Sky

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 Seu túmulo estava bem cuidado, a grama estava bem aparada e suas flores preferidas preenchiam o lugar. Margaridas, ela amava essas flores, sempre dizia que elas eram únicas e delicadas.
-Sinto sua falta...-disse em um sussurro, uma brisa de vento levantou levando as folhas secas que haviam ao redor dos outros túmulos.

As lágrimas secaram, mas a dor continuava.
A caminhada do cemitério até a faculdade foi repleta de pensamentos sem futuro, a música que continha em meus fones era alta e tudo ao redor se movia diante das melodias. Caminhar pelo campus antes nunca tinha sido um problema mas agora eu não era mais conhecida como a alegre Sky, e sim como a menina que perdeu a irmã e o cunhado na maldita festa de 18 anos.
Obrigada maior idade, você me tirou o meu bem mais precioso!
Os corredores pareciam maiores, pessoas que ao menos eu conhecia me olhavam com pena outras prestavam condolências dizendo que eu poderia contar pelo oque eu precisasse, a raiva que esta dentro de mim as vezes queria sair quando isso acontecia. Mas não foi só eu que senti quando Stella se foi, ela sempre foi querida na faculdade havia pessoas ali que gostavam dela de verdade, mas eu só não queria a pena deles.

De repente a música alta nos meus fones, não pareceu tão alta assim. Umas risadinhas invadem os meus ouvidos então prestei bastante atenção em quem estava conversando.

-Bem feito, ela era uma vadia! -me virei e vi Lúcia conversando com uma menina magrela de dois metros, dando risada.
-Quem fez isso merece os meus parabéns. -disse a magrela, rindo de um jeito muito estranho.
-É....mereço! ...Quer dizer, esse alguém merece.
Naquele momento, meu sangue subiu, eu estava extasiada e com muita raiva.
-Oque você disse, piranha? -Nesse momento estava vendo tudo vermelho, toda a raiva reprimida dentro de mim estava pronta pra ir agora e em dois alvos.Lúcia me olhou assustada mas em segundos sua feição mudou para deboche.
-EU-DISSE-QUE-EU-AMEI-QUE-AQUELA-VADIA-MORREU.
Ela falou e logo depois começou a gargalhar, as pessoas já se acumulavam ao nosso redor, sua amiga que antes estava fazendo piadinhas agora parecia parcialmente assustada.
Sem pensar duas vezes avancei em Lúcia e a joguei no chão lhe dando uns bons tabefes naquela cara.
-Você, nunca mais fale da minha irmã.Sua vadia!-Seu rosto estava vermelho, ela gritava mas ninguém me impedia, não sei se era por medo ou por achar que ela merecia cada tapa.
-A próxima vez que você ousar a pensar mal da minha irmã eu acabo com a sua vida!Esta me ouvindo.-Seu rosto estava vermelho e seu lábio inferior estava sangrando, estava pronta pra lhe acertar de novo quando fui erguida e afastada do corpo de Lucia.
-ME LARGA, AGORA!
-Não, até você se acalmar.-disse Beto, me levando pra fora do prédio. Quando chegamos a uma distância segura pra ele, por fim suas mãos sairão ao redor do meu corpo.
-Oque você pensa que está fazendo, anda me seguindo?E com que direito você tem de me tirar dali?Ela merece muito mais e quando eu a encontrar pode ter a certeza, ela não sairá apenas vermelha!-grito com toda a minha raiva.

Beto continuou uns minutos calados, passou as mãos em seus cabelos negros com frustração e me encarou, seus olhos não demonstravam pena,mas sim dor.

-Sky, eu não estou te seguindo, eu me matriculei em um curso aqui.E você não pode sair atacando qualquer pessoa que falar da Stella, eu sei que doí....
Eu o cortei nesse momento.
-Não, você não sabe que doí!Você não sabe de nada, não venha querer compreender os meus atos quando os seus são mais errados que os meus. Você nem escutou oque elas disseram, elas estavam rindo da morte dela!

