sozinho - caetano veloso

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No dia seguinte ele permaneceu calado

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No dia seguinte ele permaneceu calado. Era diferente, porque as manhãs com Giovanna eram cheias de ação. Faziam muitas coisas, diziam muitas coisas.

Naquela manhã em especial ele nem sequer dormiu. O despertador era o único barulho anormal avisando que era hora de se levantar.
Ele tomou um banho, e o barulho do chuveiro era único pela casa toda.
Se arrumou, e pulou o café da manhã.

Não se deu ao trabalho de responder quando Eli puxou assunto com ele, e ela também nem tentou muito. Visto o ocorrido de ontem e a cara dele hoje, tudo se entendia.

Ela viu que ele não tinha jantado na noite anterior, nem sequer tomado café da manhã naquela manhã. O que significava que se ela continuasse cozinhando para dois, muita comida seria desperdiçada.

Ele dirigiu silencioso até a universidade. O que também era diferente, porque Giovanna não teria calado a boca por nem um segundo. Teria ligado o rádio, colocado músicas pop de artistas que ele nem sequer conhecia, em um milhão de idiomas diferentes. Ela cantaria, e comentaria coisas aleatória a sobre a rotina ou sobre algum dos alunos, tentando disputar sua voz com o som do carro. E se sempre abaixava o som do carro para escutar o que ela tinha a dizer.

Ele passou pelo ponto onde ele parava para que ela seguisse viagem a pé. Assim, ninguém desconfiaria.
Mas naquela manhã, estranhamente, ele não tinha que parar. Mesmo assim, ele parou.

Estacionou o carro ao lado da calçada e ficou olhando para frente,
Sentiu uma agonia estranha no peito. Uma vontade esquisita de chorar.

Esquisita, não porque ele tinha que seguir algum padrão do que era ser "homem" na sociedade. Mas porque ele nunca tinha experimentado isso antes.

Ele nunca tinha parado pra pensar nisso. Na sensação que seria quando ela fosse embora. Na solidão que ele sentiria. Ele nunca tinha notado o quão solitário ele era, até ter uma companheira para absolutamente tudo que ele costumava fazer sozinho.

E doia.

A verdade era essa.

Doía.

Fisicamente.

Doía fisicamente.
Uma angústia no peito, uma falta de ar.
Um nó na garganta, uma coisa.. Diferente.

Claro que todo o amor que ele sentia se converteria em tristeza quando ela fosse embora. Ele não tinha entendido que a medida do amor que ele sentia era correspondente ao tanto que sofreria sua ausência.

A primeira aula do dia era dele. Se ele quisesse entrar naquela sala de aula, ele precisava fazer algo com aquele sentimento todo.

Então ele fechou os olhos, encostando a cabeça no banco do carro.
Respirou fundo, tentando se acalmar. Tentando assimilar que aquilo não era o fim do mundo, era só o fim de um relacionamento. Não era o fim da vida dele.

the tortured poets departamentOnde histórias criam vida. Descubra agora