Capítulo 44

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Hande abriu os olhos lentamente, ao ouvir uma voz distante que tentava despertá-la. Ela respirou fundo e encarou a enfermeira.

— Me desculpe por te acordar, mas preciso verificar seus sinais vitais.

— Tudo bem — Respondeu. Sua voz quase não saiu.

— A senhora está bem?

— Estou cansada. Só queria que tudo fosse um pesadelo — Repreendeu a si mesma quando notou que verbalizou seus sentimentos — Desculpe.

— Não se culpe. Eu também tive um aborto — Ela acariciou os cabelos de Hande, afastando-se quando notou que ela se esquivou por conta do reflexo — Perdão.

— Ainda estou assustada e com medo de tudo.

— Essa dor vai passar. Daqui a pouco você vai ter outro anjinho e vai estar mais forte — Levantou o polegar, dando um "legal" para ela.

Hande apenas sorriu, e a deixou trabalhar.

— Você está com um pouco de febre, mas nada de tão alarmante. Tem sentido dor?

— Um pouco de dor de cabeça.

— Vou sinalizar para a equipe e já já você será medicada — Hande assentiu.

Depois de recolher seu material, a enfermeira caminhou em direção à porta. Quando ela tocou a maçaneta, a mesma foi virada e a porta se abriu.

Kerem se assustou com o impacto que quase aconteceu, e pediu perdão de imediato. A doce senhora, de cabelos grisalhos, apenas sorriu e os deixou só.

— Desculpe por ter saído, precisava tomar um banho e comer algo — Disse, enquanto tirava o casado. Ele o jogou no sofá e correu para perto dela — Alguém te incomodou?

— Não — Sorriu, sem exibir os dentes — Acordei agora.

— Que ótimo — Disse, sorridente. Foi a primeira vez, desde o ocorrido, que ele sorriu com sinceridade — Anil está melhor.

— Estou com saudade dele.

— Então vamos vê-lo! — Kerem tentou obrigá-la a levantar. Ela arqueou a sobrancelha e o olhou, enfurecida.

— O que está fazendo?

— Quê? — Franziu a testa.

— Não está vendo que estou de luto? — Soltou as mãos dele com brutalidade. Kerem ficou parado, sem compreender sua atitude — Aquele bebê pode não ter sido importante pra você, mas foi pra mim! — Gritou.

Maya e Melisa entram no quarto, e param quando notam o surto de Hande.

— Amiga? — Melisa tenta se aproximar — Isso são modos?

— Aquele bebê era tudo pra mim. Mas eu tenho ciência que estagnar porque ele partiu, não vai mudar o que aconteceu — Kerem disse, com um pouco de grosseria, fazendo-a encará-lo com ressentimento — Vou me retirar, porque sei ser cruel quando eu quero — Ele a olha com dureza.

Ao vê-lo sair, ela se arrependeu do que dissera. Hande colocou as mãos sobre o rosto, abafando o choro. Maya a encarava com reprovação, mas escolheu não se meter. Apenas seguiu o irmão, deixando-a com Melisa.

— Sabe o quanto ele chorou de ontem pra hoje?

— E você acha que eu não, Mel?

— Sim, mas Kerem quer te tirar desse poço que você parece querer se enfiar.

— Vocês não entendem!

— E nem você a nós! — Levantou o tom de voz — Todos nós estamos sofrendo, uns mais que outros, mas apesar de tudo, estamos tentando te ajudar. Todos nós, inclusive ele, a quem você julgou sem pena — Aponta para a porta, que estava fechada. Hande sente os olhos queimarem por conta das lágrimas. Um nó se formava em sua garganta, enquanto ela tentava digerir a verdade — Outros bebês virão, amiga — Sua voz se suaviza — Você terá quantos filhos quiser. Mas não existe outro Kerem. Veja tudo que ele está fazendo. Anulando a si mesmo, anulando a dor, pra te ajudar a se reerguer.

Quando duas vidas se encontram Onde histórias criam vida. Descubra agora