Capítulo 6

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¤Miguel
Joelma adormece e eu aproveito para ir em casa falar com os meus filhos sobre o que está acontecendo. Confesso; tenho vontade de desistir de tudo isso, mas algo dentro de mim diz que é pra eu ir em frente.
Agora é convencer os meus filhos dessa loucura. Clarita é a minha filha mais velha, tem 16 anos, mas é muito madura para a idade dela, cuida dos outros três como se fossem seus filhos. Enzo tem 14 anos, é o mais sapeca, apronta todas sempre que pode. Gabriel é mais calmo, o fechado que quase não fala nada, tímido e reservado. Já Isabel... minha doce caçula, tem 4 anos, adora contos de fadas, ama brincar e é a que mais sofre com a falta da mãe. Minha esposa, Adriana, morreu no parto dela, então ela nem sequer chegou a conhecê-la. Sempre que dá, ela pergunta pela mãe, quer saber como ela era e o que fazia... sempre peço a Deus que a minha pequena nunca se culpe pela morte da mãe.
Sento com eles na sala e explico o meu plano.¤
-Miguel: Então... é isso.
-Clarita: O senhor vai trazer uma mulher desconhecida pra cá? Tá brincando, né?
-Enzo: E ainda vai apresentar a gente como filhos?
-Isabel: Ela é bonita, papai?
-Miguel: Sim... porém, quero que me ajudem, por favor. Não é certo o que estou fazendo, mas já me meti nisso, vou ter que ir em frente.
-Gabriel: Pode deixar, papai.
-Clarita: O quê? Você pirou, Gabriel? Isso é loucura! Não, não podemos aceitar uma mulher, desconhecida, dentro da nossa casa!
-Miguel: Clarita, por favor...
-Clarita: Não, papai, não! Olha o que o senhor está fazendo, está colocando as nossas vidas em risco, não percebe isso?
-Miguel: Eu jamais colocaria a vida de vocês em risco, acreditem em mim. E mesmo assim, vai ser só uma pegadinha, logo ela lembrará de tudo e voltaremos para as nossas vidas normais. Ela me deve por o que fez em relação ao meu trabalho, por favor, Clarita, me deixe fazer isso.
-Clarita: Hum... [Respira fundo] ok, tudo bem.
-Miguel: Beleza!
-Clarita: Mas se acontecer algo de ruim comigo ou com os meus irmãos, eu vou lhe culpar pelo resto da vida!
-Miguel: Não, não vai acontecer nada de ruim. Vai dar tudo certo.
-Isabel: E que horas ela chega, papai?
-Miguel: Eu ainda não sei. Ah, eu também vou pedir que vocês não se apeguem nela, por favor.
-Clarita: Claro que não vamos, papai, não se preocupa quanto a isso.
-Miguel: Ok, ótimo. Agora, tenho que ir, pois irei ver uma forma de trazê-la ainda hoje.
-Clarita: Tá bom. É pra fazer o almoço?
-Miguel: Sim, melhor.
-Isabel: Posso ajudar na cozinha, papai?
-Miguel: Não, meu amor, não, não. Você ainda é muito nova pra isso.
-Isabel: E eu vou fazer o quê?
-Miguel: Vai brincar. [Pega Isabel no colo] À noite vou te comprar um sorvete, tá bom?
-Isabel: Tá bom.
¤Miguel
Com a ajuda de Dênis, consigo uma autorização para levar Joelma para um hospital particular, porém, claro que é uma farsa, é só para levá-la para a minha casa.
Eu moro numa casa perto da praia, com três quartos, dois banheiros e a sala-cozinha, não é luxuosa, porém é bonita e eu amo.
Ao tirar Joelma do hospital, levo ela para a minha casa de carro, junto com a ajuda de Dênis. Quando chegamos na porta, eu ajudo ela a descer.¤
-Joelma: Não íamos para outro hospital?
-Miguel: Não, você precisa da nossa casa e dos nossos filhos. Respira, tá tudo bem, vamos cuidar de você, Joelma.
-Joelma: Por que a enfermeira me chamava de Fernanda, você sabe me dizer? Você me chama de Joelma  e ela de...
-Dênis: Ela com certeza tinha vários pacientes, confundiu o nome, talvez foi isso. Não esquenta a cabeça, Joelma, o importante é que você já está em casa.
-Joelma: É... é verdade. Será que os meus filhos vão gostar de mim?
-Miguel: Eles... eles já gostam, não se preocupa quanto a isso.
-Joelma: Ai, desculpa... eu tô nervosa.
-Dênis: Não precisa ficar assim, afinal, eles são os seus filhos e te amam mais que tudo, né, Miguel?
-Miguel: É, Dênis... é claro que é.
¤Joelma
Entro na casa e acho ela tão fofa. O nervosismo vai passando e eu começo a me sentir bem. Ao chegar na cozinha, vejo os quatro filhos... um mais lindinho que o outro. Dou um leve sorriso, então Miguel se aproxima de mim.¤
-Miguel: Vamos para as apresentações, né? Essa é Clarita, nossa filha mais velha, tem 16 anos, Enzo tem 14 anos, o Gabriel tem 11, e a neném, Isabel, tem 4 anos, é a nossa caçula.
-Joelma: Ah... oi, crianças.
-Clarita: Bem-vinda... bem-vinda de volta. [Fica sem jeito] Tá se sentindo bem?
-Joelma: Um pouco... acho que só preciso deitar.
-Clarita: Ah... legal.
-Enzo: Bem-vinda de volta, mamãe.
-Gabriel: É, bem-vinda.
-Joelma: Obrigada, vocês são fofos. Tô feliz em... em estar de volta.
-Enzo: É, a gente também tá feliz com a sua presença.
-Joelma: E você, princesa, não vai me dizer nada?
-Isabel: Eu?
-Joelma: Sim, você.
-Isabel: Eu... eu posso te abraçar?
-Miguel: Isabel!
-Isabel: Desculpa.
-Joelma: Ah, claro que ela pode me abraçar, Miguel, qual o problema nisso?
-Miguel: Nenhum, é que... é que eles não precisam te incomodar com essa bobagem.
-Joelma: Bobagem nada, são os meus filhos, eu não vou deixar de abraçá-los só porque perdi a memória. Vem, princesa!
-Isabel: Mamãe!
¤Joelma
Eu pego Isabel no colo, e ela me abraça forte, muito forte... como se tivesse guardando esse abraço há anos... me sinto tão bem agarrada nela. Então ela toca o meu rosto com a sua mãozinha pequena, dando um leve sorriso e olhando no fundo dos meus olhos.¤
-Isabel: Eu tenho uma mãe...
-Joelma: Ah, tem sim. Sentiu a minha falta?
-Isabel: Uma vida toda. [Acaricia o rosto de Joelma]
-Joelma: Ah, que fofa você é.

Joelma - Sem Memória Onde histórias criam vida. Descubra agora