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Acordei e me arrumei rápido, a umas semanas atrás eu me demiti da agência e estou cursando faculdade de veterinária, peguei minhas coisas e fui para o carro indo direto para a faculdade. As aulas passaram normal como sempre, a aula estava incrivelmente chata peguei meu celular e fui abrir meu facebook, assim que atualizei a página inicial lá estava a notícia pra acabar com todo meu humor "E agora somos dois, três e quatro, família aumentando", eu sei se passaram dois anos desde que tudo aconteceu mas não era tão fácil encarar esse fato de frente, eu havia superado a separação mas não havia esquecido Vitor para sempre.

Sai da faculdade e entrei num daqueles bares da cidade, desses que já na entrada o cheiro de bebida te enjoa e te provoca a ânsia de vômito, o tempo estava nublado e eu estava longe de casa, entrei e sentei numa mesa vazia, um grupo de garotos universitários conversavam sobre as vantagens e desvantagens de ser vegetariano bem do meu lado, outro grupo de meninas universitárias me observou entrar enquanto escaneavam minha roupa e minha alma, a televisão estava ligada no mudo em algum programa de relacionamento que eu não soube e nem quis identificar, a garçonete chega para anotar meu pedido e pergunta o que eu vou querer, eu peço uma cerveja e começa a chover, a chuva caiu de uma vez e bem forte, dessa vez ela nem deu um aviso prévio de que iria vir.

xxx: Qual cerveja a senhorita r vai querer? -- perguntou
Luna: Pode ser qualquer uma -- sorri

Ela me trouxe o copo e dei um gole considerável, fiquei olhando a chuva pelo vidro daquele bar a chuva me lembrava o Vitor, a cerveja também, não importa qual fosse, era assim que ele gostava, qualquer uma desde que fosse cerveja. Quando a chuva parou eu já tinha tomado mais copos de cerveja do que eu poderia para me manter sóbria, os universitários continuavam conversando sobre um assunto chato, levantei e deixei o dinheiro da conta sobre a mesa, antes de sair observei que a garçonete tinha acabado de trocar aquele programa de auditório por um show da Cássia Eller, saí do bar e observei a rua eu sempre gostei do jeito que as ruas ficavam depois da chuva, me lembrava Vitor, ele amava o cheiro do asfalto molhado, no caminho até o carro eu passei em frente a uma boate o que me fez lembrar o quanto nos divertimos saindo juntos, imaginei que você talvez quando estivesse lá no baile, lembrava de mim, parei na frente da boate e lembrei de você, Será que pensa em mim? Não, Luna. Ele pensa não, pessoas livres tem amnésia, eu que vai ter sempre essa mania de lembrar de tudo fora que agora ele está muito feliz com a nova mulher e filhos. Quando eu tinha 6 anos imaginei minha vida aos 20 anos já com meu grande amor e que seria meu para sempre e nada iria nos separar, que tapa do destino e da realidade que eu ganhei.

Entrei no carro e liguei para a Ashley, estava com saudades, coloquei no viva voz do carro e liguei o mesmo, dirigia ao mesmo tempo que contava a Ashley o que tinha acabado de descobrir eu chorava e batia no volante e chorava mais, minha amiga tentava me acalmar do outro lado da linha e falhou em todas as tentativas, senti meu corpo leve e um forte barulho invadiu meus ouvidos, olhei ao redor e me vi presa nas ferragens, Ashley gritava ainda pelo viva voz que não foi danificado eu estava de cabeça para baixo, minha voz saiu falha e ela não pode ouvir eu não conseguia me mexer e tudo que ela me pediu era para me manter acordada eu permaneci, até agora, presa nas ferragens com Ashley falando sem parar, as chamas do carro a chuva que voltou fez o favor de apagar, não vi ninguém ao meu redor que tentava se comunicar comigo e muito menos gasto minhas cordas vocais clamando por ajuda, eu estava escutando e consciente mas meus olhos pesavam e eu não consegui abri-los, ouvia buzinas irritantes em meu ouvido e pessoas tentando se comunicar comigo, uma mão macia e delicada tocou em meu meu braço que estava para fora da janela as mãos tremiam e sua voz doce me passava agonia e preocupação, ainda podia ouvir Ashley pela chamada do telefone, ela continuava gritando desesperadamente "AMIGA! Você está bem?" Eu tentava responder aquelas perguntas desesperadas de Ashley mas era impossível, "Gente essa é Luna McArcalod, aquela modelo brasileira" alguém gritou e pude notar um certo tumulto que gerou um falatório insuportável, tentava gritar para pararem pois minha cabeça doía, mas só saiu um barulho indecifrável, a aglomeração á minha volta me deixava sufocada e mais nervosa, eu desejava que aquilo acabasse depressa, flash eram capturados através dos meus olhos fechados, a ambulância chegou e um médico me interrogou antes de me tirarem daquela situação e eu respondia apenas tentando mexer a cabeça, o que também era difícil em meio as ferragens daquele carro.

Fui levada ao hospital e fui internada, medicada e fiz alguns exames e depois de sentir uma forte dor na cabeça eu apaguei.

Me vejo deitada em meu quarto, olho no relógio e marcam 3 da manhã minha mãe está acordada agora, ela nunca está acordada a essa hora, ela se senta em minha cama e me abraça chorando com a cabeça em meu peito entre soluços consegue dizer nada "eu te amo" eu a abraço o mais forte possível ouço a voz do meu pai da porta que diz "filha, vamos sair daqui" minha mãe chora ainda mais e meu pai lança seu melhor sorriso para me acalmar, minha mãe me solta e meu pai me abraça me fazendo levantar nesse momento ouço vozes dizendo "Você tem que voltar" "Aqui não é o seu lugar" "Cuida da sua irmã" e minha visão se embaça tornando tudo preto e sombrio.

Sol de LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora