Joelma - Sem Memória

Capítulo 20

¤Joelma
Fico assustada com a revelação de Miguel. Como isso pode ser verdade? Se bem que explicaria muita coisa, afinal, ele se nega a tocar em mim mesmo com tanta vontade.¤
¤Miguel
Olho nos olhos de Joelma, que estão lacrimejando, dói o meu coração vê-la assim. Eu penso em contar toda a verdade, mas o peso na consciência é maior, afinal, sabe Deus como ela vai reagir... então eu minto.¤
-Miguel: Estávamos nos separando quando você sofreu o acidente.
-Joelma: O quê?
-Miguel: Você... você é uma pessoa teimosa e difícil de lidar, Joelma. Nossa convivência estava insuportável, eu não aguentava mais.
-Joelma: Ah, meu Deus... isso só pode ser brincadeira.
-Miguel: Mas não é.
-Joelma: É sim, claro que é! Eu sou uma pessoa difícil? Eu? Quem me garante que é verdade isso? Você é uma pessoa que só grita, só grita quando está zangado, quer ser o dono da razão e eu... eu sou uma pessoa difícil e teimosa? Eu duvido muito que eu tenha esses adjetivos!
-Miguel: Mas você tem! Esses e outros piores, pode acreditar.
-Joelma: Miguel...
-Miguel: É verdade, não estou mentindo, essa é a verdade!
-Joelma: E por que mentiu pra mim, hein?! Por qual motivo?
-Miguel: Porque você é uma pessoa solitária, naquele dia você saiu de casa e sofreu o acidente, sabe Deus para onde iria. Se eu não falasse que éramos casados, o hospital não iria deixar você sair tão cedo de lá, e eu aposto que você não queria ficar lá, queria?
-Joelma: Isso não vem ao caso agora. A verdade é que se não estamos mais juntos, isso explica o ódio que você tem de mim!
-Miguel: O quê? Não...
-Joelma: Tem sim, tem ódio sim! Você me odeia, eu sei e sinto... me deseja muito, mas o ódio é maior e...
-Miguel: Não, Joelma, não. Olha, toda essa situação é complicada, mas eu tenho certeza que não odeio você. Você que me odeia!
-Joelma: O quê? Você está louco? Tá escutando o que está dizendo? Eu? Odiar você?
-Miguel: Sim, odeia sim. Como falei antes, não estávamos no melhor momento das nossas vidas, então...
-Joelma: Isso não é justificativa para eu odiar você.
-Miguel: Acredite, é isso. E é por isso que não posso tocar em você, não mesmo. Quando você recuperar a memória, vai me odiar, me odiar muito, ainda mais se eu te levar pra cama. Eu posso até amar a Joelma sem memória, mas a verdadeira Joelma é impossível de amar!
-Joelma: Não, não é! Se temos quatro filhos é porque em algum momento nós nos amamos e nos amamos muito.
-Miguel: Ah... sim, claro... temos quatro filhos e...
-Joelma: Viu? Você está mentindo pra mim!
-Miguel: Não é isso, Joelma...
-Joelma: Então me diga o que é!
-Miguel: Você me ama?
-Joelma: Amo, amo muito. Sou louca por você. Da mesma forma que tenho vontade de te beijar, tenho vontade de te bater, porém, te proteger também... não sei, é algo bem estranho. Mas eu tenho certeza que é amor.
-Miguel: É lindo o que me diz, mas a Joelma de verdade jamais me amará, disso eu tenho certeza.
-Joelma: Para de falar como se existissem duas de mim, porque não existem, existe uma única Joelma, eu, eu! Sei que tô sem memória, mas eu tenho certeza que mesmo que eu me lembre de tudo amanhã, você ainda estará guardado em meu coração.
-Miguel: Não tenho tanta certeza disso.
-Joelma: Miguel, você não sabe dos meus sentimentos!
-Miguel: Eu sei, sei sim. Quando você lembrar de tudo, não ficaremos mais juntos.
-Joelma: Ah, é? Quando eu lembrar de tudo? Eu não sei se percebeu, mas já não estamos juntos. Não é à toa que você quer dormir na sala.
-Miguel: Joelma...
-Joelma: Pode ir... a porta está só encostada, pode sair.
¤Miguel
Joelma não diz mais nada. Apenas vira de costas pra mim e se olha no espelho da penteadeira, escovando os cabelos. Eu penso em um milhão de coisas, mas não digo nada, apenas saio do quarto, fechando a porta.¤
¤Joelma
Miguel sai e eu me coloco a chorar. Derrubo tudo da minha penteadeira e sento no chão do quarto, me tremendo toda, cheia de raiva por sentir tanto amor por um homem que nem me ama mais... se é que um dia amou.
A noite é tenebrosa pra mim, não consigo dormir direito, penso em Miguel o tempo todo, no toque dele... no beijo dele... sinto que estou ao ponto de enlouquecer. Eu preciso de uma salvação.
Quase 05:00 horas da manhã, eu levanto da cama, me arrumo e desço até a sala, onde Miguel dorme TRANQUILAMENTE, é... ele realmente não sente nada por mim, porque enquanto perdi o sono pensando nele, ele dormia de boa, como se a briga de ontem fosse apenas uma ilusão. Respiro fundo e saio de casa, indo até a praia. Talvez ver o sol nascendo me faça feliz.¤
¤Miguel
Eu passei a noite toda inquieto, pensando em Joelma. Eu dormia e acordava no susto, ela está tão presa em meus pensamentos que a cada cochilo eu tinha um sonho curto com ela. Consigo dormir direito depois das 04:40 da manhã. Acordo quase 06:30, com a zoada do liquidificador. Sento no sofá e olho para a cozinha, onde a minha primogênita está.¤
-Clarita: Desculpa, papai, eu não queria acordar o senhor.
-Miguel: Não, tudo bem, já está na hora.
-Clarita: Tô fazendo abacatada, vai querer um pouco?
-Miguel: Não, eu prefiro o café.
-Clarita: Quer que eu faça?
-Miguel: Não, eu vou fazer. Cadê seus irmãos?
-Clarita: Já vão descer.
-Miguel: Hum. [Levanta do sofá] Aliás, faça o café, vou chamar a sua mãe.
-Clarita: Minha mãe Joelma?
-Miguel: Não brinca com isso, Clarita.
-Clarita: Desculpa. [Sorri] E ela não está, não precisa chamar.
-Miguel: O quê?
-Clarita: Passei na porta do quarto de vocês antes de descer, ela não estava lá.
-Miguel: E pra onde ela foi?
-Clarita: Eu não sei.
¤Joelma
Me sento na areia da praia, olhando o mar e o sol nascendo. Eu choro em silêncio, eu não sei o que mais desejo; recuperar a memória ou sumir do mundo. Eu estou devastada por dentro, gostar de Miguel está acabando comigo.
Sentindo a brisa do mar em meu rosto, eu faço uma pequena oração.¤
-Joelma: Senhor... por favor... por favor... restaura o meu casamento. Eu realmente não lembro de como era antigamente esse casamento, mas eu amo o meu marido... me dá uma chance de ser feliz com ele, apenas uma chance. Eu prometo que quando recuperar a memória, darei a minha vida para ficarmos juntos pra sempre.