti o nome de Joelma, eu não poderia arriscar a minha vida ou sei lá... foi a única ideia que tive.¤
-Miguel: Sim, sou eu. Ela está bem, doutora?
-Enfermeira: Preciso que venha comigo.
¤Miguel
Vou até o quarto que Joelma está, a olhando deitada e desacordada numa maca. Sim, me sinto culpado, pois deveria ter falado que o carro estava inapropriado para ser usado, porém, na minha cabeça passou que ela iria pedir para outro mecânico finalizar o trabalho. Como alguém pode colocar a própria vida em risco assim? Ela havia olhado que eu não tinha terminado o serviço, e mesmo assim arriscou sair.¤
-Enfermeira: Ela está viva, felizmente, porém, temos uma notícia não muito boa para contar.
-Miguel: O que foi? Ela tem poucos dias de vida?
-Enfermeira: Não, não... a pancada na cabeça foi muito grande, me admiro dela ainda estar viva, porém, está sem memória, provavelmente.
-Miguel: O quê?
-Enfermeira: Ela não lembrará de nada... nem sequer o nome. Memória zero.
-Miguel: Isso por quanto tempo?
-Enfermeira: Talvez dure alguns dias, talvez semanas ou meses... não temos algo específico. Mas fazendo acompanhamento médico certinho, o caso será resolvido mais rápido, isso com certeza.
-Miguel: Entendi.
-Enfermeira: O senhor é o que para ela?
-Miguel: Eu? Eu sou... sou marido dela.

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora