Capítulo 7

260 23 4
                                    

Apesar de estar sentindo-se bem com a surpresa, com a presença do irmão e amigas, alguma coisa ainda a incomodava. Hande suspirou profundamente ao revirar-se na cama, sem conseguir ao menos sentir sono. Ela inclinou o corpo para frente e notou que a insônia só a atrapalhava, já que Melisa e Melo dormiam tranquilamente. Ambas com os olhos vendados e enroladas no edredom.

Foi então que ela teve a brilhante idéia de levantar para dar uma volta pela casa. Seus pés não faziam barulho algum, já que sua habilidade de fugir de casa durante a noite a deixou expert em ser silenciosa.

Hande fechou a porta lentamente e sentiu o peso do risco de acordar as amigas,  deixar seus ombros. Ela desceu as escadas devagar, deslizando a mão sobre o corrimão, e notou que chovia do lado de fora. As gotas de água caíam de forma leve sobre a grama, sem fazer muito barulho. Hande se aproximou da janela e abraçou seu próprio corpo. O pequeno jardim a fez pensar em sua mãe, que amava jardinagem. Ela fechou os olhos e respirou fundo. Como se, apesar de tudo, seu corpo ainda se sentisse cansado.

— Sem sono? — A voz de Kerem quase a fez gritar. Ela olhou para trás e colocou a mão sobre o peito. — Me desculpe, achei que tivesse me escutado chegar.

— Estava concentrada na chuva — Ela sorriu. — Não deu pra ouvir do meu quarto.

— É, aqui, se não estiver caindo com força, não dá pra ouvir mesmo.

— Você também está sem sono?

— Um pouco — Ele deu as costas e se jogou no sofá. Kerem parecia cansado. Foi a primeira vez que ele não aparentava estar bem desde que se conheceram.

— Aconteceu alguma coisa? Você não me parece bem.

— É só a louca da minha ex — Revirou os olhos. — Aaron veio me dizer que ela os abordou no mercado, querendo saber o que há entre nós.

— Isso te incomoda? — Kerem franziu a testa e acabou por negar, sem saber qual o sentido da pergunta. — Caso ainda te incomode, posso ficar no hotel. Não quero que...

— Não, não, não... — Levantou com rapidez ao balançar a cabeça para os lados. — Não me incomoda o fato dela estar sendo bisbilhoteira ou ciumenta, muito menos que você esteja aqui. — Hande ergueu a sobrancelha, olhando-o com dúvida. — O que me incomoda é ela ter terminado comigo e agora querer saber da minha vida.

— Deixe-a pra lá — Deu de ombros.

— Olha só quem fala. — Havia escárnio em sua voz. Hande levantou o canto dos lábios num sorriso discreto e agarrou uma almofada. — Quer fazer alguma coisa?

— Tipo o que?

— Sair, sei lá...

— Mas agora? Já são... — Ela procurou algum relógio pela sala.

— Duas da manhã.

— Exato.

— Sempre tem algo aberto por aqui. As pessoas não dormem as duas da manhã. Principalmente num sábado.

— Pra mim, se ainda não for 06 da manhã, ainda é sexta.

— Piorou, Hande! — Disse, exasperado — Quem dorme duas da manha numa sexta? — Ela sorriu. — Isso é um sim?

— Não. Mas também não é um não.

— Eu vou me trocar. — Ele levantou com rapidez e subiu as escadas.

Não demorou para que ambos estivessem prontos. Kerem abriu a porta para que ela pudesse sair, e ao fazer o mesmo, a trancou. Ele a guiou até a garagem e abriu a porta do carro para que ela pudesse entrar. Ele entrou, sentando-se no banco, e a olhou.

Quando duas vidas se encontram Onde histórias criam vida. Descubra agora