— Ca, abre aqui. — Escutei gritos finos vindo do lado de fora de casa.
Eu conheceria essa voz soprano mesmo que eu estivesse dividindo o mesmo espaço com milhares de pessoas. Um sorriso involuntário se fez presente em meus lábios, desci as escadas correndo para logo chegar à porta e a cada vez que eu me aproximava seus gritos continuam mais intensos.
Eu abrir a porta, ela sorriu ao me ver e eu percebi que seus olhos estavam vermelhos, apenas retribuir com um abraço. Caminhos até a sala de estar ainda abraçadas e só nos desgrudamos quando cada uma sentou em um sofá diferente.
— Clara, aconteceu algo? — Perguntei preocupada.
— Nada.
Ela passou suas mãos em seu rosto deixando-as e sua respiração continuava ofegante.
— Vai me dizer que estava com saudades de mim. — Tentei brincar.
— Acertou. — Ela tirou suas mãos do seu rosto e forçou um sorriso. — É sério, eu sinto falta de conviver com você, vida de quase casada eu não recomendo para ninguém.
— O que o Júnior aprontou dessa vez? — Balancei a minha cabeça negativamente.
Fui até o seu encontro e dividirmos o mesmo sofá. Encaramos-nos e percebi o seu olhar diferente como jamais fez, mesmo com as nossas diferenças ela foi tão desarmada que eu consegui enxergar até a sua alma.
— Nada. — Ela sorriu. — Mas eu recomendo pra você é a sua cara.
— Eu sei. — Abaixei a minha cabeça envergonhada e sorrir. — Finalmente o que houve?
— Nada. — Ela respondeu rápido, como se já estivesse ensaiado essa resposta.
— Ok, vou ficar aqui ao seu lado até você me dizer.
Eu a conhecia tão bem que suas respostas prontas sempre escondiam o seu choro. Então ela apoiou a sua cabeça em meu ombro e entrelaçamos as nossas mãos, ficamos em silêncio durante longos minutos e só se escutava ela tentando controlar a sua respiração.
— Estou começando a ficar preocupada. — Disse séria.
Em um ato gentil ela acariciou a minha mão com o seu polegar e aos poucos ela ia se juntando a mim para ficar mais confortável para ela e quando percebi ela já estava deitada em meu colo encolhida como uma criança e meus dedos se invadiram nos seus cabelos.
— Se tem uma pessoa no mundo que merece ser feliz essa pessoa é você. — Enquanto ela falava senti uma lagrima cair na minha perna.
— Você não está bem. — Disse enquanto colocava a minha mão em seu pescoço para medir a sua temperatura.
— Não estou mesmo. — Ela confessou baixinho.
— Preciso que você me conte, preciso te ajudar é angustiante te vê assim. — Disse apressada.
Ela se levantou limpando o seu rosto, saindo do meu colo e pegou uma bolsa no chão que ela trouxe. Ela revirou a sua bolsa amarela e tirou dois envelopes. Ela se agachou ficando na altura do meu joelho e escondeu seu rosto. Suas mãos estavam tão tremulas que os envelopes chegavam a balançar.
— Desculpas, Ca. Tomei a liberdade de ler a minha e a sua carta.
De repente meu coração gelou e agradeci mentalmente por já está sentada. Em um ato instantâneo peguei os envelopes de sua mão e logo procurei pelo o meu.
Senti um calafrio e por um minuto perdi os meus sentidos ao ler para Carla. Eu sabia do que se tratava.
"A felicidade mora ao lado e você sempre fez jus a isso, depois de tanto tempo as lembranças vem à tona e pedi para a sua mãe lhe entregar essa carta. Não sei como está sua vida, como você a leva, quem você se tornou, mas peço que você volte mesmo que seja apenas uma vez para que eu possa me explicar, porém até esse dia chegar vou adiantando as coisas por aqui.
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Chora Menina
Storie d'amoreEla uma menina cheia de sonhos que teve sua adolescência interrompida por um abuso sexual. Ele um menino comum. Ela cresceu e se tornou uma mulher infeliz. Ele cresceu e se tornou um homem comum, com pensamento comum. Ela luta dia após dia para esqu...