Bônus III: Felipe Drummond.

346 47 10
                                    

Inicio da Ligação.

— Tem que haver uma explicação, Arthur. Isso é impossível, você só pode está de brincadeira.

Eu continuava perplexo com cada informação que ele me dizia.

— Não costumo brincar com coisas sérias. — Ele respondeu áspero. — E se você não contar a Carla agora eu largo tudo aqui e vou dizer pessoalmente a ela.

— Eu preciso, preciso pen..sar. — Gaguejei.

Eu já não podia controlar as minhas emoções, repetir as palavras e gaguejar eram os primeiros sinais que provavam que eu estava com nervoso.

— Não tem o que pensar, Felipe. — Ele respondeu rápido e eu permaneci calado. — Vou te passar o endereço por mensagem.

Fim da Ligação.

Desliguei a ligação de proposito ao senti que eu dividiria o mesmo ambiente que a Carla em poucos segundos. Continuei de costas para ela, girando o meu celular com as minhas mãos.

— O que você tem que pensar? — A sua voz doce e serena me fez ficar ainda mais tenso.

Cada som que saia da sua boca era como se fosse um convite para continuar virado para ela, girei o celular com mais força e só sosseguei quando ele escapou das minhas mãos e caiu no chão.

— Felipe, você está bem?

Senti sua mão gelada em minhas costas e ainda assim continuei parado, em um movimento surpresa ela me abraça por trás encostando a sua cabeça nas minhas costas. Eu não fiz exatamente nada, minhas mãos permaneceram soltas no ar e a única coisa que mudou foi a minha respiração descontrolada. Sua mão direita foi até o meu coração apertando firme e ouvimos as batidas dele.

— Droga! — Esbravejei mentalmente.

Fechei minhas mãos e meus olhos fortemente na tentativa de conseguir forças para lhe encarar. É infantil da minha parte, mas me imaginei como um super-herói e só assim eu conseguir me virar para ela.

Seus olhos estavam nos meus, seu sorriso estava mais aberto do que nunca havia esperança em cada desenho dos seus lábios. Nunca me senti tão vulnerável e impotente como agora, eu sentia meu sangue ferve correndo pelas minhas artérias. Estávamos tão juntos que qualquer passo que eu desse seria infalso. Então lhe abracei com todas as minhas forças, lhe preparando para o pior, colocando toda a minha energia e força nela. Talvez por não está entendendo ela não correspondeu o abraço, apenas murmurou algo. Eu desejava que todas as sensações boas do mundo fossem passadas para ela.

Eramos o encaixe perfeito, eu alto, ela pequena. Dava certo. Sua cabeça estava no meu peito e como ela me disse uma vez: Não existe lugar mais seguro do mundo para mim do que os seus braços. Lembrando-me disso lhe abracei com mais força, como se nada ali pudesse nos ameaçar ou atingir. Ela ia se soltando de mim com dificuldade e quando ela finalmente conseguiu respirou aliviada.

— O que aconteceu? Você está estranho demais e está me deixando preocupada.

Passei minhas mãos quentes em seu rosto e segurei no seu maxilar para lhe render.

— Você tem a mim. — Minha voz saiu tremula e ela assentiu. — Eu te amo tanto, Carla, que se eu pudesse eu sacrificaria a minha vida pela presença da sua filha. — Engoli seco.

Eu estava sendo sincero em cada palavra que eu dizia. Senti meu rosto queimar e quando eu me dei por mim eu estava chorando. De repente a sua pupila se dilatou e seus olhos ficaram pretos. Nossa conexão era tão forte que ela já tinha entendido tudo. Em um movimento rápido ela me abraçou e dessa vez quem se surpreendeu foi eu e só escutava o som dos nossos choros.

— Quando finalmente o juiz aceitou o caso da guarda compartilhada, se foi levar a intimação pro endereço dado pelo recanto à intimação voltou, não reside mais ninguém lá. — Disse exatamente o que o Arthur tinha me dito. — E pra complicar ainda mais as coisas a Estrela não foi registrada quando saiu de lá, há oito anos esses processos não eram tão rigorosos como hoje, a única coisa que tem lá são os seus documentos autorizando a adoção e documentos da mulher que adotou.

Ela afundou o seu rosto em meu peito, chorando alto. Ela batia suas mãos em meus ombros à medida que o choro ia ficando ainda mais forte.

— Pelo amor de Deus Felipe, onde está essa mulher? — Ela me perguntou quase sem voz.

Era doloroso para mim vê-la assim nesse estado, meu rosto estava quente, as minhas lagrimas escorriam ainda mais com o som do seu choro. Fechei meus olhos pedindo aos céus que amenizassem a dor dela, pedi que todo o seu sofrimento fosse transferido para mim. Minhas mãos foram em seus ombros e eu lhe afastei de mim.

Seu rosto estava vermelho, sua boca tremia sem parar, as lagrimas caiam cada vez mais, quando nosso olhar se cruzou ela uivou e ai foi o estopim, aos poucos ela ia caindo ao chão e eu lhe acompanhei em cada movimento.

— Ela entrou em óbito há sete anos.

Em cada palavra que saia da minha boca o seu rosto mudava de expressão. Então fechei meus olhos, eu não estava aguentando vê-la sofrer e não poder fazer nada para amenizar, respirei fundo e quando eu abrir meus olhos ela disparou uma nova pergunta.

— E cadê a minha filha. — Ela perguntou em meio ao choro angustiante.

— Ninguém sabe. — Falei entre os soluços do meu choro. — A Estrela entrou para uma lista de desaparecidos, mas calma. — Respirei fundo para poder continuar. — Você mesmo diz que não devemos perder as esperanças.

— Está doendo tanto. — Para o meu desespero ela gritou.

Sua mão foi ao seu coração e ela tentou arranca-lo de alguma maneira. Logo segurei o seu rosto e lhe encarei de forma tão profunda que deu para enxergar a sua alma.

— Eu sei. — Sussurrei. — Você ainda vai encontrar a sua filha.

Ela respirou profundamente tentando puxar todo ar quente do ambiente como se fosse para lhe manter estável.

— Eu não aguento mais. — Ela admitiu entre o choro. — Eu não tenho mais força pra lidar com tudo isso. Eu não tenho nada dela, nada, nada, nada. — Seu choro era desesperador, ela gemia enquanto tentava continuar a falar. — Felipe.. Estou desistindo do meu maior sonho. — Ela uivou. — Apenas o que me liga a minha filha agora é o céu, só o céu.

Eu queria contestar a sua decisão, mas respeitei. Só ela sabe a proporção da sua dor e por ama-la tanto eu permaneci calado mesmo passando mil coisas em minha mente, mil coisas para tentar faze-la mudar de ideia, mas apenas lhe abracei profundamente e ela apoiou sua cabeça em meu ombro. Acariciei seus cabelos lentamente e à medida que os minutos iam se passando a energia do lugar ficava mais tranquila.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu prometo.

E ficamos assim durante o resto do dia e da noite achando um consolo que pudesse amenizar toda essa dor. 

Chora MeninaOnde histórias criam vida. Descubra agora