-Olááááá...Olááááá...- uma vozinha faz-se ouvir. Olho em volta mas não consigo ver ninguém.
- Hey , quem está ai? - Decido responder passado alguns minutos.
-Sou eu! - A vozinha volta a falar , num murmuro engraçado. A sua voz fina faz-me lembrar a de uma criança.
-Eu quem? - eu pergunto , ficando mais confusa.
-Eu tu ! - uma risada baixa faz-se ouvir.
Eu fico em silêncio .
Só agora reparei que estou no escuro.
Tento alcançar o candeeiro , mas não consigo encontrar.
Levanto-me do chão e vou andando , tentando apalpar algo , mas não existe nada.
Estou num vazio.
- Onde é que estou? - eu pergunto em voz alta.
- Dentro da tua mente tola! - a vozinha volta a falar .
- Pará de brincar , onde é que estou? - eu começo a ficar irritada. - E quem és tu?
- Eu sou tu. Tu és eu. Estás dentro dos nossos pensamentos. - volto a ouvir uma gargalhada , tão baixa como um sussurro.
Algo me toca no ombro. Eu viro-me para trás tentando decifrar quem o fez , mas só vejo escuro.
Quando me volto a virar pulo de susto. Coloco a mão por cima do coração que bate fortemente.
À minha frente encontra-se uma menina pequena. Deve ter por volta de 5 anos. Os seus cabelos castanhos chegam-lhe à cintura.
Ela é-me familiar. Observo-a melhor . Olho para os olhos dela.
São iguais aos meus .
Espera , são iguais aos meus!
- Tu és eu? - eu ajoelho-me , ficando à frente da menina. Ela olha para mim com um sorriso maroto.
- Eu sou tu. - agora a sua voz está mais firme.
- Porque é que está tudo escuro? - eu faço a pergunta mais parva de sempre. Podia perguntar um monte de coisas, pois tenho o meu passado mesmo à minha frente . No entanto , é esta a pergunta que faço.
- Porque tu queres. - ela responde simplesmente.
- Mas eu não quero o escuro. - eu digo , mais para mim mesma.
- Então muda o cenário. - ela diz e senta-se.
- O que? - eu pergunto confusa. Isto está a ser muito estranho.
- Muda o cenário! - ela fala. Inconscientemente eu estalo os dedos e estamos num quarto. No meu quarto , quando era criança.
- O que é que se passa?- eu pergunto . A menina levanta-se e corre pelo quarto , agarra um peluche e volta.
- Estamos na tua mente Coraline. - ela começa a cantarolar agora. - Estamos aqui para te perceber.
- Para me perceber?
-Sim , para saber porque te tornas-te numa assassina ! - ela fala , num tom adulto.
-Eu não gosto dessa palavra. - eu digo , amuando .
- Bom... É o que tu és! - ela diz sem papas na língua . - Tu eras eu , inocente , frágil , o que mudou?
- A morte dos meus... nossos ... pais . - eu respondo.
-Não foi isso Coraline. - uma terceira voz aparece.
Olho para o lado e vejo outra rapariga. Esta aparenta ter 8 anos . Os seus cabelos são curtos e castanhos. E mais uma vez, os olhos são iguais aos meus.
- Tu és eu, deixa-me adivinhar. - eu falo sarcástica.
- Na verdade somos todas eu , somos todas tu , somos todas ela. - ela fala divertida. Ela senta-se . Apesar da sua face transparecer alegria, eu consigo ver tristeza nos olhos.
-Espera, o que? - eu fico confusa.
- A razão de matar veio dos teus pais , mas não foi toda. Tu só começas-te aos 9, alguns anos depois dos teus pais terem morrido. - ela ignora a pergunta anterior.
- Então o que foi? A violação? - eu volto a perguntar.
Ouço uma gargalhada . Outra vez não...
Uma quarta rapariga aparece. Esta aparenta ter à volta de 12 anos. Os seus cabelos são vermelhos . E os seus olhos azuis , claro.
- Olá eu ! - ela diz tristemente .
Ela move-se de maneira melancólica pela divisão. A sua expressão é deprimente . Ela está desfeita.
- Olá. És eu depois da violação ? - eu pergunto logo. Mais vale despachar isto.
- Talvez sim... Talvez não.- ela olha para baixo com os olhos arregalados. - Não foi a violação , tu já tinhas matado antes disso. Começo a duvidar se és assim tão inteligente .
- Então! Lembra-te que estamos a falar de ti também. - eu respondo rude.
-Pois. Bem , pensa melhor. - ela diz.
- Foi... o orfanato? - essa é a única coisa de que me lembro .
-Na verdade... não completamente . - uma 5ª voz aparece.
- Vocês não param de aparecer? - eu falo alto. Olho para o lado e vejo-me com 15 anos. O meu cabelo está azul , assim como os olhos.
- Sempre tão simpática. - ela olha para as unhas e volta a fixar-me .
- Eu já não estou a perceber nada disto... - eu digo farta.
Elas olham umas para as outras. " Talvez seja melhor contar-lhe" ; "Não , ela tem que perceber por si mesma" ; " Acho que ela nunca vai perceber" ; " Somos o seu subconsciente, somos ela , temos que ajudar". Ouço na minha cabeça , como se fosse uma música de fundo. As vozes arrastam-se.
Elas voltam a virar-se para mim . Todas em linha.
- Tu és controlada Coraline. Sempre foste. A morte dos teus pais não foi um acidente. Tu foste a causa da morte deles. Ele quer-te a ti Coraline. Sempre quis. E não vai parar enquanto não te conseguir. - Elas dizem todas ao mesmo tempo.
- Como assim ando a ser controlada? O que é que ele quer de mim? - eu pergunto assustada.
- Tu sempre foste treinada para matar. Tu és uma máquina assassina, não entendes Coraline ? - a mais nova diz.
- És observada . Desde bebé. Os teus pais meteram-te nisso , e quando te quiseram tirar , foram eliminados. - a de 8 ou 9 anos diz.
- Ele tem planos para ti. Ele vai eliminar todos os que se meterem no vosso caminho. - a de 12 diz melancólica .
- Foge, foge do teu destino . Ou muda-o , és a única que o pode fazer. - a mais velha diz.
Elas desaparecem todas , assim como a divisão . Fico eu sozinha na escuridão , outra vez.
- Não! - eu grito. - Eu não entendo! O que se passa? Quem é ele ? Voltem!
Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Eu deito-me no chão e sinto-me dissolver .
Agora não existe nada.
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Diário de uma Serial Killer
HorrorCoraline , 17 anos. Muito nova para matar? Não , faço-o desde os 9 anos. Sim, desde essa idade. Porque quando se cresce no pior orfanato de Strognofild tudo pode acontecer. Atenção: Toda a história "Diário de uma Serial Killer" é TOTALMENTE FICCIONA...