no meio do caminho - carlos drummond de andrade

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Alexandre colocou a bolsa de couro sobre a mesa de professor e abriu o zíper

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Alexandre colocou a bolsa de couro sobre a mesa de professor e abriu o zíper. Pegou o laptop antigo, aquele que ele tanto detestava. Precisava comprar um novo.

Não que o problema fosse dinheiro, muito pelo contrário. Tendo uma cadeira, ele vivia uma vida muito mais que confortável. Era bem reconhecido na área do Jornalismo, estava ali há décadas. Ele só não gostava de tecnologia e a ideia de ter que ir até um shopping fazer a compra literalmente lhe causava arrepios. Só não mais do que pensar em quando finalmente chegasse em casa com a nova aquisição, tendo que aprender como utilizar.

Sabia que o seu estava ultrapassado, caindo aos pedaços. Mas a preguiça de passar por cada etapa do desconforto fazia com que ele desistisse antes mesmo de pegar a chave do carro.

Tirou seus pertences da bolsa enquanto a sala se preenchia. Alguns alunos passavam casualmente dizendo olá, bom dia, coisas do gênero. Alexandre se limitava a responder sem levantar o rosto em cada uma das vezes, caso contrário demoraria meia hora só para iniciar a aula.

O falatório no ambiente aumentava a medida que os alunos chegavam.

Quando ele finalmente terminou de se preparar, cruzou os braços e se encostou na mesa, sentando na beira dela. Olhava para os alunos com seriedade, esperando até que acalmassem os nervos.

Eram muitos jovens adultos amontoados no mesmo lugar. Só de olhar para a aparência de cada um Alexandre conseguia ver o futuro deles no jornalismo, ou fora dele.

Ele passava mais tempo do que gostaria de admitir observando as tribos. Os garotos que não sabiam o que estavam fazendo ali, as meninas filhinhas de papai que só faltavam levar uma aeronave para estudar, os mais quietinhos e esquisitinhos que sempre ficavam pro canto direito da sala. Todos os perfis eram mais do que interessantes, e Alexandre conhecia todos, nome por nome.

Sempre achou mais humano assim.

Ele se confundia, era verdade. As vezes se esquecia, mas fazia o seu melhor para memorizar cada um dos nomes.

Hoje, em particular, os alunos mais populares e bonitões estavam rodeados pelas garotas igualmente bonitas que não saiam do pé deles.

Alexandre fingiu um pigarro, chamando a atenção de todos. Ninguém ousava atropelar ele. Talvez outros professores, na maioria as professoras boazinhas. Mas Alexandre Nero? Nunca.

— Bom dia pra vocês também. — Ele sorriu assim que a sala fez silêncio. — Bom, como vocês sabem, paramos na última aula falando sobre o surgimento da imprensa. E nisso mencionamos Gutenberg em 1440, a criação da prensa móvel, a revolução generalizada que ela causou e exploramos também a disseminação da comunicação.

Alexandre mexia com o projetor e os slides montados com maestria. Detestava tecnologia, mas estava acostumado com o trabalho.

— Mencionamos a impressão da bíblia de Gutenberg, o início da publicação de livros e panfletos..

the tortured poets departamentOnde histórias criam vida. Descubra agora