Beto se calou, meus ombros caíram aquilo era demais, eu já tinha meus próprios monstros não precisava de mais nenhum.
Em um flash de segundo Beto me puxou em um abraço forte e ao mesmo tempo acolhedor, naquele momento passou em minha cabeça tudo oque vivemos eramos melhores amigos, ele mentiu e me magoou mas eu não tinha mais forças para afasta-lo e não poderia perder ele também.
-Beto? -disse baixo em seu peito, seus batimentos que estavam sincronizados em um simples "tum tum tum", ao som da minha voz o chamando ficou em "tumtumtumtum", ele estava com medo de mim.
-Hã?
-Vamos voltar a sermos melhores amigos, de novo? Não posso perder mais ninguém.
Aqueles olhos que mais pareciam órbitas negras me encaravam agora com um brilho tão familiar para mim como o meu próprio nome.
-Eu nunca deixei de ser o seu melhor amigo Sky. -disse ele próximo ao meu rosto eu o abracei forte e em meses pude me sentir segura.
Beto me puxou e me levou embora, andamos pelo caminho mais longo até a minha casa as vezes conversávamos coisas banais, ele estava sendo cauteloso para não tocar na morte dela e nem no que aconteceu a horas atrás.
-Está entregue. -ele abriu aquele sorriso que contagiava qualquer pessoa e até a mim, mas não estava fazendo o mesmo efeito. Forcei um pequeno sorriso.
-Obrigada,e não minta e nem me esconda nada mais Beto, por favor.Não sei se consigo suportar ter que te afastar novamente. -enquanto dizia o encarava e quando terminei seu olhar desviou do meu olhando um ponto qualquer mas não a mim.
-Ta bom.
Beto deu um beijo em minha testa se virou e foi caminhando em direção a avenida movimentada, sem olhar para trás uma vez se quer.Minha casa continuava escura, depois de três meses minha mãe ainda usava preto e a casa tinha que continuar do mesmo jeito, eu sei que oque ela sente não é nem capaz de descrever mas ela tem que lembrar que todos nós sentimos eu, Dean e papai sentimos a falta dela também,precisamos dela.
Dean e papai estavam na empresa da família,a casa parecia vazia e eu do fundo do meu coração desejava que estivesse.
Olhei as janelas e as vi fechadas com as cortinas e sem pensar duas vezes as abri, a luz da tarde refletia na janela de vidro trazendo paz, comecei a subir as escadas quado escuto minha mãe ao telefone, e a tristeza me toma por ela ainda estar trancada em casa.

-Não era pra ser ela,combinamos que não iria acontecer isso e nada isso e nada relacionado. -sua voz saia firme demonstrando uma força, dor e desespero.
Eu posso ser ingênua mas minha mãe estava escondendo algo de todo mundo, comecei a caminhar para escutar melhor a conversa mas o assoalho velho da minha casa fez barulho me entregando. Minha mãe rapidamente desligou e saiu de seu quarto.
-Oque esta fazendo? -disse firme.
-Estava apenas preocupada mãe, você não sai de casa a meses.-disse com dor.
Ela me olhava com horror, as vezes achava até que ela me culpava da morte da minha irmã.
-Você...não sabe oque eu estou sentindo praga. -nessa hora meu pai e Dean chegaram, eu e minha mãe estávamos no topo da escada que dava de cara com a porta da frente. -Eu irei ficar aqui o quanto eu quiser, e não ouse chorar, porque sabemos muito bem que a culpa é sua!-suas palavras me cortaram, as lagrimas queriam sair mais eu estava tentando ser forte, meu pai nos olhava chocado.
-Você sempre teve inveja da sua irmã, era pra...
Naquele momento me descontrolei, as lágrimas cairão e eu comecei a gritar.
-ERA PRA SER OQUE? Era pra ter sido eu? Isso que você quer dizer?
O olhar da minha mãe era de fúria e quando ela fez menção de que iria me bater meu pai surgiu na minha frente.
-AGORA CHEGA! Você esta descontrolada Diana, a Sky é sua filha e ela não teve culpa de nada os policiais vão encontrar os culpados...
Nesse momento eu só escutava um eco pois estava no meu quarto, peguei a primeira mochila e comecei a encher de roupa.
-Oque você esta fazendo? -Dean me perguntou me olhando como se quisesse pegar toda minha dor.
-Eu...eu preciso sair daqui Dean, isso esta me enlouquecendo.
-E pra onde você vai?
-Mags me chamou pra ir ate a ilha da família dela, ela também não está muito bem...-Dean me corta na hora
-Oque ela tem? -pergunta ele preocupado.
-É a família dela, e ela meio que brigou com Marcos,a vida de todo mundo esta de cabeça pra baixo é só um final de semana sei la.-nesse momento a porta do guarda roupa onde havia os presentes se abriu caindo tudo e um caiu aos meus pés.Dean saiu da soleira da porta para me ajudar, e quando me abaixei eu vi uma caixa média e com o nome da Stella cravada com sua letra impecável. Aquilo mexeu comigo, foi um turbilhão mas rapidamente coloquei tudo de volta no seu lugar.
-Eu vou te ligar todos os dias, todas as horas se for preciso, mas me deixe ir.-disse com lágrimas por toda parte, ele enxugou todas e balançou a cabeça.
-Todas as horas, viu.
Eu o abracei forte, ele era o meu único porto seguro ali e disse para avisar o meu pai, rapidamente desci as escadas mandando mensagem para Mags dizendo que já estava pronta para ir.

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