Como eu amava esse lugar, cada m² da areia, o cheiro do mar, o modo que a brisa e o vento batia nos meus cabelos. E eu sou tão infiel a ele, só vinha aqui nos meus momentos de apreensão em busca de uma solução. Eu andava na areia da praia com poucos centímetros de distancia do mar, as ondas se desmanchavam em meus pés e eu queria me afogar e não podia.
Eu estava nervosa, a qualquer momento a responsável do recanto iria me ligar com alguma noticia da minha filha, seja ela boa ou ruim. E mais uma vez eu estava com medo e principalmente de receber a noticia sozinha. Mas um lado meu compreendia tudo o que estava acontecendo comigo, afinal a luta era só minha e no final a honra de tudo será exclusivamente minha. Esse lado era o que me fazia a não sentir raiva dos meus amigos, da minha irmã e talvez do Felipe, por me deixarem sozinha nessa procura.
Deveria ser mais fácil, menos complexo, mas novamente uma parte de mim compreendia que nada relacionado a mim é fácil ou menos complexo, então não tinha razão para dessa vez ser diferente.
Eu já sentia a brisa gelada em meu rosto, entrelacei minhas mãos na tentativa falha de me esquentar e meu corpo se arrepiou da cabeça aos pés. Logo corri até o calçadão e minha respiração ficou mais pesada que o normal. Coloquei as minhas mãos no meu joelho para descansar e minha visão começou a ficar borrada, como se fosse uma TV chiando.
— Você está bem?
Escutei uma voz desconhecida de longe. Eu não abri a boca com medo que todo o ar que estava dentro do meu corpo fosse embora, então balancei a minha cabeça negativamente e senti esse alguém me puxando de forma grosseira. Eu não relutei, deixei que ele me levasse.
— Já pode abrir os olhos. — Uma voz masculina sugeriu. — Uma água por favor.
Abrir meus olhos lentamente e eu ainda sentia meu coração bater forte. Olhei ao redor e eu estava sentada num quiosque a beira mar.
— Toma. — Ele me entregou a garrafa d'água e tirou o casaco preto de seu corpo para me dá. — Acho que isso vai te ajudar, mas se preferir posso e levar numa urgência.
— Não. — Respondi apressada. — Estou bem, acho que foi uma queda de pressão.
Lhe encarei e o seu rosto não era desconhecido para mim, fiquei lhe analisando como se fosse possível fazer uma copia e a medida que eu lhe olhava ele ia sorrindo de forma galanteador, arrumando o seu cabelo e jogado um olhar sedutor e eu gargalhei.
— lembra de mim Dr. Carla? — Permaneci calada e ele continuou. — Se não fosse o seu marido chato tenho certeza que você iria dormir pensando em mim. — Seu tom convencido e ao mesmo tempo brincalhão me fiz rir novamente.
— Sou o Arthur, nem mandei flores para lhe agradecer, obrigada por ter salvado o meu relacionamento com a minha filha.
— Você era familiar. — Sorrir. — E não agradeça por isso, fico muito feliz por vocês.
— E tem certeza que você está bem? —Novamente ele me perguntou.
— Agora sim. — Assenti. — Foi só uma queda de pressão.
— Não. — Ele fez um movimento estranho com as mãos. — Eu estava te observando de longe, você andava de um lado para o outro sem parar, eu estava vendo a hora de você entrar no mar e se afogar de proposito, o que te aprisiona?
— Por quê eu te contaria?
— Talvez porque eu sou a única pessoa que vai te ouvir agora, caso o chato do seu marido não chegue. — Ele falou sério e eu rir discretamente.
Quem me dera o Felipe ser meu marido.
E quem me dera o Felipe chegar.
— É uma longa história e impossível de ser contada assim.
— Tem haver com a sua filha? — Ele perguntou curioso.
— Eu preciso ir embora. — Me levantei rapidamente e fiquei sem saber o que fazer, coloquei a mão no bolso e lhe entreguei dez reais. — Pela água e obrigada.
— Não precisa. — Ele também se levantou. — Deixa eu te levar em casa.
— Eu pego um taxi. — Acenei. — Obrigada.
— Mas você estava mal há minutos atrás. — Ele protestou.
— É, porém já estou bem, obrigada novamente. — Sorrir e acenei para ele e o-deixei falando sozinho.
Andei um pouco e dessa vez calmamente. Droga, esbravejei mentalmente, o seu casaco preto tinha ficado comigo, olhei para trás e ele já não estava mais lá. Meu corpo estava quentinho e eu sentia que isso ia me ajudando a recuperar as minhas forças, fui ao ponto de taxi e não demorou muito até eu pegar um.
Encostei minha cabeça no vidro do carro e as coisas iam passando rapidamente. Eu não conhecia o Arthur totalmente, mas eu sabia que eu poderia confiar nele, uma parte de mim dizia isso e a outra afirmava que essa luta é minha, só minha. E então obedeci o lado que me pareceu mais justo comigo e com ele.
Eu estava rindo descontroladamente e o taxista me olhou pelo retrovisor e logo parei. Abaixei a minha cabeça envergonhada e continuei pensando na maravilhosa ideia do Felipe ser meu marido. Nunca vou descartar a ideia de entrar na igreja de véu e grinalda. Só eu sei o quanto eu sonho com isso e as circunstâncias faz com que isso fique ainda mais longe.
— Está estregue. — O motorista brincou ao parar em frente da minha casa.
— Obrigada.
Desci do carro com cuidado e estranhei o fato de todas as luzes da casa estarem acessas, uma vez que aos poucos a Clara estava se mudando de casa. Uma parte de mim ficava extremamente feliz e já a outra fica completamente triste. Abri lentamente a porta da sala e tive a maior surpresa.
— Que bagunça! — Exclamei.
A minha sala estava completamente bagunçada, cheio de caixas de presentes e malas espalhadas em volta do sofá. A Jessica estava sentada no sofá mexendo em seu celular e só depois de longos segundos ela notou a minha presença.
— Ca. — Ela sorriu mostrando os seus dentes. — Estou de volta.
A Jessica abriu os seus braços e eu fui em sua direção para lhe abraçar.
— Por incrível que pareça eu senti a sua falta. — Rimos baixinho.
— Todos sentem a minha presença. — Ela me respondeu toda presunçosa. — Já eu não senti saudades de ninguém.
Ela olhou para mim e piscou seu olho esquerdo e eu balancei minha cabeça negativamente.
— E como foi lá? — Perguntei curiosa.
— Foi maravilhoso. — Seus olhos brilharam. — Foi um dos melhores desfiles da minha vida, foi surreal. Trouxe esses presentes pra você.
— Isso tudo? — Perguntei olhando em volta a sala.
— Sim. — Ela sorriu. — Passei três semanas em NY então todas novidades de lá estão com você em primeira mão.
— Uau. — Eu sorrir. — Obrigada.
— As novidades continuam as mesma?
Assenti positivamente e nos encaramos. Novamente ela me abraçou e as duas partes de mim ficaram extremamente feliz e por incrível que pareça me senti mais segura.
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Chora Menina
RomanceEla uma menina cheia de sonhos que teve sua adolescência interrompida por um abuso sexual. Ele um menino comum. Ela cresceu e se tornou uma mulher infeliz. Ele cresceu e se tornou um homem comum, com pensamento comum. Ela luta dia após dia para esqu...