XLII-POV Claryce

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Acabo de ver o primeiro episódio da nova temporada de American Horror Story e já estou a chorar.

Era suposto eu vê-lo com a Coraline.

Era suposto nós estarmos a rir nas partes assustadoras.

A atirar pipocas uma à outra.

Mas em vez disso , estou aqui. Sozinha. No escuro. Eu e as minhas lágrimas .

Eu lembro-me quando ela me obrigou a jurar que nunca iria chorar por mais ninguém . Foi naquele dia em que sem querer ela viu as marcas de cicatrizes nos meus pulsos.

Depois disso comecei a cortar as pernas.

Mas ela também descobriu.

Porque ela descobria tudo.

Ela sabia.

Ela preocupava-se .

Os meus pais passavam noites fora , sem ligarem só para dizer olá . Ela era a minha única companhia. A única pessoa que ficou aqui para tudo.

Eu tento agarrar-me a Jake , mas não consigo. Eu estou a voltar a cair na escuridão. No poço sem fundo da minha alma.

Pego na taça de pipocas e atiro-as contra a parede.

Levanto-me e grito.

Grito com todas as minhas forças.

Grito até não ter mais ar.

Até não ter mais voz.

E quando paro , lá aparece outra vez.

O silêncio .

Eu preciso da minha melhor amiga.

Aqui comigo.

Para me ouvir . Para me consolar .

Quero ligar a Jake , mas lembro-me que ele foi viajar com os pais.

E cá estou eu , sozinha outra vez.

Nadiya e Matty estão num encontro.

E cá estou eu , sozinha outra vez.

Ainda penso ligar a Coraline , ou talvez a Luke. Mas sei que vai logo parar à caixa de chamadas.

E cá estou eu , sozinha outra vez.

...

Eu tento chorar.

Mas não saem mais lágrimas.

E é ai que me apercebo.

Eu já caí .

E em breve... vou bater no fundo.

E quando isso acontecer?

Acabou-se.

Sem a Coraline , acabou-se.

Olho para a 3ª gaveta da cómoda .

Eu não posso.

Não outra vez.

Tento controlar-me . Mas é em vão.

Corro o mais rápido que posso até à caixa de madeira que abro num ápice.

Retiro de lá as plaquinhas de brilho metálico e o pó de estrelas , como eu lhe chamo.

Sento-me no sofá e penso se isto será o melhor a fazer.

Se eu não o fizer , afundo-me na tristeza e mágoa.

Se eu o fizer , afundo-me no meu paraíso escuro , na minha depressão , no fundo do poço.

Eu apenas quero esquecer.

Quero esquecer estes últimos meses.

Apenas desaparecer um bocadinho.

Isso não fará mal... pois não?

***

Gargalho alegremente enquanto elevo a garrafa de liquido transparente que fui buscar ao armário de bebidas caras do meu pai.

Ele vai zangar-se.

Mas sabem que mais? Que se foda.

Ele que se foda. A bebida que se foda. Eu que me foda. A Coraline que se foda. Todos que se fodam.

Hoje sou só eu e a bad.

Ela já faz parte da família , né?

Sinto o líquido ardente escorrer-me pela garganta . Gargalho alto, quase tão alto como a música dos AC/DC que passa na rádio.

Volto a sentar-me no sofá e bebo outro gole.

Espalho depois um bocado de pó em cima de um espelho.

Com uma das minhas amigas de brilho prateado separo-o em linhas finas.

Pego numa das notas e faço aquilo que tem que ser feito.

Logo me sinto descontrair .

Volto a sentar-me no sofá e canto alto.

Pego num cigarro e , embora não saiba o que contém , levo-o à boca.

O fumo chega ao meus pulmões , fazendo-me sentir feliz.

Passo a mão pelas minhas mais recentes libertações de dor nas minhas pernas.

Dói passar pelas feridas vermelhas mas eu não me pareço importar com isso.

Volto a pegar na lâmina e arrasto-a com alguma força sobre o pulso.

Um líquido vermelho começa logo a querer sair , mas eu não permito , levando o pulso à boca.

Logo cuspo para o lado. Sabe mal , penso para mim mesma.

Volto a colocar a abertura da garrafa de vidro na boca , mas não sai nada. Suspiro em frustração e atiro a garrafa contra o chão , fazendo-a partir-se em cacos.

Pego num deles e corto o outro pulso , sentindo um alivio enorme sobre mim.

Continuo a fumar e rir comigo mesma .

Sinto algo escorrer-me pelo nariz.

Levo até lá o dedo e quando olho , vejo um liquido parecido com o dos meus cortes. Só que mais escuro.

Tento levantar-me mas fico com tonturas e piso um caco de vidro.

Um grito aguda espalha-se pelo quarto.

Começo a ver tudo a girar e a ficar escuro.

A última coisa que sinto antes de apagar é o toque do meu telemóvel e a dor aguda que sinto na minha face quando ela embate contra os cacos de vidro.

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SEGUNDA POSTAGEM . EU SEI QUE QUERIAM MAIS , MAS ACABOU-SE POR HOJE.

ESPERO QUE TENHAM GOSTADO.

AI GENTE , COITADA DA CLARYCE . ELA NÃO ESTÁ NADA BEM. E AQUILO VAI-LHE DEIXAR CICATRIZES , LITERALMENTE.

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KISSES BABES


Diário de uma Serial KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora