31 Capítulo - Onze Vezes.

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Aquelas pilhas de papeis amarelados estavam me amedrontando. Sentei no chão encolhendo as minhas pernas e as abracei, me vi como uma criança indefesa, cheia de medo e assustada com o mundo em que vivia. Me senti sozinha e traída, logo eu que sempre estou disponível pra todos eles. Encostei a minha cabeça na parede e bati três vezes para trás na tentativa de entender como vou fazer tudo isso sozinha.

A sala 22m2 permanecia fria dando jus as sensações que eu trazia. Nada chamava a minha atenção, as pilhas de papeis prendiam a minha concentração de modo que nada era vistoso.

— Não se acha nada sentada.

Eu não era acostumada a ouvir essa voz, mas era irreconhecível devido a sua entonação.

— Você aqui? — Perguntei surpresa.

— Em carne e osso. — Ela gargalhou. — Pensei que você já estava agindo.

— Eu não sei por onde começar. — Confessei. — Não sei se consigo fazer isso sozinha.

Desviei a minha atenção dos papeis e lhe encarei.

— Estou aqui pra te ajudar. — Ela deu um meio sorriso cínico e sincero.

— Fala sério. — Revireis meus olhos. — Como você soube que eu estava aqui?

— Você esqueceu que eu sou a Jéssica Drummond? — Ela falou com um sorriso nos lábios e com o seu ego lá em cima. — Tudo o que acontece nesse hospital eu fico ciente.

A Jessica olhou para suas enormes unhas.

— Foi o seu irmão que mandou você vim?

Mordi meus lábios escondendo o meu sorriso.

— Vamos começar. — A mesma colocou a sua bolsa do chão e se aproximou de mim.

— Vou entender isso como um sim.

Meu coração pulou de alegria, fez com que meu peito ficasse apertado. Mesmo magoado ele se importava comigo e isso faz com que eu o ame ainda mais. Eu não estava conseguindo administrar os meus pensamentos, eu estava contente e surpresa. Agora os papeis se tornaram coloridos e mais simples, me dando forças para enfrentar as quatro torres de papeis.

Nos encaramos ambas segurando o riso e rimos alto. O sorriso da Jessica tinha o mesmo formato que o do Felipe o que me fez rir ainda mais. Seu sorriso e o seu olhar era sincero e pela primeira vez vi grande mulher que a Jessica era. Ela estendeu a sua mão para mim, entrelaçamos os nossos dedos na tentativa falha de ajudar a me levantar.

— Há quanto tempo aconteceu isso com você? — A Jessica perguntou colocando suas mãos na sua cintura de pilão.

— Oito anos. — Abaixei a minha cabeça.

— Tudo tão arcaico nesse hospital. — Sua cabeça balançou negativamente. — Meu pai é tão contra a tecnologia que só veio modernizar há cinco anos atrás. Se não encontramos nada aqui a culpa é dele.

— Menos, Jessica. — Acompanhei o movimento da sua cabeça rindo.

Nos duas ficamos em pé próximo aos papeis encarando-o. Num gesto sincronizado prendendo nossos cabelos, respiramos fundo e começamos agir. Estava tudo desordenado, os prontuários não estavam em ordem alfabética. Dividimos tudo em duas partes e separamos de A-Z. Não estava sendo nada fácil para mim, a Jessica era muito ágil e sua pilha de papel estava maior que a minha, cada prontuário que eu pegava em mãos eu via o quanto eu estava nervosa vendo o papel tremer. Eu analisava cada detalhe, cada letra e numero, nada poderia passar despercebido por mim.

— De zero a dez qual o seu grau de arrependimento? — A Jessica perguntou quebrando o gelo.

— Onze. — Nem precisei pensar para lhe responder.

Chora MeninaOnde histórias criam vida. Descubra agora