silêncio - clarice lispector

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— Claro

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— Claro. — Nero de disponibilizou, colocando os óculos de grau.

Giovanna não aguentou e começou a rir olhando pra ele.

— O que? O que foi? — Ele olhou para ela sem entender.

— Nada. — Ela balançou a cabeça.

— Eu até tenho esse livro mas meu computador se recusou a ligar hoje.

Giovanna pressionou os lábios um contra o outro.

— Odeio te dar notícias ruins, prof. Você oficialmente precisa comprar outro.

Ele bufou, irritado.

— O que foi? Não imagino que dinheiro seja o problema. — Ela fez a piada depois de conhecer cada cômodo da casa dele.

Alexandre a encarou pelo comentário perigoso.

— Não é isso.. — Ele esfregou a mão pelos olhos, desacreditado que teria que enfrentar isso. — É que só de pensar em ter que ir num shopping, fazer uma compra, aprender a mexer numa coisa nova.. Eu adiei isso por muito tempo mas você tem razão, não dá mais.

— Se você quiser, eu te ajudo. — Ela se ofereceu.

Nero a encarou, como se soubesse que aquilo era impossível.

— O que? Nós já saímos pra tomar um café juntos, eu já fui na sua casa pra ter.. Orientação. — Ela deu de ombros. — Coisas normais e simples da vida. Eles não sabem, Nero. A maldade tá nos olhos de quem vê. Ou seja, tá nos seus.

Ele riu leve.

— Não acho que aparecer no shopping com a minha aluna seja apropriado.

Ela riu, ironicamente.
Mordeu o lábio inferior, desviando os olhos.

— Então agora vai ser assim? Vamos tomar cuidado com o que é apropriado o tempo todo? Engraçado, você não parecia estar preocupado com o que era apropriado quando estava em cima de mim.

— Giovanna.. — Ele murmurou olhando ao redor, fazendo um gesto para que ela parasse e abaixasse o tom.

Ela pendurou a bolsa no ombro, e pegou o iPad da mão dele.

— Não preciso de ajuda, eu peço pro Caio. Obrigada. — Ela se afastou, saindo da sala.

Mesmo que ele chamasse por seu nome três vezes.

Quando ela saiu pela porta, ele bufou, irritado consigo mesmo. Aquela situação era absurda, irritante e torturante.

O mau-humor dele perdurou pelo resto do dia. Foi de sala em sala, de aula em aula, incômodo. As brincadeirinhas e sorrisos se foram, e ele realmente ficou mais calado até que as aulas da tarde terminaram.

Pegou suas coisas e foi caminhando através do campus em direção ao estacionamento. Nem sinal dela.

— Nero, Nero.. — Patrícia parou ele no meio do caminho. A professora era uma das que não desistiam de puxar assunto e tentar interagir. — Nós vamos nos juntar, tipo uma confraternização. A gente vai no ruína.. Vem também!

the tortured poets departamentOnde histórias criam vida. Descubra agora