Corredores imensos, ambiente frio e totalmente sem ornamentos. Pessoas andando pra lá e pra cá sem se quer prestar atenção no que estava ao seu redor. Recito gelado com um cheiro intenso. Estou eu de volta ao hospital. Passaram-se tantos anos desde a última vez que eu estive aqui, que até esqueci quanto. Sabia que era inevitável, mas não deixava de achar que podia evitar de alguma forma.
Estando aqui, eu tinha tempo pra pensar e esse lugar não mudou nada, estava absolutamente igual há oito anos atrás quando eu estive aqui. Fiz uma promessa que nunca pisaria aqui de novo, mas cá estava eu com esse cheiro característico em minhas narinas, uma mistura de ar-condicionado com um toque de algo forte que eu daria tudo para descobrir o que era, álcool, formol.. Eu não sei, mas é distinto e único.
Início do Flashback - 15/06/2007 - Hospital Copa d'Or, Rio de Janeiro, Brasil.
Soltei um grito agudo, pois foi aquela dor mais forte que a outra e durou muito mais, a dor vinha das costas até o pé da barriga. Eu continuava sentada na cadeira de rodas, eu tinha acabado de chegar ao hospital, o Jr me guiava tão desesperadamente quanto eu, as contrações chegaram mais forte e o suor transpirava cada vez mais em meu corpo. Eu já não sentia o bebê se mexer mais e cada minuto que passava eu sentia que ele precisava nascer.
Eu me sentia muito fraca, não conseguia ouvir nada, não conseguia mover nada, não conseguia formular respostas coerentes para aquela situação toda, a dor era fortemente intensa. Estava suando frio, meu cabelo estava completamente molhado de tanto suor, o tempo pra respirar estava ficando pequeno, as contrações chegavam cada vez mais com intensidade. Já fazia minutos que eu estava sentada e ninguém tirava o bebê de dentro de mim.
Como se meu cérebro fosse uma televisão, tudo começou a chiar. O chiado ficava mais forte e causava uma intensa dor em minha cabeça, mas eu conseguia ouvir tudo o que estava ao meu redor.
— Calma, Ca. — O Jr falou nervoso. — A mãe está dando entrada nos documentos, não vai demorar.
— Respira fundo. — Ouvir a voz da minha Tia.
Assim eu fiz, mas não adiantava de nada.
— Ai, ai, aiiiiiiii
Soltei um grito agudo, chamando a atenção de todos que estavam na recepção, aquilo parecia que iria me arrebentar por dentro, a dor vinha desde as costas e se estendia com intensidade na barriga, era com uma forte e intensa cólica. Eu só sei que eu não estava aguentando mais.
Respirar não era o suficiente, eu precisava de algo para anestesiar essa dor. Havia um quadro enorme de uma mulher segurando uma criança nos braços, tentei focar nessa imagem para amenizar a dor, mas não era o suficiente. Como eu desejei a tranquilidade dessa mulher.
— Vai nascer. — Falei em meio ao cansaço e desespero e todos que estavam ali me olharam assustados.
Fim do Flashback.
Dei três passos à frente e reconheci o quadro. Admirando com calma percebi a tranquilidade que a mulher tinha e sorri pela primeira vez enquanto eu estive aqui, era exatamente o que eu estava sentindo um misto de tranquilidade misturado com esperança.
— Posso lhe ajudar? — Uma senhora muito simpática falou ao se aproximar de mim.
— Claro. — Sorrir. — Eu queria falar com a Sr. Vitória Drummond.
— Você é? — Ela perguntou olhando para mim.
— Carla, sou a nora dela.
Sinceramente eu não sabia se eu ainda tinha esse direito.
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Chora Menina
RomanceEla uma menina cheia de sonhos que teve sua adolescência interrompida por um abuso sexual. Ele um menino comum. Ela cresceu e se tornou uma mulher infeliz. Ele cresceu e se tornou um homem comum, com pensamento comum. Ela luta dia após dia para esqu...