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"Pode ter certeza que não é apenas você que quer ir embora e viver a vida miserável e inútil."

Três meses e duas semanas...

Depois de um tempinho, eu fui me acostumando com aquele lugar, com aquelas pessoas, com aquela comida ruim, com choros...

Eu olhava para uma goteira que pingava e caia diretamente em uma vasilha vermelha. Minha cabeça doía pelo barulho das garotas falando como papagaios.

Quanto tempo já se passou desde que eu fui sequestrada? Um mês e duas semanas? Talvez.

A me viro para dormir, estava apenas querendo esquecer os problemas. Estou tão acostumada com essa vida de problemas e confusões que parece que me tornei um robô. Estava quase dormindo quando a porta foi aberta e atraiu a atenção de todas nós.

- O almoço. - Aquele mesmo homem que eu tinha visto quando acordei no dia do meu sequestro, de cabelos espetados e tatuagem no rosto.

Todas as garotas avançaram nas marmitas, eu fiquei observando o mesmo olhar ao redor e dar as costas, indo embora.

Outro homem se aproximou e deixou uma pequena mala de água. Saíram pela porta e logo a trancaram.

Eu suspirei e observei as meninas comendo, eu estava faminta mas a comida não descia pela minha garganta. Eu não conseguia ingerir nada, estou com fome há três luas mais ou menos.

Eu voltei a deitar já que a minha cabeça estava doendo, fechei os olhos e tentei dormir ouvindo o som irritante dos talheres de plástico contra o alumínio da marmita.

Senti um catuque no meu ombro, olhei para a pessoa assim que abri os olhos. Harumi estava com uma garrafinha de água quente e uma marmita fechada direcionando-os na minha direção.

- Coma você. - Digo, após ignorar sua presença e coloquei a mão na minha cabeça sentindo-a latejando.

- Não será apenas dor de cabeça que sentirá se continuar sem comer, seu corpo irá enfraquecer e mais problemas surgiram. - Estendeu mais uma vez o alimento na minha direção.

- Hoje não vai ocorrer moleza para quem for encolhida, sugiro que coma mesmo... Ryomen vai nos infernizar já já. - Ouço a voz de Zira, ela me olha com indiferença e braços cruzados.

Eu não tinha um olhar diferente do dela desde que cheguei nesse lugar, eu me sentia muito mal por ser tão fraca. Eu sempre deixo as coisas me atingirem, as vezes eu não preciso nem deixar, elas apenas me atingem.

Sempre foi assim, todos fazem o que querem comigo... Como se eu fosse uma boneca de porcelana facilmente usável.

- Infenizar de qual modo? - Questiono, a crespa desviou o olhar e deu as costas.

- Você saberá. - Zira saiu sem dizer mais nada, apenas foi até as marmitas, pegando uma para si.

Olhei para Harumi que ainda tinha um sorriso no rosto, me entregando a marmita e a água. Ela não fez mais nada, apenas se levantou e caminhou até a mulher negra que comia sua comida com bastante fome.

Minha barriga roncou e eu me arrepiei. Tirei a tampa e comecei a empurrar comida para dentro da boca e obrigando minha garganta a engolir.

...

Pela pequena janela - se é que eu posso chamar um buraco pequeno na parede quase no topo do teto - eu vi que o dia já havia se tornado noite. Quando eu terminei de comer, eu dormi o dia todo, era a melhor coisa pra se fazer já que ouvir reclamações sobre unhas que precisam de uma manicure e cabelos que necessitam de hidratação, reconstrução e o caralho a quatro era cansativo.

Harumi estava o tempo todo tentando falar comigo, me cobriu durante o sono já que meu corpo tremia com o frio.

Na verdade, eu não tinha frio.

Eu sentia era medo daquele pesadelo que se repete toda noite.

A cabeça do Fushiguro... Ela me causava náusea toda vez que eu lembrava. Era terrível a cena que eu presenciei há um mês atrás.

A porta se abre, por ela entrou Sukuna. Meu instinto despertou e eu cerrei os dentes com ódio, mas meu corpo travou de medo.

Seu olhar encontrou o meu, seu sorriso perturbador era mais um dos motivos das minhas noites em claro.

- Já está na hora, já ficaram tempo demais sentadas. - Declarou, Sukuna olhou para cada uma.

A frase de Zira roda a minha cabeça, eu permaneço no chão e abraçada a minhas pernas. Sukuna me olhou com seus olhos frios e escarlates.

Seu sorriso se torna mais amplo e assustador. Seu caminhar até mim foi lento e tenebroso para mim, minha necessidade de sair correndo e me esconder dele aumentou. Eu só queria ir pra casa.

Por instinto, meu corpo se levanta e se afasta, todas as garotas ficam olhando. Apenas a Mei-Mei que estava rindo silenciosamente.

- Você. - Me encolhi ainda mais no meu canto e olhei para qualquer outro lugar, porque olhar para o rosto de Sukuna estava me dando ânsia.

Seja lá o que for, eu não quero.

- Eu não quero. - Respondo, seca. – Eu só quero ir embora.

Ouço ele bufar uma risada sarcástica.

- Pode ter certeza que não é apenas você que quer ir embora e viver a vida miserável e inútil. - Ele olhou ao redor das garotas, e todas desviaram o olhar para o chão, cabisbaixas.

Sukuna voltou a me olhar, segurando o meu braço. Me assustei na hora, eu fiz menção em me soltar mas ele apertou com mais força.

- Vamos, não tenho a noite toda. - Reclamou o tatuado.

- Eu já disse que não quero, Sukuna! - Reclamei e me irritei.

As garotas me olham como se eu tivesse acabado de dizer algum tipo de absurdo, até mesmo Zira arregalou os olhos.

Ouvi alguns comentários baixos, aparentemente surpresas por eu ter usado o primeiro nome desse monstro.

Sukuna já estava começando a se irritar.

Eu o olhei, estava com medo dele me punir ou algo do tipo. Eu não aguentaria mais nada vindo dele, não aguentaria passar por aquilo de novo.

O olho novamente e respirei fundo.

- Tá bom, eu aceito. Mas o que? - Indaguei confusa.

Vi as garotas se entre olharem.

- Oh, suas novas colegas não disseram? Melhor ainda, vai se impressionar quando descobrir. - Seu sorriso torto me deixou desconfortável.

Sua mão que aperta o meu braço e me puxa para fora desse cativeiro. Minhas pernas trêmulas e a boca seca, o que vai acontecer comigo?.

Continua...

𝐼 𝑛 𝑒 𝑠 𝑞 𝑢 𝑒 𝑐 𝑖́ 𝑣 𝑒 𝑙 | 𝐺𝑜𝑗𝑜 𝑆𝑎𝑡𝑜𝑟𝑢Onde histórias criam vida. Descubra agora