a máquina do mundo - carlos drummond de andrade

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Quando Nero chegou na segunda-feira de manhã, ele não sabia o que pensar ou o que fazer

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Quando Nero chegou na segunda-feira de manhã, ele não sabia o que pensar ou o que fazer. Se limitou ao que sabia fazer, o que fazia todos os dias há décadas: dar aula.

Enquanto ele aguardava que o computador ligasse, os primeiros alunos foram chegando. Ele, obviamente, olhava para a porta toda vez esperando a vez dela.

Era estranho o suficiente Giovanna não ser mais a primeira a chegar, justo naquela segunda-feira, justo naquele dia depois de.. Todos os dias que passaram juntos, na cama.

Ele ouviu o nome dele sendo citado, num canto da sala. Andou até ali, a rodinha dos garotos.

— Como é? — Ele pediu para repetirem.

— O senhor é casado, né?

Alexandre não sabia o motivo, mas assentiu, colocando a mão na cintura, prestando atenção no papo.

— Antigamente, quando o senhor conheceu ela.. As coisas eram diferentes, não eram?

Ele realmente tentou não dar risada, mas não conseguiu evitar. Era cômico. Ah, se aqueles garotos soubessem.

— Não entendi.

Ele viu Giovanna passar por ele, indo até seu lugar. Tentou de verdade não olhar para ela enquanto ela caminhava pela sala, mas foi difícil.

— Ah prof, o Jotape ta apaixonadão, pegou a mina e já ta todo bobo, cara. Só falta pedir em casamento. Na primeira noite que o cara levou a mina dele pra cama, já levou café da manhã na cama e tudo. — Paulo gargalhava, tirando onda com a cara do outro aluno.

— Ah, prof. Fala aí, você também é desses que eu sei. Me defende, foi por isso que eu tava falando de você.

Alexandre riu leve.
Ele não tinha parado pra pensar nisso quando, de fato, levou café da manhã na cama para ela.
Quando a fez dormir com cafuné.
Se esqueceu completamente da diferença geracional, e do que aquilo tudo podia significar.
Agora que estava pensando, o que mais tinha feito de errado?
A carona pra casa, o beijo antes dela descer do carro..

the tortured poets departamentOnde histórias criam vida. Descubra agora