15 Capítulo - Orgulho.

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     Inicio da Ligação. 

— Acorda Fê, é hoje. — Meu tom de voz foi bastante animado para uma conversa às seis da manhã em pleno sábado. 
— Sim.. — Ouvi a sua voz arrastada e sonolenta ressoar. 
— Estou tão ansiosa. — Involuntariamente o meu melhor sorriso se fez presente em meus lábios. 
— Estou percebendo. — Ele se esforçou para que a sua voz saísse um pouco mais alta. 
— Você está feliz? — Perguntei rapidamente. O sorriso ainda permanecia em meus lábios. 
— Claro. — Ele respondeu baixinho. 
— É.. — Pensei rapidamente. — Você está com sono, né? 
Esse era o motivo para ele está assim tão frio, aposto o mesmo não sabia o que estava falando. 
— Acertou. — Ouvi o seu bocejo. 
— Desculpas, eu te acordei.. — Eu falava rápido, mas fui interrompida. 
— Não precisa se desculpar. — Sua voz foi voltando aos poucos, ele estava se esforçando para se manter acordado. — Quem me dera acordar todos os dias com a sua voz. 
Mordi meus lábios fortemente para não sorrir como uma boba apaixonada. 
Ouço alguém abrir a porta devagarzinho e eu olho para ver quem é, era Clara. Ele me olhou desconfiada e me encarou segurando o seu riso. Toda manhosa ela veio em minha direção e se jogou em minha cama. 
— Sua arte de me deixar sem graça. — Ao contrário de mim ele sorriu, como era gostoso ouvir seu riso a essa hora da manhã. — Volta a dormir, me liga assim que você desperta. Dorme bem. 
— Tá bem, se cuida, amor. — Ele falou calmo, eu poderia jurar que ele havia aberto um dos seus sorrisos meigos. 
Soltei um beijo para que ele pudesse escutar e desliguei. 


Fim da ligação. 

— A essa hora da manhã conversando, é o amor! — Ela cantarolou e gargalhei alto. — É hoje, né? — A Clara arqueou a sua sobrancelha e eu assenti. — Vai da tudo certo. 
— Espero. — Cruzei meu dedos. 
Deitei-me e fiquei olhando para o teto, tenho ficado muito nesta posição ultimamente acho que é para poder refletir mais sobre a vida. Se passou três semanas desdou meu aniversário. Eu tinha a impressão que tudo mudou, a cada ano que se passava as responsabilidades aumentavam. Era estranho pensar que minha vida estava começando aos 24 anos... 
— O que você vai fazer essa noite? — Perguntei a Clara afastando os meus pensamentos. 
— Curtir meu namorado. — Ela sorriu. 
— Fico feliz em saber que a fase ruim passou, vocês merecem ser felizes. — Fui completamente sincera em minhas palavras. 
— Pelo visto você vai curtir o seu hoje. — Seu olhar sem-vergonha me fez lhe encarar timidamente. 
— Ele não é meu namorado. 
— Mas só falta oficializar. — Ela respondeu como se fosse o óbvio.

Passamos a manhã toda desse jeito, deitadas, conversando e brincando, ter a Clara como irmã, era um verdadeiro presente, as situações mais banais se tornavam as mais perfeitas. 
— Acho que vou pra casa do Jotta. — A Clara sorriu ainda mais aberto naquele momento. 
— Agora? — Perguntei e ela assentiu. 
A mesma se levantou da cama e se espreguiçou, com os seus braços sobre a cabeça, ela soltou um longo suspiro e colocou os braços para baixo rapidamente. 
— Cuidado para não deixar o Felipe nervoso. — Havia ironia em sua voz. 
— Relaxa, ele é bom no que faz. — Retruquei, piscando meu olho esquerdo e gargalhamos alto. 
Ela saiu do meu quarto, deixando a porta aberta como de costume. Com uma disposição que jamais tive em uma manhã ensolarada me levantei apressadamente para fechar. 
Olhei em volta do meu quarto e algo me chamou a minha atenção. Minha penteadeira estava bagunçada, com certeza a Clara mexeu ontem a noite e esqueceu de arrumá-la. Pelo meu habito vicioso de organização, fiquei incomoda com o aspecto que estava e fui arrumar, organizei separadamente cada detalhe, separando os brincos dos colares e os perfumes da maquiagem. 
Abri a gaveta para esconder o colar que eu tinha ganhado de aniversário e dei de cara a caixinha de lembranças feita somente pra minha filha, apenas uma vez por ano abro e deposito toda a minha angustia, mas algo mais forte que eu mandava abri-la. Coloquei em cima da penteadeira e a-encarei atentamente. 
Repentinamente meu celular começou a tocar e eu demorei para raciocinar, coloquei a caixa de lembranças de volta a gaveta. Pedi mentalmente para aos Anjos da guarda, proteger a minha filha, eu tinha a certeza que aonde ela estivesse nesse exato momento, ela estava sendo amparada. 
Precisava assimilar, deixei meu celular tocar mais uma vez e fui busca-lo em cima da cama. 

Inicio da Ligação. 
— Bom dia princesa. — Eu poderia escutar a sua voz durante o dia todo e todas as vezes que ele estivesse emitindo algum som meu coração acelerava freneticamente. 
— Boa tarde, né. — Acompanhar o seu tom de voz era impossível, uma vez que meu coração ainda acelerava e me fazia com o quê perdesse um pouco do raciocino. 
— Dormir até demais. — Ele riu. — Daqui a uma hora passo na sua casa para irmos. 
— Ok. Eu te amo. 
Fim da ligação. 

Eu poderia não ter desligado a ligação para ouvir a sua resposta, mas não era necessário. Sua voz me atinge, me fazendo lembrar que eu não precisava ficar angustiada, ele era a minha luz do fim do túnel, o meu ponto de paz. O que sinto é misterioso, inexplicável, avassalador e passa por cima de tudo e de todas as coisas.

Chora MeninaOnde histórias criam vida. Descubra agora