Capítulo TRINTA E SETE

364 17 2
                                    

•Por Juliana

Graças a Deus o Rod resolveu me ouvir. Conversamos sobre o relacionamento da sua mãe e ele concordou em pensar.

—Agora você precisa me explicar uma coisa... Que história é esse de você ter um irmão? Você nunca me contou sobre isso. Sempre falava que era filho único.

—Vish, história longa. —ele se levantou da cama.

—Ah mas pode ir contando, temos muito tempo.

—Sério mesmo que você quer saber?!

—Sim. Eu sou sua esposa e tenho o direito de saber.

—apelou.

—Apelei nada. Vai escovar seus dentes e quando voltar quero saber da história direitinho.

Ele foi até o banheiro, escovou os dentes e voltou para o quarto sem sua camisa. O Deus, porque que ele fazia aquilo?!

—Então... To esperando uma explicação. —falei.

—Tá bom. Mas eu já aviso que a história é longa.

—A noite também, relaxa. Vai, fala.

—Bom, o Ricardinho é meu irmão mais novo, porém ele é meu irmão só por parte de pai. —ele começou.

—Ué, se ele é só seu irmão por parte de pai, porque sua mãe apresenta ele como filho?—o interrompi.

—Se você me deixar terminar de contar vai saber. —virei os olhos e ele continuou. —Tudo começou quando minha mãe descobriu que o meu pai tinha um filho fora do casamento. Ela descobriu durante o velório dele, pois a minha avó, a qual já sabia dessa história, resolveu contar à minha mãe. Claro que ela ficou muito arrasada com a notícia. Nunca pensou que meu pai um dia chegaria a trai-la. Só que quem vê cara, não vê coração né. Enfim... Quando eu tinha treze pra catorze anos, nós descobrimos que a mãe do filho do meu pai havia morrido. O Ricardinho estava órfão e se negava a ir pra um orfanato. Minha mãe, com o coração enorme que tem, resolveu adota-lo. No início reprovei a ideia da minha mãe, mas depois acabei me acostumando. E de lá pra cá, ele já é aceito como da família realmente.

—Caramba... A sua mãe é realmente uma guerreira. Mesmo com tantos problemas na vida dela e não só dela, mas também com a responsabilidade de cuidar da sua, adotou o filho que era da amante do seu pai. Caraca.

—Pois é... Pra você ver o tamanho do coração e da doideira dela.

—Tá, mas e como que ele foi parar na cadeira de rodas?

—Eu não gosto muito de falar disso porque é algo muito complicado, mas...

—Se não quiser falar, não precisa Rod. —o interrompi.

—Mas tá de boa. —ele completou. —É bom que você saiba um pouquinho da minha história familiar. —sorri, ele me sorriu de volta e continuou. —Bom, eu e o Ricardinho temos apenas dois anos de diferença, e crescemos fazendo tudo junto. Criamos uma parceria muito grande, uma cumplicidade que eu nunca imaginaria que algum dia iria ter. Os anos foram se passando, até que eu completei dezoito anos e já trabalhava pra poder ajudar em casa. Ganhava pouco, mas ajudava. Até que no meu aniversário a minha mãe me deu de presente às aulas de direção. Eu nem acreditava que iria tirar minha tão sonhada carta. Um tempo depois ganhei uma moto de um dos meus tios, o qual foi a minha salvação. Como eu trabalhava na capital e morava no interior de Santa Catarina, tinha que pegar uns dois ônibus pra chegar no trabalho, e estava me dando muito prejuízo. Então aquela moto veio na hora certa. Até aquele momento estava tudo certo, porém os dezoito anos do Ricardinho estavam chegando e ele ficou enchendo a paciência da minha mãe pra ela dar a carta de presente pra ele também. Ele era apaixonado em motos, então era o que ele mais queria. Falou com a minha mãe, minha avó, meus tios e nenhum deles quis dar. Até que ele veio até mim e pediu, pediu, pediu, encheu o meu saco de uma forma que eu não aguentei e dei essa maldita carta que ele tanto queria. Ele fez as aulas e até então estava tudo bem. Tirou a carta, mas não usava porque eu saia de manhã e voltava só a noite, então ele nem pegava na moto. No ano seguinte, eu recebi uma proposta de emprego aqui no Rio e pelo salário ser melhor, eu decidi aceitar. Lá eu trabalhava, mas mesmo assim vivia às custas da minha mãe, e eu não queria isso. Não queria dar mais trabalho pra ela. Dai eu resolvi me mudar pra cá, só que eu não poderia trazer a moto, porque o apartamento que eu aluguei não tinha vaga no estacionamento. Aquilo foi a brecha pro Ricardinho encher o meu saco novamente pra eu deixar e dar a moto pra ele, e eu, como um irmão muito bobo, deixei e dei a ele. Aquilo foi a pior decisão que eu poderia ter tomado na vida. —ele deu uma pausa, abaixou cabeça e depois de um tempo voltou a falar. —Duas semana depois que eu havia vindo embora, eu recebi a notícia de que o Ricardo tinha sofrido um acidente. Ele estava andando de moto na cidade, não prestou atenção no trânsito e deu de frente com um caminhão na avenida.

—Meu Deus...

—Eu corri pra Santa Cataria, perdi meu emprego por ter deixado toda a agência e ido atrás do meu irmão, e quando chegamos lá descobrimos que ele estava tetraplégico. Ele ficou em coma por uma semana e quando acordou, acordou transbordando de raiva. Falava que a culpa daquele acidente era minha e que se eu não tivesse dado a moto pra ele, nada disso tinha acontecido. Depois que ele recebeu alta não queria olhar na minha cara. Todas as vezes que eu ia visitar a minha família durante o ano, ele não estava em casa. Ia pra casa da namorada e lá ficava até eu ir embora. Voltei pro Rio, consegui um emprego bem melhor, que era onde eu estava, e praticamente todo o meu salário iria para o tratamento dele. Ele nunca soube e nem sabe que, por todos esses anos, quem paga as despesas dele sou eu. Todos os tratamentos e remédios que ele precisa. E pra mim foi uma surpresa vê-lo aqui. Ele nunca vinha pra cá, sempre ficava com a minha vó quando minha mãe vinha me visitar, e hoje apareceu aí.

—As vezes a ficha dele caiu e ele pode ter percebido que você não é o culpado de tudo que aconteceu. —falei tentando consola-lo.

—Acho difícil. De certo não deveria ter ninguém pra ficar com ele lá e minha mãe o obrigou a vir. Ele nunca viria por vontade própria.

—O tempo passou Rod, muitas coisas podem ter mudado.

—Ricardinho acho difícil. Mas enfim, já falei tudo que queria saber. Agora vamos dormir que amanhã o dia vai ser longo.
----------------------------------------------
Espero que entendam mais ou menos a história kkkk
Beijinhos

Boas MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora