Capítulo 5

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— Além de bom ator, é um ótimo cozinheiro — Hande enxugou as mãos no pano de prato e sorriu para o ruivo. — Existe mais algum segredo que eu deva saber? — Ela encostou o corpo no balcão e o encarou intensamente. — Mais algum talento?

— Eu sei assobiar muito bem. Ganhei uma competição uma vez. — Ela sorriu. — Preciso ligar para Maya, o tempo não melhorou e ela está só. Volto já. — Hande assentiu.

Seu olhar o seguiu até que ele sumiu no corredor. Ela abraçou o próprio corpo e se aproximou da janela, para observar a chuva. Seus pelos se arrepiaram com o frio e ela decidiu ir até a sala, encontrando Kerem com o celular próximo ao ouvido.

— Maya não atendeu. Estou ficando preocupado.

— Ela está bem, acredite.

— Eu espero. — Suspirou.

— E o resto de sua família? Sua mãe, seus primos...

— Minha mãe precisou viajar. Meus primos voltaram pra casa, e Maya ficou comigo.

— Eu sinto falta do meu irmão — Disse, ao sentar no sofá e agarrar uma almofada. — Principalmente do chocolate quente dele.

— Se você gosta do dele, gostará ainda mais do meu — Inflou o peito com orgulho.

— Só saberei se eu provar.

— Não vou te deixar esperando. Vamos lá então. — Ela o seguiu até a cozinha.

— Eu te ajudo! — Hande se mostrou empolgada ao abrir todas as portas do armário. Kerem sorriu ao vê-la relaxada, o que acontecia poucas vezes desde que se conheceram. — Hande, não, cuidado, aí é a... — Tarde demais.

Hande piscou os olhos lentamente e cuspiu uma pequena quantidade de farinha. O pote consideravelmente grande estava no chão.

— Você fica linda de branco. — Ele tentou segurar a gargalhada, mas não conseguiu. — Me desculpa, me desculpa, mas... — Continuou rindo porque notou que isso a deixava ainda mais irritada.

Ele esbugalhou os olhos quando a viu caminhar em sua direção com farinha nas mãos. Kerem correu pela cozinha, mas acabou escorregando, o que a beneficiou. Hande jogou farinha em sua cabeça e sorriu, satisfeita.

— Nunca abaixe a guarda perto do inimigo!

— Ah, é? — Ele levantou rapidamente e começou a correr atrás dela.

As gargalhadas podiam ser facilmente ouvidas do lado de fora, se não fosse pela chuva. Kerem a agarrou pela cintura enquanto tentava sujá-la com chocolate em pó. Eles continuaram gargalhando até que, aos poucos, pararam. Os olhares se cruzaram, e o que parecia ser poucos segundos, acabou tornando-se uma eternidade. Hande sentiu a batida de seu coração falhar rapidamente, e prendeu o ar ao vê-lo umidecer os lábios com a língua. Talvez essa tenha sido a vista mais linda que já presenciara. Um homem completamente sujo de farinha, encarando-a como se ela fosse uma pintura.

— Eu acho que... — Ele tentou concluir, mas sua voz estava rouca para isso. Kerem pigarreou e voltou a falar. — Acho que devíamos tomar um banho e limpar essa bagunça, antes que Maya chegue. Ela tem mania de limpeza. — Disse, soltando-a.

— Eu concordo. — Sorriu, sem graça. — Posso? — Apontou para cima.

— Claro, fique a vontade. — Ela assentiu.

Hande se apressou em sair da cozinha e correu para o quarto de hóspedes. Ela entrou feito furacão e trancou a porta, se jogando na cama logo depois. O que havia acontecido?

— Eu preciso voltar pra casa. — Disse para si mesma.

Depois de longos minutos no banho, ela vestiu um roupão e saiu, esbarrando com Kerem no corredor. Ele estava mexendo no celular, e ao ouvir seu suspiro de surpresa, levantou o olhar. Ele também estava de roupão.

Quando duas vidas se encontram Onde histórias criam vida. Descubra agora