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FELLPP BARBIERI

— Ei, irmão, calma — Lorenzo se coloca ao meu lado, me puxando. Meu peito sobe e desce pela dificuldade em respirar. Passo o antebraço na testa, limpando a camada de suor. — Se controle, ele já está morto. O que está acontecendo com você, porra? — exclama, alterado.

Saio dos seus braços, sabendo exatamente o que está acontecendo comigo e o que vem me perturbando.

— Só preciso descontar minhas frustrações — digo, ofegante, olhando o corpo sem vida do homem que torturei — Deveria me agradecer, estou exercendo meu papel dentro da máfia.

— Você está sem controle, Fellipp. Assim, você vai perder a cabeça, caralho !— meu irmão rosna, vindo até mim — Qual a porra do problema?

— É tudo, porra! Parece que desde o momento em que conheci Cordelia, minha vida está uma confusão. Porra, estou confuso — encosto meu corpo na mesa de ferramentas e Lorenzo me olha, tentando entender a situação.

— O que está havendo? Achei que estavam se dando bem, já que não ouvi nenhuma reclamação.

— Na verdade, está bem complicado. Estou ignorando-a desde o dia que chegamos à Calábria.

— Porra! — ele exclama, jogando os cabelos para trás.

— Estou vivenciando emoções desconhecidas. Você sabe que nunca me envolvi sério com alguém e agora estou casado, dividindo uma casa, uma cama, uma vida... com outra pessoa. É confuso. Sinto remorso por fazê-la sofrer — Abaixo a cabeça e escuto silêncio; meu irmão está calado, me ouvindo — Lorenzo, você não sabe o quão filho da puta fui e estou sendo com aquela mulher. Eu a humilhei e, por orgulho, não fiz a primeira vez dela ser especial — Olho um ponto qualquer da sala — Mamãe me disse umas palavras que pesaram muito na minha consciência.

— O que ela disse? — pergunta.

— Que tudo que eu estou fazendo à Cordelia pode voltar contra mim quando eu tiver meus filhos ou filhas... 
Dona Antonella ainda jogou na minha cara se eu não tinha remoção e acrescentou dizendo que Violetta passará por uma situação bem pior nas mãos de Apollo.

— Cordelia não tem culpa de estar neste casamento; ela é uma princesa da máfia, assim como Violetta, e você, mas ninguém deveria saber como as mulheres são tratadas dentro da máfia — diz, e eu concordo. 

— E eu sei e vejo o quanto fui idiota por culpá-la por besteiras. 

— Está a ignorando porque não sabe como redimir sua culpa — declara, e sinceramente não sei como olhar em seus olhos azuis tão inocentes; na verdade, não consigo encará-la sem sentir arrependimento.

Porra, eu sou um homem feito, subchefe de uma das maiores máfias do mundo. Já matei, torturei e não sei lidar com a decepção nos olhos da minha esposa.

— Vejo o que você está fazendo, Fellipp. Você errou e não quer encarar seus erros; prefere se auto-sabotar como algum tipo de castigo. Se não, porque estaria espancando o saco de boxe até seus dedos sangrarem ou perdendo o controle nas torturas? Você já não deixa os soldados fazerem o trabalho sujo. Você está ignorando sua mulher contra sua vontade, achando que assim ela ficará bem longe de você. Você está se afastando, achando que essa é a solução mais fácil.

Engulo em seco com essas verdades sendo jogadas na minha cara.

— Porém, não é! Não é caralho! Resolva seus problemas e encare-os de frente.

Meu irmão sempre foi mais bom que eu quando o assunto é sentimentos.

— Acha que eu não sei qual é seu compromisso? — Na velocidade da luz, viro meu rosto o encarando.

Uma esposa para o mafioso: Livro 2 Série Máfia N'drangheta Onde histórias criam vida. Descubra agora