Inicio da Ligação.
— Acorda Fê, é hoje. — Meu tom de voz foi bastante animado para uma conversa às seis da manhã em pleno sábado.
— Sim.. — Ouvi a sua voz arrastada e sonolenta ressoar.
— Estou tão ansiosa. — Involuntariamente o meu melhor sorriso se fez presente em meus lábios.
— Estou percebendo. — Ele se esforçou para que a sua voz saísse um pouco mais alta.
— Você está feliz? — Perguntei rapidamente. O sorriso ainda permanecia em meus lábios.
— Claro. — Ele respondeu baixinho.
— É.. — Pensei rapidamente. — Você está com sono, né?
Esse era o motivo para ele está assim tão frio, aposto o mesmo não sabia o que estava falando.
— Acertou. — Ouvi o seu bocejo.
— Desculpas, eu te acordei.. — Eu falava rápido, mas fui interrompida.
— Não precisa se desculpar. — Sua voz foi voltando aos poucos, ele estava se esforçando para se manter acordado. — Quem me dera acordar todos os dias com a sua voz.
Mordi meus lábios fortemente para não sorrir como uma boba apaixonada.
Ouço alguém abrir a porta devagarzinho e eu olho para ver quem é, era Clara. Ele me olhou desconfiada e me encarou segurando o seu riso. Toda manhosa ela veio em minha direção e se jogou em minha cama.
— Sua arte de me deixar sem graça. — Ao contrário de mim ele sorriu, como era gostoso ouvir seu riso a essa hora da manhã. — Volta a dormir, me liga assim que você desperta. Dorme bem.
— Tá bem, se cuida, amor. — Ele falou calmo, eu poderia jurar que ele havia aberto um dos seus sorrisos meigos.
Soltei um beijo para que ele pudesse escutar e desliguei.
Fim da ligação.
— A essa hora da manhã conversando, é o amor! — Ela cantarolou e gargalhei alto. — É hoje, né? — A Clara arqueou a sua sobrancelha e eu assenti. — Vai da tudo certo.
— Espero. — Cruzei meu dedos.
Deitei-me e fiquei olhando para o teto, tenho ficado muito nesta posição ultimamente acho que é para poder refletir mais sobre a vida. Se passou três semanas desdou meu aniversário. Eu tinha a impressão que tudo mudou, a cada ano que se passava as responsabilidades aumentavam. Era estranho pensar que minha vida estava começando aos 24 anos...
— O que você vai fazer essa noite? — Perguntei a Clara afastando os meus pensamentos.
— Curtir meu namorado. — Ela sorriu.
— Fico feliz em saber que a fase ruim passou, vocês merecem ser felizes. — Fui completamente sincera em minhas palavras.
— Pelo visto você vai curtir o seu hoje. — Seu olhar sem-vergonha me fez lhe encarar timidamente.
— Ele não é meu namorado.
— Mas só falta oficializar. — Ela respondeu como se fosse o óbvio.Passamos a manhã toda desse jeito, deitadas, conversando e brincando, ter a Clara como irmã, era um verdadeiro presente, as situações mais banais se tornavam as mais perfeitas.
— Acho que vou pra casa do Jotta. — A Clara sorriu ainda mais aberto naquele momento.
— Agora? — Perguntei e ela assentiu.
A mesma se levantou da cama e se espreguiçou, com os seus braços sobre a cabeça, ela soltou um longo suspiro e colocou os braços para baixo rapidamente.
— Cuidado para não deixar o Felipe nervoso. — Havia ironia em sua voz.
— Relaxa, ele é bom no que faz. — Retruquei, piscando meu olho esquerdo e gargalhamos alto.
Ela saiu do meu quarto, deixando a porta aberta como de costume. Com uma disposição que jamais tive em uma manhã ensolarada me levantei apressadamente para fechar.
Olhei em volta do meu quarto e algo me chamou a minha atenção. Minha penteadeira estava bagunçada, com certeza a Clara mexeu ontem a noite e esqueceu de arrumá-la. Pelo meu habito vicioso de organização, fiquei incomoda com o aspecto que estava e fui arrumar, organizei separadamente cada detalhe, separando os brincos dos colares e os perfumes da maquiagem.
Abri a gaveta para esconder o colar que eu tinha ganhado de aniversário e dei de cara a caixinha de lembranças feita somente pra minha filha, apenas uma vez por ano abro e deposito toda a minha angustia, mas algo mais forte que eu mandava abri-la. Coloquei em cima da penteadeira e a-encarei atentamente.
Repentinamente meu celular começou a tocar e eu demorei para raciocinar, coloquei a caixa de lembranças de volta a gaveta. Pedi mentalmente para aos Anjos da guarda, proteger a minha filha, eu tinha a certeza que aonde ela estivesse nesse exato momento, ela estava sendo amparada.
Precisava assimilar, deixei meu celular tocar mais uma vez e fui busca-lo em cima da cama.
Inicio da Ligação.
— Bom dia princesa. — Eu poderia escutar a sua voz durante o dia todo e todas as vezes que ele estivesse emitindo algum som meu coração acelerava freneticamente.
— Boa tarde, né. — Acompanhar o seu tom de voz era impossível, uma vez que meu coração ainda acelerava e me fazia com o quê perdesse um pouco do raciocino.
— Dormir até demais. — Ele riu. — Daqui a uma hora passo na sua casa para irmos.
— Ok. Eu te amo.
Fim da ligação.
Eu poderia não ter desligado a ligação para ouvir a sua resposta, mas não era necessário. Sua voz me atinge, me fazendo lembrar que eu não precisava ficar angustiada, ele era a minha luz do fim do túnel, o meu ponto de paz. O que sinto é misterioso, inexplicável, avassalador e passa por cima de tudo e de todas as coisas.
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Chora Menina
RomanceEla uma menina cheia de sonhos que teve sua adolescência interrompida por um abuso sexual. Ele um menino comum. Ela cresceu e se tornou uma mulher infeliz. Ele cresceu e se tornou um homem comum, com pensamento comum. Ela luta dia após dia para esqu...