Capítulo 91

143 14 4
                                    

Depois de ficar alguns segundos encarando a porta, eu resolvi que o melhor a se fazer era enfrentar logo. Bea me segurou pelo braço e franziu a testa, ela parecia preocupada comigo e ao mesmo tempo ela também estava preocupada com si mesma.

- Quer que eu vá com você? Posso falar com o Nathan depois. - ela forçou um sorriso sem mostrar os dentes, balancei a cabeça - Você vai ficar bem?

- Vou, e se eu não ficar uma hora passa. Vai lá... - fiz o mesmo sorriso.

- É, e se vocês precisarem de algo eu estou aqui. - Paulo abriu seu lindo sorriso gentilmente.

- Valeu. - dissessemos juntas, ele riu.

- Vou lá, beijos. Boa sorte. - ela sorriu desta vez por inteiro e saiu do quarto.

Fiquei encarando Paulo, tentando arrumar coragem para fazer alguma coisa que eu nem mesmo sabia. Até que ele veio até mim, colocou as mãos em meus ombros e me sacudiu como se eu fosse uma criança fazendo pirraça ou alguém que estava prestes à desmaiar.

- Ei, o quê você ainda está fazendo aqui? - ele disse - Vai logo falar com ele!

Eu sorri e ele fez o mesmo. O olhar encorajador de Paulo valia muito mais do que qualquer coisa que ele pudesse dizer. Ele era incrível, uma pessoa incrível. E aí, segui até o quarto. A porta estava aberta, então entrei sem bater. O quarto era luxuoso como todo o resto do hotel, a cama ainda estava bagunçada e eu fiquei parada com uma bolsa na mão bem ao lado da porta, encostada na parede do quarto esperando que ele aparecesse por ali. Até que ele saiu do banheiro, com uma toalha amarrada na cintura e outra secando o cabelo, parecia não ter notado a minha presença, caminhou até o criado-mudo ao lado da cama e colocou a mão no celular. Só então olhou para o lado e pareceu assustado em me ver.

- Ah, você está aí. Dez em ponto... - ele suspirou - Parabéns, pelo menos não se atrasou. - ele caminhou até o guarda-roupas e começou a separar algumas peças e jogar na cama.

- Você vai sair? - questionei.

- Vou. Sabe, eu me importo com as pessoas, procuro elas. - ele nem se quer desviou seu olhar para mim.

- Olha, eu vim aqui pra gente conversar não pra gente bri... Que droga Caíque! - suspirei e coloquei a mão na cabeça.

- Droga? Que droga o quê? Você some, com o meu filho e acha que tem o direito de reclamar de alguma coisa? - ele caminhou até a mim e parou bem na minha frente - Tem noção do que eu passei? De como eu me senti? - à essa altura meus olhos já estavam marejados, eu me sentia quente, estava prestes à chorar, ele colocou uma das mãos em meu rosto e me acariciou - Não chora, por favor, sabe como eu fico... - ele me puxou pela cintura e me beijou.

Oh como eu senti falta disso... Mas ao mesmo tempo eu sentia nojo dele. Nojo por ele ter transado com a Mira e ter engravidado ela, nojo por ele ter me traído, nojo por ele ser cínico, nojo por ele não ter me dito a verdade. Eu acho que isso deveria ser a primeira coisa que ele teria de ter me dito. Assim como na vez em que Igor me beijou no shopping, na minha primeira oportunidade contei tudo à ele sem pensar duas vezes. Em um impulso, empurrei ele e lhe dei um tapa na cara.

- Porque você fez isso? - disse enquanto já começava à chorar.

- Fiz o quê? Você que me bateu! - ele já estava vermelho de raiva.

- A Samira, Caíque! Você acha mesmo que eu não sei, seu idiota? - minha voz já começava à falhar.

- O quê você sabe? O quê tem a Samira? - ele estava confuso.

- Ela tá grávida de você! - acabei gritando.

Caíque estava chocado. Ele foi andando de costas e se sentou na ponta da cama.

- Isso não é possível! - o olhar dele parecia perdido no chão do quarto.

- Claro que é, Caíque. Não mente pra mim. - comecei a limpar do rosto as lágrimas que haviam escorrido.

- Não, amor, não é possível. Eu e ela nunca transamos! Eu não acredito que ela te disse isso. - ele me olhou nos olhos afirmando cada letra.

- Tem certeza disso? - ele assentiu - E porque eu não consigo acreditar?

- Porque você tem motivos para achar que é verdade. Olha, a gente ficou uma vez, e transamos um pouco, mas eu não consegui. Passamos a noite juntos mas não rolou mais nada porque eu só pensava em você. Eu tava conseguindo fazer isso contigo. Foi na hora da raiva, eu nem sei o porque. Só... Rolou. - ele continuou sentado me olhando, pelo menos ele tinha me dito a verdade - Agora você acredita em mim?

- Você já sabia? - ele assentiu. - Quando foi que ela te disse isso?

- No dia em que eu te disse que ia na casa de um amigo, quando contamos para a sua mãe. Eu não acreditei nela, pensei que fosse só para me prender.

- Eu sabia que tinha algo ali! Mas que burra eu fui... E que burra eu sou!

- Não amor, você não é burra. Você confiou em mim. - ele se levantou novamente e se pôs na minha frente.

- Realmente, acreditei e confiei em você. Mas que belo amigo em hein Caíque! - cruzei os braços e o encarei. - Eu aqui, carregando os seus filhos e você mentindo para mim.

- Espera, "meus filhos"? - ele parecia confuso.

- É, são trigêmeos. - Ele então abriu um enorme sorriso de ponta à ponta e me abraçou.

- Isso é sério? - ele me soltou, assenti - Foi por isso que você sumiu? - assenti - Porque? Isso é uma notícia incrível.

- Eu pensei que iria bagunçar a sua vida e você não fosse gostar.

- Você já bagunçou a minha vida quando você apareceu naquele meet, e eu amei. Mais uma baguncinha, ou melhor, três, só vai me deixar ainda mais louco por você. Sua boba! - ele de novo acariciou o meu rosto sorrindo e me abraçou.

- Desculpa.

- Você é quem tem que me desculpar, por ter te tratado daquele jeito. Por não ter largado tudo e ido atrás de você e por tantas outras coisas que eu te fi...

Eu o interrompi com um beijo, e eu acho que foi o melhor que já tivemos em todo o tempo em que ficamos juntos. Afinal, nada além importava, nem o que era importante.



9 capítulos para o fim da temporada...

Em breve: 31 - O Quê Realmente Importava

31Onde histórias criam vida. Descubra agora