Especial: Maria José.

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Dedico esse especial à Maria José;

Aprendi que não devemos fazer planos, pois a vida/destino se encarrega disso, você não está entendendo o porque desse especial, na verdade nem eu ainda estou acreditando. Sexta-feira dia (16/10/2015) o dia nasceu silencioso, resolvi não ir à faculdade, algo me dizia para não ir e só fui entender ás 10 da manhã, quando meu telefone tocou e recebi a notícia que Deus escolheu levar a minha guerreira.

Foram 4 meses de luta e nenhum desses dias deixei de orar por ela, isso é o que me conforta eu fiz a minha parte. E estou aqui criando esse especial que sai totalmente do roteiro da história, mas é a única forma que eu encontrei para expressar o que eu estava e estou sentindo.

Pra você, Maria, pra todas as Marias que se foram no dia 16/10/2015 e que não deixaram de lutar em nenhum momento enquanto tinham vida.

Da tua sobrinha, C. Patrícia (eu) a você (uma das melhores Tias que Deus me deu a honra de ter).

Luto - 16/10/2015

Flashback 05/02/2007

Casa da Tia Claudia – Rio de Janeiro, Brasil.

— Você não vai falar nada? — A Tia Claudia perguntou deitando na cama junto a mim.

— É o pior pesadelo da minha vida.

Eu não tinha palavras para expressar o que eu estava sentindo. Finalmente eu entendi minhas últimas atitude das últimas semanas eu estava gravida e isso é um pesadelo. Aquele teto de gesso branco que eu fitava só me fazia me sentir ainda mais vazia, apenas pronta para esperar a morte ali mesmo deitada.

Só vinha uma frase em minha mente " gravida aos dezesseis anos e fruto de um estupro " e a voz que me dizia isso acompanhava uma expressão penosa, essa frase fazia sentir o peso dessa atitude irracional o que só colocava a minha gravidez um aspecto ruim. Eu estava feliz no meu intimo, bem no intimo, afinal sempre foi o meu sonho, mas entre um momento e outro me lembrava de sentir tristeza, era um fruto de um ato ruim, não tinha nada de esperançoso.

— Tudo na vida tem algo positivo. — Ela conseguia falar com um sorriso no rosto.

— Só existe desgraça. — Ao contrario dela eu não conseguia sorrir.

— Eu estava aqui pensando, essa gravidez é a sua chance de recomeçar, é o único ponto positivo do que aconteceu com você, Ca.

Nos viramos e encaramos uma a outra no profundo dos nossos olhos.

— Não tem ponto positivo, se coloca no meu lugar. — Um nó em minha garganta se fazia presente em cada palavra que saia da minha boca.

Sua mão escorregava em minha face acompanhada de uma única lagrima.

— Meu amor, já me coloquei e por isso estou falando isso. — Seu sorriso continuava o mesmo.

Que poder ela tinha?

Como ela conseguia enxergar algo bom nisso?

— Vamos falar de coisa boa. — Tentei acompanhar o seu sorriso forçadamente.

— Filho é uma coisa boa, a melhor coisa do mundo. — Seus olhos começaram a brilhar e eu estava começando a acreditar nisso.

— Você não vai desistir, né? — Dessa vez eu rir verdadeiramente.

— De você? — Ela me encarou. — Jamais. — Sua voz saiu enfática.

Eu sabia que ela estava tão desesperada quanto eu, eu conseguia enxergar isso em seus olhos, mas por mais que estivesse sendo doloroso pra ela acreditar no que o destino reservou para mim ela nunca iria deixar transparecer, pois sua missão era e é me proteger, me fazer feliz e me trazer calma como ninguém é capaz de fazer.

Chora MeninaOnde histórias criam vida. Descubra agora