"É o momento de escrever o que eu nunca fui capaz de dizer, ainda que seja tarde. Descrever tudo o que aconteceu em uma carta que eu não vou mandar, que você não vai receber nunca, que como você mesmo faz assim que acabar de escrevê-las guarda em uma caixa de lembranças. Só dessa vez quero ser claro, seria um imbecil se não dissesse que agir errado com você. Confesso que não sei lidar com surpresas, então prefiro voltar a minha zona de conforto o ruim foi que você não veio junto comigo e admito que foi a pior coisa que fiz, não tinha lógica, nem nexo. Mas eu precisa de um tempo pra aprender a lidar com isso, porém eu descobri com o passar dos dias que não adiantou de nada, pois só vou aprender a lidar com tudo isso com você ao meu lado. Quis ser racional, mas acabei sendo como um animal que eu trato diariamente. Um tempo pra mim significou uma eternidade, os segundos se transformaram em horas sem você, como se só você me completasse. Queria poder escrever mais, porém o tempo agora é curto eu só quero que as coisas passem. Eu tenho um plano, mas não depende de mim, só de você."
Dobrei o papel o máximo que eu pude e o coloquei dentro de uma caixa rústica que não me pertencia. Li todas as cartas que estavam dentro daquela caixa e eu não conseguia mover nenhum músculo, eu continuava parado com meus olhos fixados numa caixa simples de madeira que tinha um tesouro escondido. A Carla sempre foi um poço de mistérios, desde quando eu a conheci e foi isso que me fez apaixonar por ela, cada passo que dávamos juntos eu ia descobrindo coisas novas dela e agora depois de desvendar esse novo sentimento de mãe para filha, eu tive a certeza que ela tem que fazer parte do meu novo plano.
Eu dividia a minha atenção a caixa e a ela que dormia profundamente. Eu poderia ficar olhando cada detalhe de seu rosto, por horas fixamente e eu não iria me cansar. Eu poderia deitar junto a ela e passar a tarde toda ou até mais, eu acomodaria ela em meus braços e fecharia meus olhos, não me cansaria de ficar nessa posição mesmo que com o passar das horas me incomodasse.
Era isso que eu queria, deitar junto a ela e acomodá-la em meus braços. Não sabia se eu ainda tinha esse direito, pode ser que fique invasivo, mas a vontade era mais forte que o meu bom senso. Parecia que ela estava sentindo que eu me aproximava, ela começou a se mexer na cama se descobrindo de um lençol fino, mostrando-me o seu corpo que mesmo coberto era um pecado deixar a amostra. Sua pele estava gelada eu passei meus dedos em seus braços e ela permaneceu dormindo, cada toque meu fazia com que todos os pelos do seu corpo se arrepiassem. Seu cheiro era como um combustível para mim, puxei todo o ar e senti aquele perfume cítrico em minhas narinas, como eu estava com saudade de sentir esse cheiro em todas as minhas camisas. Depois de longos minutos lhe admirando, por fim deitei ao seu lado, lhe acomodando em meu peito.
Ela continuava dormindo profundamente caso ao contrario ela seria a primeira a se levantar dali, mas mesmo dormindo ela se encaixou em mim de um jeito difícil de explicar, ela organizava o seu corpo de forma que todas as suas partes se encostassem nas minhas. Passei o meu braço em baixo da sua nuca, no vão exato da curvinha do seu pescoço e a outra fechei em cima do seu busto. É quase uma chave de braço de amor.
Coloquei minha perna pesada sob a sua, poderia soar um amor masoquista, mas eu precisava colocar a minha perna esmagando a dela. Dei bobeira e ela trançou seu pé nos meus, meu pé que perto do dela fica tão pequeno, por entre seus calcanhares e o nosso ninho estava feito. O ar que saia de mim ia aquecendo os nossos corpos que nessa altura, já não sabe mais o que é frio.
Cada centímetro do seu corpo venera cada centímetro do meu. Dali, friagem nenhum se aproxima e aí eu tenho a certeza que naquele momento a energia que borbulhava dos nossos corpos colados nada mais é do que o amor transbordando.
Me esforço para continuar acordado, sentindo cada segundo daquilo que me completa e me faz bem. É como celular na tomada recarregando a bateria.
— Droga! — Esbravejei mentalmente. — Não se mexe. — A bateria não estava com a carga completa.
Eu precisava de mais, de muito mais. Ficar assim nessa posição quem sabe durante um mês para recupera o tempo perdido.
Só bastou ela abrir seus olhos e logo o ninho dos nossos pés se desfez. Em frações de segundos sua respiração ficou ofegante e ela se sentou na cama rapidamente se afastando de mim. Seus olhos me encararam assustados e logo a tensão do seu olhar se desmanchou.
— Eu não queria te acordar. — Eu disse sincero e sem jeito.
— Nunca mais faça isso. — Suas mãos foram até o seu coração, talvez pra se certificar que está tudo bem. — Eu não aguento outro susto. — Sua respiração continuava ofegante.
— Eu sei. — Seu olhar me deixava nervoso. — Não era a minha intenção.
Eu estava completamente tenso, meu corpo que antes estava relaxado, agora parecia que eu tinha enfrentado outra briga. Sua mão veio até o meu rosto e dessa vez quem se assustou foi eu.
— Você se machucou demais. — Ela analisava o meu rosto detalhadamente.
— Não mais que você. — Abaixei minha cabeça envergonhado. — Me desculpas. — Ergui minha cabeça e lhe encarei. — Foi tudo minha culpa.
Pior que uma resposta é não ouvir nada. Um silêncio se fez presente naquele quarto e do nada ela encarou um vazio e seus olhos lagrimejaram para perto de transbordar ela os fechou.
— Eu preciso cuidar de você novamente, na verdade se a gente se esforçar vamos ficar bem, depende de nós, de nós dois e isso sim não vai ser fácil, já que agora envolve uma terceira pessoa vai da trabalho, mas eu gosto e quero isso, por você sou capaz de tudo. — Mesmo não tendo a atenção de seus olhos continuei falando. — Acredite eu já consigo amar uma pessoa que eu nunca vi, você é tão apaixonada por ela que me deixou tão apaixonado quanto, foi questão de segundos, através de oito cartas. É louco. — Eu rir baixinho. — Eu sei, também não sei explicar, só sei que depois disso eu te amo ainda mais.
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Chora Menina
Любовные романыEla uma menina cheia de sonhos que teve sua adolescência interrompida por um abuso sexual. Ele um menino comum. Ela cresceu e se tornou uma mulher infeliz. Ele cresceu e se tornou um homem comum, com pensamento comum. Ela luta dia após dia para esqu...