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FELLIPP BARBIERI

Visto meu terno habitual, pronto para dar continuidade à minha rotina, que havia se tornado frequentemente repetitiva. Hoje, teria que averiguar uma grande carga de drogas, o que tomaria todo o meu tempo, e ainda teria que arrumar um tempo para o meu compromisso, outra coisa que havia se tornado frequente. Saio do closet, entrando no quarto; Cordelia dorme em um sono sereno. Averiguo seu sono por alguns minutos. Ontem, depois que ela me deixou falando sozinho, Cordelia me ignorou, ficando até tarde da noite na biblioteca, e eu, querendo dar espaço, fiquei no escritório. Quando retornei, ela já estava dormindo.

Porra, era para ser um pedido de desculpas; contudo, a ruivinha sequer me deixou terminar de falar. Não a culpo, ela está magoada e com raiva. Saio do quarto, desejando mentalmente que ela tenha um bom dia, e não me reconheço.

Estive horas na sede conferindo a carga, parei somente quando meu soldado de confiança confirmou que Cordelia estava em segurança na universidade, e assim pude terminar meu trabalho.

Já estava anoitecendo quando  terminei de verifiquei as drogas que seriam transportadas para o México.

— Já está de saída? — Enrico entrou na sala.

— Sim, e como anda a construção da boate em Nova York? — Saí da sala acompanhado por Enrico. Lorenzo abriria uma das maiores boates noturnas de Nova York no mesmo edifício onde era a empresa do ex-noivo de Amélia.

— Lorenzo tem olhos para os negócios; o lugar está ficando foda! — Ele soltou uma risada. — Só custou a vida daqueles imundos — diz, referindo-se aos ex-sogros, filhos da puta da minha cunhada.

Meu irmão teve o prazer de acabar com a vida do ex da sua noiva e mandou Dante executar os sogros; contudo, antes, fez eles assinarem um documento no qual passava o edifício para meu irmão.

— Tá indo pra mansão?

— Não — digo, e ele gargalha.

— Vai lá cuidar do seu compromisso — ignoro, dando o dedo do meio, e entro no carro.

Desço do carro segurando uma sacola, ajeito meu terno com a mão disponível e vejo o homem se aproximar.

— Senhor, que bom que chegou — ele vai logo falando, como se estivesse aliviado em me ver.

— Aconteceu algo? — me apresso em perguntar.

— Não, senhor, o mesmo de sempre. Acho que ele gosta das suas visitas — suspiro aliviado.

— Certo, vou vê-lo — digo, entrando nos estábulos, e consigo ouvir seu agito. Ele relincha sem parar, andando de um lado para o outro — Ei, se acalma, garoto — me coloco em seu ponto de vista, fazendo-o me olhar. Abro a portinha da cela, entro e fecho em seguida, levo a mão para que ele sinta meu cheiro. Aos poucos, Fergus vai se acalmando — Calma, garoto — aliso seu focinho, subindo minha mão em sua face — Trouxe suas maçãs Fergus — relincha, mexendo com a cabeça, como se entendesse. Pego a maçã dentro da sacola, servindo-a contra minha mão.

Quem vê essa paz toda não sabe o sacrifício que foi para fazê-lo se acostumar comigo. Fergus é um cavalo selvagem; com desconhecidos, não deixa ninguém montá-lo e muito menos alisá-lo, isso incluindo a mim. Contudo, consegui amansar a fera.

Ou podemos dizer que me humilhei pela sua bondade.

Todo dia, antes do trabalho, venho vê-lo. Os primeiros dias foram os mais difíceis; era coice em cima de coice, literalmente. Pedi para o cuidador me ensinar a preparar o feno e até mesmo cheguei a limpar sua cela. Aos poucos, fui ganhando seu respeito; ele já me deixava aproximar sem coices.

Uma esposa para o mafioso: Livro 2 Série Máfia N'drangheta Onde histórias criam vida. Descubra agora