42 Capítulo - Pedras.

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— Nem tudo é como planejamos. — O Felipe tentava me confortar pela milésima vez. — Ca. — Ele usou um tom calmo ao me chamar. — Você deve aprender a lidar quando as coisas saem do seu controle.

— Disse quem largou tudo quando não soube lidar com essas coisas. — Ironizei.

Sua expressão de poucos amigos agora tinha ficado mais evidente, seus ombros não estavam nada relaxados e isso só confirmava o quanto ele tinha ficado irritado com o que eu tinha acabado de falar.

— São coisas completamente diferentes. — Sua voz agora era áspera. — Eu fui pego de surpresa e você..

Não o deixei terminar de falar e logo lhe interrompi.

— Eu preciso de pessoas que tenham fé para ficar ao meu lado. — Usei o mesmo tom de voz dele. — Eu não preciso do seu conforto, eu só quero que tudo se resolvam.

Diferente dele eu estava decepcionada e com razão, as coisas não estavam saindo como eu tinha planejado e infelizmente eu não estava pronta pra encarar essas novas pedras no caminho.

— Vou fingir que não ouvir isso, Carla. — O Felipe falou bravo me tirando dos meus pensamentos. — Eu acredito tanto quanto você, mas acontece que eu vejo as coisas pela lógica e é isso que estou tentando te explicar.

— Acredita tanto quanto eu? — Eu rir debochada. — Há minutos atrás você me disse que se — Enfatizei. — Eu consegui ter a minha filha será pela metade, para de se contradizer.

— Qual juiz em sã consciência vai dá a guarda definitiva de uma criança para a mulher que lhe abandonou. — Ele falou essas palavras duras olhando em meus olhos e eu os senti marejarem.

— Não fala mais nada, por favor. — Eu pedi. — Você não está ao meu lado como você diz, vai embora.

— Eu sou a única pessoa que está ao seu lado, eu sou a única pessoa que realmente se importa com você só pelo fato de ter falado isso. — Seus olhos continuavam nos meus. — Você já parou para pensar o motivo deles não serem tão presentes em relação a isso? Simplesmente eles não querem te decepcionar, não querem te magoar, não querem falar a verdade a você.

— Eu preferia que você agisse como eles. — Disse sussurrando. — Eu quero sentir raiva de você e não consigo.

— Não quero que a sua dor no futuro seja maior. — Não saiu nenhum som da sua boca, apenas li seus lábios vermelhos.

Fui invadida pelo seu abraço e era tão confortante que acalmava meu coração gritante. Dessa vez eu não chorei, engoli o meu choro e me consolei ali mesmo. Seus dedos entrelaçaram em meus cabelos, fechei os meus olhos para sentir ainda mais o seu carinho. Sua outra mão quente passava pelo meu braço descendo por eles de uma forma tão gostosa e carinhosa que uma parte de mim ansiava por mais sensações como essas.

Era uma luta constante entre ficar assim com ele e me soltar do seu abraço. Suspirei ao senti seus lábios quentes em minha testa e à medida que ele tocava em mim meu corpo tremia por inteiro, se antes era uma luta me desprender dele, agora eu já não conseguia. Era como se o seu toque equilibrasse as minhas emoções e os meus pensamentos que nesse momento estavam a mil.

Nossas testas se encostaram e ele respirou fundo, seus dedos foram ao meu rosto e ele acariciou lentamente.

— Você acha que eu nunca vou ver a minha filha?

— Eu não disse isso. — Seus olhos continuavam nos meus. — Eu só quero que você entenda que existe a possibilidade de você não ficar com ela.

— Isso é injusto. — Sussurrei baixinho.

— Também será injusto com a sua filha e principalmente com a família que lhe adotou. — Ele disse firme.

— Você acha que devo desistir? — Perguntei com medo da sua resposta.

— Não. — Suspirei aliviada. — Acho que você deve rever seus conceitos e não agir por impulso, a sua vontade de ter a sua filha é tão grande que você acaba perdendo a noção das coisas.

— É tudo tão confuso..

— O caminho que você está levando esse processo, faz com o que nada fique ao seu favor, por isso que o juiz não aceitou o pedido de antecipação. — Ele se mantinha calmo controlando a sua respiração.

— O que eu devo fazer?

Compartilhar, aquilo que era seu e já foi dado.

Sua testa ainda permanecia na minha e seus olhos fixamente nos meus. Ele tinha razão, eu sorrir em resposta e ele acompanhou o meu sorriso. Fechei meus olhos e imaginei o ritmo dos nossos corpos ao som de Pra Você Guardei O amor. Um passo pra lá, outro acolá, uma hora para a direita outrora para a esquerda. Meu pé em cima do seu pé e o som da desculpa sussurrada. A nossa valsa, sua mão na minha cintura, minha mão nas suas costas. A brincadeira de cantar com a minha mão. A respiração ofegante, o coração pedindo algo a mais e os olhares cruzados. Depois de longos segundos abri meus olhos e sua testa ainda permanecia junto a minha eu gargalhei e ele sorriu de lado sem entender.

Chora MeninaOnde histórias criam vida. Descubra agora